O que fazer em dias como este? Sinto-me inutilmente afundando na parte mais repugnante de um ser humano. Parece que hoje está toda a gente especialmente feliz e conversadora.
À pouco tempo atrás, enquanto entrava numa loja com as minhas "amigas" peculiarmente felizes reparei numa pessoa que olhava para mim (o que não é normal já que a minha figura não se destaca muito). Era alto em relação ao grupo de pessoas com que estava e tinha vestido uma camisa que ficava elegantemente larga. Não consegui tirar os olhos de tal criatura apesar de ele repentinamente ter olhado para o chão. Quando os seus belos olhos claros se voltaram a dirigir a mim, levavam consigo um pequeno sorriso tranquilizador. Tentei devolve-lo mas não consegui e ainda me fiquei a sentir pior, mais desgraçada, sem coração.
Sempre pensei que isso fosse um dos meus talentos, não ter coração mas daquele sorriso parece que os bons sentimentos guardados a sete chaves, todos eles saíram e se evidenciaram.
Sinto pena de mim mesma por saber que não vou voltar a ver aquele sorriso. Deve ser a primeira vez que simpatizo com um total desconhecido.
A minha turma de muitos alunos e só três alunas (incluindo eu) é muito aborrecida. Ou são uns verdadeiros "cromos" que só interessam mais nos jogos do que nas catástrofes do mundo em que vivem ou são uns "drogaditos" que só têm essa maneira para se afirmarem a fim de se sentirem bem com eles mesmos.
Eu enquadro-me no minoritário dos que se encontram no curso de multimédia por amor a essa área.
Quero começar a adquirir os conhecimentos necessários para poder um dia ter uma carreira estável na área de design.
Não à muito tempo, os meus colegas estavam a falar em irmos a um bar que um dos nossos professores (o meu professor preferido de todos os tempos) abriu recentemente e assim, comemorar a nossa última semana de aulas.
Nestes dois últimos anos, Fill pôs-me a estagiar na sua empresa e neste momento, não sei se irei trabalhar para lá ou continuar os meus estudos.
O avô diz que não necessito de mais estudos, só se servirem para melhorar a minha personalidade de camaleão. Jasmine, se ainda aqui estivesse não teria a mesma opinião já que graças a mim não pode dar continuidade aos seus estudos mas apesar disso sempre pareceu feliz, pelo menos até ao incidente. Ela sabia sabia sorrir,.sempre soube, mesmo sendo traída pela saúde.
Já é quase de noite e tinha combinado ir jantar com o avô e a avó a um restaurante que não tem muita a ver connosco. Apesar disso, adoro as noites com eles.
Visto mais um dos antigos vestidos de Jasmine que felizmente tinha a mesma estrutura que eu.
Apanhámos imenso trânsito e graças a isso o avô está a transbordar de raiva já que vamos chegar atrasados á marcação que ele fez com tanta antecipação.
Depois de muitos contratempos, semáforos e buzinadelas chegamos ao restaurante. É o preço a pagar por viver numa cidade tão movimentada como Dublin. Quando entramos e nos dirigimos a um chefe de cozinha, ele amavelmente disse que a nossa mesa já tinha sido ocupada devido ao nosso grande atraso.
Ao sairmos do restaurante, o avô, que demonstra as suas emoções muito excessivamente estava muito calmo (pelo menos era o que parecia).
Fomos diretos a casa mas a sua condução era muito descuidada passando 3 semáforos vermelhos e quase atropelando uma senhora que curiosamente passeava o seu cãozinho a horas não muito apropriadas para isso.
Ao sairmos da ponte Samuel Beckett, um carro da via oposta fez uma ultrapassagem sem tempo e, numa fração de segundos, só se ouviu gritos. "Robert cuidado!" A última coisa de que me lembro é do grito desamparado da avó.
Uma luz intensa acorda-me do que eu penso ter sido um pesadelo mas apercebo-me que não o foi ao ver á minha volta três pessoas: do lado esquerdo estava uma enfermeira morena de olhos claros a olhar para mim; do lado direito outra enfermeira, também morena com os dentes perfeitos a ouvir atentamente o terceiro elemento, um médico (julgo eu) de olhos claros, cabelo perfeitamente despenteado que ao ver-me acordar se calou. Sorriu-me de forma tranquilizadora... um sorriso que só o vi duas vezes na vida, uma em Jasmine e outra no meu "amigo desconhecido" e de repete dou-me conta que é ele.
Tentei novamente devolver o sorriso mas estou demasiado preocupada com os avós.
-Aonde é que eles estão?- pergunto olhando em volta a procura deles.
-Eles não estão aqui minha querida, mantenha-se calma.- diz a enfermeira 1 mostrando que também tem uns belos dentes.
-Como é que eles estão? Digam-me! Preciso de saber!- digo em total desespero. Não posso voltar a passar pela dor da perda de um ente tão querido outra vez. A dor da perda de Jasmine e dos meus outros avós (seus pais) foi avassaladora.
-Não lhe podemos dizer porque não sabemos.- diz o meu amigo desconhecido já sem o sorriso na cara de modelo- agora faça um favor a si mesma e acalme-se!
-Como é que quer que eu me acalme?- digo em vão, já que ele deu meia volta com a máxima elegância e saiu do quarto do hospital deixando a porta de vidro aberta e as duas enfermeiras tipo sozinhas comigo, bombardeando-me com perguntas.
Não consigo dormir. O grito da avó ecoa na minha cabeça e as dúvidas são muitas e nenhuma tem resposta.
Levanto-me deixando para trás a obrigação imposta pela enfermeira 2 de só me levantar para ir a casa de banho.
Saio do meu quarto e começo a vasculhar em todos os quartos que me rodeiam mas ao sair do corredor principal deparo-me com o meu amigo desconhecido. Sustento a respiração e paro mesmo na sua frente com a esperança de ficar invisível.Ele olha para mim como se olhasse para uma criança que lhe acaba de riscar o novo sofá. Cruza os braços lentamente e diz: -Não lhe disseram que não poderia sair da sua cama?
-Eu preciso de saber deles.- respondo muito baixinho, olhando para o chão.
-Vá para o seu quarto descansar e amanhã eu mesmo lhe darei notícias deles.
-Como é que quer que eu descanse? Sabe me dizer quem é o médico encarregado por o caso deles?
-Sou eu.- responde ele com um sorriso escondido nos lábios.
-Oh. Diga-me como é que eles estão por favor!- digo eu olhando para ele com os olhos cheios de lágrimas.
-Eu não lhe posso dizer. Amanhã... agora volte imediatamente para a cama e não saia de lá. Boa noite Lana.-diz ele seguindo em frente apresado olhando outra vez para os papéis que levava nas mãos.
Dirijo-me de volta para a cama já que a minha procura não teve muito sucesso.
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Lana
RandomLana é uma mulher atraiçoada pela vida que ao perder a sua família também se tenta perder, mas só perde a memória sendo amparada por Jamie, um médico fica encarregado por ela e que lhe ensina tudo, até os seus desejos mais obscuros e perversos.