Capítulo Um.

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— E então, o que vai querer? — O meu avental estava com uma mancha bastante visível pelo molho de Taco.

Era um casal que estava na mesa que na qual atendia. Um homem do chapéu vermelho e, em sua frente, uma mulher que aparentava ser mais velha que ele com um vestido azul.

— Um taco com o seu melhor molho, por favor.  — A mulher falou enquanto analisava o cardápio.  — E eu quero o seu melhor vinho.

— Certo. — Anoto na pequena cardeneta que carregava junto comigo. Viro-me de encontro com o homem em minha frente que, por sinal, não questionou nada. — E você, o que vai querer?

— Ele é mudo, minha querida. — A mulher falou.

— A-ah, d-desculpe. — Olho para o lado e retiro a folha que escrevi o pedido. — Qualquer dúvida me chame, o seu pedido está para sair...

Virei minhas costas rapidamente e fui em direção a cozinha. Fred, o irmão da minha amiga que sempre dava em cima de mim, estava apoiado na bancada de madeira em minha frente.

— Sabia que você fica linda com esse avental e...

— Cala boca, Fred. — Reviro meus olhos. — Eu não quero nada com você, me deixa em paz.

— Ô mano, entendeu a mina né? — A Roberta entrara para dentro da cozinha. Seus fios ruivos estavam presos em um coque despojado, seu rímel estava borrado enquanto sua boca carnuda estava com um tom avermelhado.

Roberta era uma versão completamente diferente de mim, digamos. A mesma não era discreta, usava as roupas que faziam com que o seu corpo ficasse muito mais valorizado, seus cabelos sempre estavam em um penteado diferente e a sua maquiagem que, para mim, é um pouco dark para um ambiente de trabalho.

— Temos uma social hoje, gatinha. — A mesma se dirige à mim. — No Palla's. Dez horas da noite.

— Faz um tempo que não vou no Palla's... — O que era a verdade, a última vez que fui para o Palla's foi quando tinha acabado de chegar ao México.

— Exatamente. — Roberta diz se dirigindo para um dos balcões para se apoiar, igual ao irmão. — A última vez que você foi lá foi quando...

— Estava solteirona e triste. — Fred falou logo em seguida os dois começaram a rir.

— Buá, buá, buá... — As mãos de Roberta se aproximam de seu rosto parecendo que estava limpando algumas lágrimas.

— Ahhh, chega disso! — Começo a rir mas, para ser sincera, isso não tinha nenhuma graça.

O pedido do tacos do casal da mulher com o vestido e o homem mudo acabara de sair, sem me hesitar peguei a bandeija e me aproximei da mesma dos dois.

— Bom apetite! — Coloquei o prato em cima da mesa e virei minhas costas.

Meu turno já estava acabando. Tudo o que eu mais precisava era de um bom banho, um cigarro e uma bela garrafa de Uísque.

Não foi muito difícil de achar alguma carona fácil para voltar pra casa já que, Fred havia um carro e não era complicado convencer o mesmo para me levar.

— Obrigada, Fred. — O mesmo não exitou para me dar um beijo antes de sair do carro.

A casa estava em silêncio, como sempre. Mamãe estava viajando para algum lugar com o novo marido dela. É, marido. Por mais que eu pense que minha querida mãe não tenha esquecido o meu pai, a mesma nega relatando que conheceu uma nova pessoa.

Ela não o ama, tenho certeza. Amar é difícil demais para sentir de um dia para o outro já que, se fosse dessa forma, eu teria amado diversas pessoas depois de Erick.

Erick não saía da minha mente.

O velho Borboun estava com o mesmo gosto de sempre. Poderia chamar Roberta para cá, mas não estava com vontade de ter que ouvir um de seus discursos de "viva a sua vida, garota."

Escuto um estouro vindo do quintal daqui de casa, não foi de assustar já que o meu vizinho super gostoso sempre faz isso. É, o cara é um homem sexy mesmo quando ele não tenta ser. Temos um caso, digo, nada muito sério.

