Diles • taekook

Prólogo

       E Deus disse: Primeiro, venderás seus sapatos mais amados. Então, tuas vestes favoritas e terminarás em um veículo, com um computador de segunda mão em direção à um bairro sem classe.

Isso não é, de fato, o apocalipse bíblico. Estas palavras não significam que este é seu momento de ser arrebatado, caro leitor, mas de fato, significa que você não é rico.

Para Jeon Jungkook, pobreza e condenação eterna eram semelhantes.

— Lá tem energia elétrica? — Seokjin soltou, tombando a cabeça para o lado, curioso. Seu rosto sempre lembrava um daqueles cachorrinhos burros e Jungkook sempre lembrava ao melhor amigo que ele era, de fato, um cachorro burro.

Cachorro, porque ele adorava namorar.

Burro, porque não dava pra dizer que ele era um intelectual.

— É há quarenta minutos de Downtown L.A, Quindinzinho — A Sra. Jeon disse calmamente, chamando-o pelo apelido que vingara quando ele ainda era uma criança e sorriu enquanto se virava para olhá-lo no banco de trás. Deixou os olhos caírem então no filho único, acomodado e encolhido no canto direito, sem sequer olhar pela janela: — Não é o fim do mundo, filho.

— Não podíamos ter mudado pra um bairro mais próximo? Tipo Beverly Hills ou sei lá, pro centro? — Jungkook perguntou, com o rosto se pintando de vermelho e os olhos marejando enquanto encarava a própria mãe.

Sabia que ela também não gostara da ideia no primeiro momento e estava se esforçando para manter a imagem de mulher calma, embora não houvesse mais nenhuma de suas amigas da alta classe para observá-la.

— É muito caro viver nesses bairros. É por algum tempo, ok, filho? Enquanto os bens do seu pai estiverem retidos no banco, precisamos segurar as pontas — Ela explicou, mesmo que ele já tivesse ouvido aquilo milhares de vezes no último mês.

— É meu último ano. Como vou me preparar pra faculdade estudando numa escola... — Ele fez uma careta e cuspiu a última palavra: — pública?

— Do mesmo jeito que tem feito antes, meu amor. Estudando. Você é muito inteligente e se precisar, posso olhar nas nossas economias para tentar pagar um professor particular, mas você é ótimo! Aposto que vai se dar bem com as outras crianças... — E então, virou-se para frente, com a expressão se desfazendo.

Jeon Mina deixou os olhos caírem no marido e o viu a olhar pelo canto dos olhos, apertando os lábios em descrença.

Jungkook não ia se dar bem com ninguém. Nem era inteligente.

Jeon Minsuk costumava ser o grande acionista de uma companhia petrolífera internacional; isso lhe permitira ao longo dos últimos vinte anos ter uma vida confortável. Deixara a Coréia ainda quando jovem adulto com a esposa; compara uma mansão em Bel Air e levara o filho para a Disney com um ano de idade. Kim Kardashian em pessoa tinha ido ao aniversário de quinze anos de Jungkook!

Até o FBI bater em sua porta; investigando a origem de sua fortuna milionária e como ela poderia estar supostamente ligada à um desvio de verbas que culminara em um rombo colossal nos cofres da Indong Energy.

Agora, todos os seus bens estavam retidos no banco; incluindo as contas de sua esposa e filho, sua casa e, por pouco, ele não saíra sem o carro e as cuecas.

Jungkook agarrou o celular, olhando para a tela tristemente, assistindo Kendall Jenner fazer um delineado com atenção sobre sua pálpebra: — Você viu a nova paleta de bases dela? — Seokjin perguntou, curiosamente, apoiando a cabeça no ombro do amigo — Que tal se a gente for comprar semana que vem, quando lançar?