No final das contas, eu e Oliver montamos uma estratégia muitíssimo simples, cujo ponto principal era convidar Amélia para ir ao museu da cidade - lugar que eu e a garota mais gostávamos de ir juntos -, onde lá estaria Luís e Oliver.
Depois, colocaríamos a segunda parte do plano quase infalível em prática: Dissiparmos-nos por entre as prateleiras, para que os dois possam ficar sozinhos. Se isso, por si só, não fosse suficiente para fazê-los embarcar em uma boa conversa, acionaríamos a terceira parte: O projeto pizza.
- E o que diabos é o projeto pizza? - indaguei à Oliver, enquanto vagávamos pelas ruas da cidade sob o breu que a noite despejava em nossos poros.
Afundei as mãos nos bolsos da calça, encolhendo-me dentro do meu moletom muitíssimo quente diante do vento gelado que rodopiava contra nós.
- Não faço ideia. - O garoto riu ao meu lado. - Está em desenvolvimento. Mentes brilhantes também cansam de pensar, e eu já usei muito do meu incrível potencial cerebral. - Falseou seriedade, arrancando-me um riso.
- Como você é convencido. - brinquei, esbarrando o ombro no seu.
Ele circundou o braço no meu pescoço antes que pudesse me afastar, puxando-me para perto de si enquanto seu riso orquestrava a melhor música de todas nos meus ouvidos, preenchendo minhas veias de um manto de conforto ímpar, que me incitou a abraçar sua cintura por cima da costumeira jaqueta de jeans gasto que usava.
Algumas pessoas que passavam ao longo da calçada nos observaram com olhares curiosos, outros estreitos em estranheza. Mas isso não foi suficiente para que eu desejasse romper o fio invisível que me enlaçava à Oliver.
- As pessoas estão olhando a gente. - sussurrei em seu ouvido, pendendo de leve o rosto para fitá-lo.
Suas orbes caíram nas minhas.
- Deixe que olhem. Não estamos cometendo nenhum crime. - Sorriu. - Se a coisa desandar, a gente corre. Ou grita.
- É estranho saber que alguns precisam gritar para serem ouvidos. - Minhas palavras saíram baixas, em meio aos pensamentos que escorriam pela minha cabeça.
- Não fica triste com isso, leãozinho. - Oliver pediu, parecendo um tanto aflito com sua possibilidade. - O mundo costuma ser assim com os mais extraordinários.
Não contive um sorriso, mirando suas feições cujos contornos bonitos reluziam sob os vislumbres dourados que escorriam dos postes próximos.
Tive vontade de fugir com ele naquele momento; simplesmente agarrar sua mão e correr sem rumo até o mundo que conhecemos chegar ao fim, ou sermos engolidos pela lua em expansão no céu. Sabia que isso nunca se tornaria possível, mas era divertido imaginar. O mais próximo que chegaríamos de uma fuga seria, no máximo, furtar sorrateiramente o carro de um dos nossos pais na madrugada e rodar por algumas horas pela cidade.
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Você é a Mosca Na Minha Sopa | ⚣
Ficção AdolescenteOliver e Luccas são inimigos declarados desde os quatro anos. Ou, pelo menos, eram, antes de Oliver ir embora para outra cidade perto do final das suas infâncias; pois quando o garoto ressurge, mais de seis anos depois, dentro de um par de calças r...