Não demorou muito para que ele aparecesse em minha frente com uma calça de moletom e seu chinelo de dedo. Estava sem camisa, seu físico não era igual de Erick mas...dava pro gasto.

— Oi. — Ele olhara para a garrafa de Borboun que estava em minhas mãos. — É feio demais uma garota beber sozinha, sabia?

Levanto-me. Ele era um pouco mais alto do que eu, suas mãos estavam segurando um cigarro que fiz questão de tirar-lo.

— Gostei, gata. — Ele bate em minha bunda, o que me fez gemer um pouco.

— Ainda bem que chegou. — Coloco o cigarro em minha boca. — Estava tudo tão deprimente aqui, você não tem ideia e...

— Você parece estar triste. — O mesmo joga-se ao sofá com a garrafa em suas mãos. — E tenho certeza que o motivo de estar triste não é pelo Borboun estar acabando...

— Ai, seu otário!! — Pulo em cima dele pegando a garrafa. — Preciso tomar o resto.

— Você tomou praticamente toda a garrafa, sua cachaceira! — O mesmo diz, não demorou muito para que eu ouvisse a sua risada e, logo em seguida, a minha.

— Ahhh, vai. Me deixa sofrer aqui em paz, caramba. — Acabo com o restinho da bebida que estava na garrafa. — Pronto!

— Se sente bem? — O mesmo me encara com uma expressão de "é óbvio que não".

— É óbvio que n... — Sem me deixar terminar, o mesmo se apróxima de mim fazendo cócegas em minha barriga. — Ahhh,para!!

— Não vou parar até você admitir que...

— O próximo Borboun é seu, cachaceiro de merda. — Começo a rir novamente e logo em seguida Lucca, meu vizinho.

— Sabia que te acho super atraente com sua cara amassada? — Seus dedos vão em direção ao meu cabelo que estava todo despojado no sofá.

— Ah, para com isso. Você diz isso para todas. — Dou um meio-sorriso e o mesmo sorriu.

— Para todas que acho linda.

Ocorreu um silêncio constrangeador ali. Lucca e eu somos bem próximos, ele sempre tenta me ajudar já que a minha mãe é bastante ausente. O mesmo já me ajudou em diversas coisas, digo, quando tenho que pagar alguma conta e estou sem o meu cartão de ônibus, Lucca não hesita de me levar.

A vida aqui no México é completamente diferente da vida em que eu tinha nos Estados Unidos. Se eu voltar no tempo e alguém me falar que em um futuro próximo iria voltar correndo para a casa da minha mãe, que a minha pessoa iria deixar esse seu jeito "atrapalhado" de ser para se tornar uma verdadeira mulher organizada...eu não acreditaria. Meus amigos do México são totalmente diferentes dos que eu tinha como "amigos" na onde morava, digo, são todos com o seu jeito de ser completamente diferente dos outros.

— Esquece ele. — Lucca falou fazendo com que o silêncio daquele ambiente se quebrasse, todos os meus pensamentos foram revertidos por outros. Eu não esperava que ele falasse aquilo.

Segurei a sua mão e apertei a mesma. Ele queria o meu bem mas, o meu bem estava muito longe daqui.

— Só se você me der outra garrafa de Borboun e...

— Nada disso!! — Ele, por sua vez, me beijou.

Sua boca estava com gosto de menta e tudo o que eu mais queria nesse exato momento era que ele fosse embora da minha cara.

— Para.

Foi então que o mesmo parou de me beijar e olhou bem no fundo dos meus olhos tentando achar alguma desculpa de "me beija logo, porra". Ele se levantou e logo em seguida, eu.

— M-me desculpe... — Minha voz saiu mais baixa que o normal. — Sério, me perdoa e...

— Quando você estiver disposta à esquecer ele Bárbara, você me liga.

Lucca saiu da minha casa batendo à porta com a maior força. Estava sem ninguém para poder me animar naquele momento, sem cachaça e o mais importante, sem o Erick.

Bárbara || Segunda temporada.Onde histórias criam vida. Descubra agora