Nascem as Chamas da rebelião.

229 11 57
                                    

A neve. Eu não percebi a neve chegando esse ano, manchando a floresta de branco, deixando tudo sem cor. Hoje nos despedimos de uma mãe, de uma mulher, de uma amiga, só o que nos restou foi a tristeza e o sofrimento, se misturando com o frio atormentador e o vento forte soprando em nossa porta, especialmente naquele dia a neve estava densa e os ventos estavam violentamente fortes, meu pai veio até mim e disse que queria me mostrar algo. Os dois pontos pequenos naquela imensidão branca começaram a se afundar na neve, subindo a colina mais alta, ao pisar no chão, seus pés afundavam mas logo o vento apagavam seus rastros.

-Onde estamos indo?
-Quieto!

"Meu pai não era de falar muito, na verdade eu sempre fui mais próximo da minha mãe, agora que ela se foi eu me sinto sozinho e assustado, eu nunca consigo entender o que meu pai pensa, muito menos o que ele sente, mesmo estando tão quebrados hoje, meu pai não demonstrou tristeza alguma"

-Está... Difícil de respirar...
-Cubra seu rosto com os panos, ou seu pulmão vai congelar.

"Minha mãe faz falta, eu sabia tudo sobre ela, adorava escutar sobre suas aventuras quando jovem, antes de conhecer meu pai e de eles se isolarem aqui, já o passado do meu pai é totalmente em branco, a única coisa que eu sei é que ele era um soldado, e que se conheceram na loja de alimentos que minha mãe trabalhava, ela disse que ele sempre comprava a mesma coisa, dez maçãs e cinco pães"

-Onde estamos indo?
-Estamos perto!

O pai do garoto era alto, suas costas eram a única coisa que o menino conseguia enxergar naquela tempestade de neve, ele o seguia sem hesitar, mas aos poucos suas forças foram se esvaindo e seu corpo encontrou o solo, o pai rapidamente o pegou em seu colo e o carregou monte a dentro, até chegarem em uma caverna profunda, onde ele deitou o corpo do menino e o cobriu com seu casaco. Aquele homem já não sentia mais frio, sua pele era tão densa quanto a neve daquele dia, seus músculos eram como ferro, seu coração era forte como um cavalo de guerra, mas naquele dia, por mais que não transparecesse, seu coração estava partido e sua alma estava vazia, ele adentrou a floresta carregando consigo um machado, ele foi buscar madeira para ascender uma fogueira, ele caminhou por algum tempo sem qualquer rumo perdido em pensamentos, até que deu de cara com um árvore branca, com galhos altos, ele chegou perto e estendeu a mão, acariciando a árvore gentilmente.

-Eu não sei fazer isso, não sem você...

Ele ergueu o machado e começou a cortar a árvore, a cada corte ele batia com mais força, cravando a espeça lâmina de metal na madeira soltando um barulho alto, ele na verdade estava buscando consolo na raiva, e então com um golpe de fúria, a árvore caiu ao solo. O homem respirou fundo, ele teria que, de agora em diante, seguir suprimindo seus sentimentos, sua dor, sua angústia, e o seu medo, a única maneira que ele encontrou de suportar tudo aquilo, foi seguir com ódio em seu coração, um remorso profundo sobre aqueles que tiraram tudo dele. Ele caminhou de volta para a caverna com o tronco da árvore em seus ombros, a ventania coberta de neve batia em seu rosto com força, ele atravessava aquela muralha de neve pairando no ar com ousadia, em nenhum momento sequer ele duvidou do caminho que ele seguia, ele sabia de alguma forma como voltar para seu filho, mesmo com a neve quase que tampando sua visão, de alguma maneira ele conseguia sentir seu filho à distância, como que uma conexão invisível. Ao chegar lá ele cortou o tronco em pedaços menores e ascendeu uma fogueira colidindo duas pedras que encontrou no interior da caverna. Depois de alguns minutos em frente a fogueira ele decidiu acordar o garoto que se encontrava dormindo. O som de sua voz estrondou como um trovão rasgando o céu a noite.

-Levante!

Ao não obter resposta vindo de seu filho ele optou por um tom mais agressivo.

-Levante, Jhon!

Linhagem De Fogo [+18] (REPAGINANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora