- Por que você tá tão abestalhado assim?
A pergunta em tom divertido do meu irmão me faz fitá-lo, sentado do outro lado da mesa com o tampo entre nós. O garoto estava diante do seu caderno, cuja folha ostentava uma centena de números em operações que eu estava o ajudando a entender sem quebrar a minha cabeça na parede, muito menos a dele.
Eram problemas simples da quinta série; daqueles que precediam os cálculos com letras que fizeram tudo desandar. A questão era que eu sempre fui péssimo em problemas matemáticos, do tipo que costuma passar de raspão na média e já pegou recuperação umas duas vezes, o que significava que eu estava entendendo tanto quanto ele. Ou seja, um pouco menos que nada.
Mamãe estava distraída na sua tarefa de lavar os pratos próxima a nós, e nosso genitor havia ido para o trabalho.
- Não tô abestalhado. - retruquei, zero por cento disposto a admitir aquele fato óbvio. - Presta atenção nas porcentagens.
Ele ergueu a sobrancelha por trás da armação dos óculos, acreditando tanto em mim quanto faria se eu dissesse que, na verdade, era um reptiliano vindo de outro planeta com a intenção de transformar a Terra em um queijo suíço gigante.
- Fala sério, você tá cantarolando e parece que tá viajando na maionese. Tá na cara que se apaixonou por alguém. Me conta quem é? - Suas orbes azuladas cintilaram em expectativa na minha direção.
- Não conto, não conto e não conto. E não insiste, seu pestinha. - Soprei um riso.
Seus lábios se apertaram em um bico de protesto.
- Ah, por favor. Eu não vou contar para ninguém! - insistiu.
Naquele momento, senti as íris de nossa mãe irradiarem fervor sobre mim, e um olhar rápido para ela confirmou que, de fato, estava nos fitando com um pequeno sorriso.
- Como é o nome dela, meu bem? - quis saber, o tom solene repleto de curiosidade.
Engoli o seco, imerso em uma dúvida brutal entre dizer a verdade ou inventar uma mentira mais amena. Meu coração começou a ribombar com força contra o esterno, irradiando fios de gelo que se enredaram na minha carne, congelando-me no lugar.
- É Luccas. - As palavras fluíram, e, logo que abandonaram minha boca, uma onda de alívio preencheu minhas células em um efeito dominó de frescor.
Rose soltou um murmúrio de surpresa, que precedeu alguns segundos de um silêncio feito de chumbo diante da incerteza de qual seria a sua reação.
- Oh... - sussurrou, ainda parecendo perdida com a informação. - E quando você... vai trazer ele aqui?
Não contive o sorriso que se esticou nas minhas bochechas, permeado de uma alegria quase palpável.
- Muito em breve.
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Você é a Mosca Na Minha Sopa | ⚣
Ficção AdolescenteOliver e Luccas são inimigos declarados desde os quatro anos. Ou, pelo menos, eram, antes de Oliver ir embora para outra cidade perto do final das suas infâncias; pois quando o garoto ressurge, mais de seis anos depois, dentro de um par de calças r...