Parte IV

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Parte IV

O frio penetra meus ossos, de repente estou tremendo. As lágrimas escorrem, grossas, quentes e molhadas, cortam meu rosto como a faca corta o pão — rápida, com maestria; uma atividade rotineira. O fogo me consome, as chamas comendo meu interior. Sufoco em meu cobertor, mas o calor não vem.

Anakin rasga o tecido que compõe meu vestido, suas mãos são rápidas e certeiras, com fúria ele me desdobra e com raiva ele me beija. Seu ódio me consome, suas chamas me incendeiam por todo o corpo. Meus ossos estão sendo corroídos pelos sentimentos conflitantes que ele emana.

Há tanto ódio dentro dele que me pergunto como pode me amar. E a pergunta me assusta, me assusta porque tenho medo de descobrir a resposta. Cada segundo é como uma tortura.

Seus olhos amarelados como duas pedras de topázio são desconcertantes e, receio amá-los ainda mais do que amo a infinidade e a pureza presente nas íris azuis. E por um segundo, somente por um segundo, considero aceitar a proposta que sei que ronda seus pensamentos sujos; a proposta de ocupar o outro lado de seu trono. Como duas cartas de tarô, o Imperador e a Imperatriz.

Anakin estende a mão para mim, eu coloco a minha sobre a dele. Um beijo cálido é depositado sobre meus dedos. Como um anjo, ele sussurra:

— Vossa Majestade...

Anakin é a Estrela da Manhã¹.

Eu me odeio e me afogo em meu próprio pecado. Quando as mãos dele estão em minha nuca e ele me olha com devoção, eu tenho certeza. Certeza que o amo independentemente do que ele fizer. E isso me destrói.

Inutilmente, tento recobrar a consciência. Imploro para que ele não faça isso, para que ele volte pra mim.

— Vamos para casa, Anakin...

Mas o poder o embriaga e para sua ressaca não posso conceder aspirina.

— Eu tenho tudo sob controle — ele afirma.

Mas estamos pisando sobre cacos e dançando sobre os destroços. Quando ele pega meu rosto, sinto suas mãos limpas sujas de sangue inocente. Quando ele me beija e me ama, sinto a impressão do último suspiro de alguém. Como posso amá-lo? Sou tão cruel quanto ele. 



Estou revirando a cama vazia, sentindo sua falta. A tensão está aumentando por todos os lados — a República está prestes a ruir e este é um fato incontestável. Os Jedis estão preocupados com o futuro e o rumo com o qual as coisas estão tomando e, pelo que Anakin vem comentando precariamente, sei que ele não está feliz com a posição que a Ordem está seguindo. 

Suspiro. Minhas mãos bagunçam meus cachos desalinhados. Sem pensar muito, estou me esgueirando pela cama de casal, tentando alcançar o objeto que escondo abaixo do móvel. Com facilidade, apanho. Seu peso é um pouco maior do que eu esperava. Recordo-me de quando Anakin me ofereceu.


Preciso que aceite isso — Sua voz era tensa e eu podia notar uma linha de expressão em sua testa.

Nada característico.

— Anakin, eu nem mesmo sei usar um sabre, é completamente desnecessário... — O ignoro, exibindo meu melhor sorriso tranquilizador, circundando sua nuca com minhas mãos, acariciando a pele eriçada de Skywalker.

Era fácil fazê-lo ceder.

— Padmé, estou falando sério — E seu tom de voz assumiu notas mais graves, assim como ele fazia quando alguém nos notava, forçando-se a me tratar de modo estritamente profissional.

Suspirei.

— Se eu aceitar você fica feliz?

— Fico mais tranquilo.

— Tudo bem — suspirei em resposta.

Apanhei o sabre de luz.

— É por uma questão de segurança — ele se contentou em dizer.

— Pensei que somente jedis pudessem ter sabres...

— Honestamente, quebrar uma regra ou outra não vai fazer diferença...

— Construiu isso pra mim? Eu pensei que... Pensei que somente os Padawans pudessem construir seu próprio sabre... — Estava confusa quanto a origem daquilo.

— Visitei a Caverna de Cristal Ilum na minha última missão... Um pouco de domínio da Força e... — Suas palavras saíam suaves, como se ele estivesse contando um fato cotidiano.

— Anakin, não acho que isso seja certo... — Começo.

— Por favor, Padmé. — Ele não me deixa terminar.

— Tudo bem, mas sabe que nunca vou usar, não sabe? Nem mesmo tenho treinamento para isso, é completamente desnecessário... — resmungo.

— Espero que nunca precise usar... Espero mesmo.

Agora, a arma arde sobre meus dedos. Há algum tempo Anakin havia me presenteado com tal objeto que eu pensei nunca precisar. Mas os dias estão mais sombrios e cada manhã no senado parece o interlúdio de uma guerra. Toda vez que Anakin retorna para casa, suas têmporas estão pesadas e seus olhos parecem mais sombrios.

Guardo o objeto embaixo da cama, voltando a me aconchegar. Escuto o barulho da porta principal se fechando. Suspiro de alívio. Muitos minutos depois, Anakin adentra o quarto sem suas roupas de jedi, trajando somente a parte de baixo de um pijama do qual eu o convenci a comprar.

Seu aspecto é destruído. Apesar do banho quente, as olheiras estavam lá junto ao seu ar de cansaço. Ele anda devagar e se joga na cama, apenas esticando seu braço para puxar-me até ele. Acaricio os fios de seu cabelo bagunçado.

— Quero que isso acabe — Sua voz está cansada, por um fio.

Eu deposito um beijo em suas costas desnudas, me aconchegando ao lado de seu corpo deitado de bruços.

— Não posso dizer que está acabando... — sussurro em resposta.

— Eu sei... — ele diz — É só o começo na verdade...

E então a imagem volta a aparecer em minha mente. Dois tronos, duas coroas. As duas cartas de tarô; os amantes.

A Imperatriz e o Imperador. 

— Você precisar acordar!







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BOA NOITE!!!! 

Primeiro, gostaria de agradecer ao número de visualizações, votos e comentários!!!!!!!!!!! Obrigada por acompanharem Paraíso Sombrio, de verdade! Todo o carinho e apoio é importante demais p mim <3 

Esse capítulo é um pouco maior do que o cap passado e muitos detalhes desse capítulo são importantes, por favor fiquem atentos!!!!!!!!!!!!!!! 

Honestamente, sabemos que Padmé está presa em uma alternância maluca de realidades, quando será que ela sonha, imagina ou relembra? Essa é uma questão importante a se pensar....................

Até o próximo!!!!

Obrigada por lerem!!!

Bjssss


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