Capítulo 2

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Não consegui dormir como seria de admirar. Olhei para o relógio e apercebi-me que o por do sol estaria quase a começar.

Dirigi-me para a janela para ver aquela maravilha da natureza mais perto e dei por mim a agradecer por ter ficado num quarto com uma vista tão pura e bonita.

Para meu desagrado, nem o por do sol me consegue animar. A preocupação é demasiado grande...

Sinto falta de algo mas não sei do que. Talvez de respostas mas parece ser ainda mais que isso.

Volto para a cama e olho novamente para o teto liso e branco, a minha companhia da noite inteira. Só ele sabe a minha dor e o momento de espera infernal que tenho passado.

Uma hora passada e aparece uma enfermeira no quarto para ver se estava tudo bem. Pergunto pelo meu amigo desconhecido e apercebo-me que ainda não sei o nome deste ser humano, coisa que não vai ser precisa pois ele aparece de rompante, vindo do nada. Pára a frente da cama e fica a olhar para mim enquanto a enfermeira continua o seu questionário. Ele não se encontra com o sorriso de que tanto precisava neste momento mas os seus olhos não param de me olhar.

Quando a enfermeira se ausenta, o médico chegasse mais perto de mim e eu tento compor-me naquela cama curiosamente confortável.

-Sente-se melhor Lana?- pergunta.

-Não. Preciso de saber deles para a minha disposição mudar.-digo eu sem tirar os olhos do seu belo rosto.

-Fui desaconselhado por muitos a dizê-lo mas acho que tem o direitos de saber já que são a sua única família.- diz ele enquanto eu me pergunto como é que ele saberá. Não tinha noção que os médicos tinham direito a esse tipo de informações.

-Sim é verdade. Diga-me tudo por favor.- digo já com os olhos a transborda de lágrimas.

-Evelyn teve ferimentos gravíssimos, o seu cérebro deixou de funcionar com o choque. Lamento mas a sua avó já não se encontra connosco.- ao dizer isto pousa uma mão em cima da minha. Todo o meu ser pára, toda a minha esperança desaparece. Eu já não sou mais eu, sou só um pedaço de carne molhado pelas lágrimas que me correm na cara e a medo pergunto depois de soluçar:- Como está o avô?

-Encontra-se em coma e não sei como nem quando acordara.- diz sem rodeios tirando um lenço do bolso da sua bata e limpando uma lágrima grande que corria até ao meu queixo. Depois entregou-me o lenço e eu agradeci. Ele aproxima-se mais de mim e mete um braço nas minhas costas em sinal de amparo e eu, não aguentando mais, precisando de partilhar a dor de uma vida com alguém, faço uma coisa nunca antes feita, abraço um desconhecido.

Ele fica surpreso de mais e eu diria quase desconfortável portanto eu largo-o.

-Peço desculpa.-digo olhando para as minhas mãos irrequietas pousadas no meu colo.

-Esteja a vontade Lana. Lamento imenso. Quero que fique desde já a saber que estarei aqui para o que.precisar e deixe-me dizer-lhe que é uma sortuda. Saiu deste acidente com umas nódoas negras, nada mais.- diz ele mostrando de novo o sorriso. Ao velo ainda começo a chorar mais. Ele pousa a mão nas minhas costas e diz:- Se precisar de alguma coisa chame-me de imediato.

Não olho para ele a sair, encontro-me a chorar e as lágrimas não me deixam ter uma visão limpa das coisas.

Os meus sentimentos que nunca são demonstrados, saíram para lamentar os acontecimentos atuais e passados. Não sei o que fazer. Estou sozinha e desamparada neste mundo demasiado grande para mim.

Como não desistir? Como não querer acabar com a minha vida se as únicas pessoas que me apoiam e protegem já não o podem fazer? Não tenho amparo e dou por mim a pensar no pior. Não tenho mais esperanças e todos os meus medos  estão a acontecer.

Pego no lençol e reparo que é suficientemente grosso para aguentar com o meu peso. Pego nele e saio do meu quarto descalça, desamparada, sem contexto para viver.

Com os olhos inchados e já sem mais lágrimas, dirijo-me para a casa de banho e por sorte ou azar descubro que consigo acabar com todo o sofrimento. O chuveiro consegue comigo. Faço um laço a sua volta e de seguida puxo um banco que lá se encontrava. Subo-o e faço um laço a volta do meu pescoço enquanto me despeço de todos mentalmente.

Empurrei o banco sem arrependimento até ao momento que me sinto sem ar, a sufocar, a afogar-me em seco...

LanaWhere stories live. Discover now