Capítulo 8- Tudo bem pedir ajuda

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Chloe:

   Após um mês fazendo pequenas ações no automático como comer e tomar banho, minha irmã e Ava me obrigaram a escutar um longo sermão sobre a decadência em que eu me encontrava. Já era a terceira vez nessa semana. Não é surpresa nenhuma para as duas mulheres paradas em frente à minha cama a respeito dos meus pesadelos frequentes, sendo esse o principal motivo pelo qual eu vinha retomando o uso do remédio para dormir, para ser mais específica, iniciei minha medicação um pouco depois do falecimento do meu pai, mas havia parado de tomar e, agora que estou lidando com outro luto, sinto todos aqueles sentimentos ruins voltando de novo, sentimentos esses que eu lutei tanto para superar.

"eu sou tão fraca"

   Minha irmã é completamente diferente de mim; somos extremamente opostas uma da outra. Ela nunca demonstrou estar sangrando, pelo menos não como eu. E durante esse tempo isolada no velho quarto de nossa mãe, peguei- me questionando sobre Claire; ela usa uma máscara inabalável na face para mostrar que não precisa de ajuda, mas talvez ela esteja implorando para ser socorrida tanto quanto eu. Porquê ela faz isso? Será que a culpa dela ser assim é de certa forma minha? Quer dizer, eu passei tanto tempo presa e puxando as pessoas ao meu redor para a minha bolha de dor, que eu ao menos me importei em perguntar se ela alguma vez precisou de mim da mesma forma que eu sempre precisava dela e da nossa mãe.

   Eu sei que ela ocultava e ainda oculta suas aflições para não preocupar ninguém. Desde criança, sempre fui muito transparente com meus sentimentos, já Claire, não. Enquanto eu apenas chorava por ter caído de bicicleta até minha mãe vir ao meu chamado, Claire se levantava e ia atrás da caixa de primeiros socorros para limpar o sangramento. Percebi que era muito dependente se comparada com ela– que sempre arrumava um jeito de resolver seus problemas sozinha.

   Queria dizer a ela que sentia muito por tudo. Todas as vezes em que tirei momentos dela e de nossa mãe juntas porque ela estava ocupada demais lidando comigo. E Claire ao menos reclamava. Era assim com papai também, apesar de notar desde sempre o laço mais forte que ela tinha com nossa mãe, até me questionava se elas tinham o poder de ler a mente uma da outra porque elas simplesmente se comunicavam através do olhar como se fosse a coisa mais natural do mundo. E eu já tive o que elas tinham com meu pai.

   Claire sempre esteve do meu lado sendo meu apoio quando eu ameaçava desabar, e dessa vez não era tão diferente. Ela estava parada com aquele semblante calmo e reconfortante e isso estava me irritando. Porquê isso estava me irritando? Droga, porque ela não chora na minha frente e me deixa acalmá-la da mesma maneira que ela tanto fez comigo?

Ao notar minha expressão descontente, Claire questionou:

– Há algo de errado? você ao menos está me ouvindo?

– Como eu posso estar bem se minha irmã esconde suas dores de mim, Claire? Prometemos nunca mais guardar segredos uma da outra, mas olha só 'pra você... Continua mentindo 'pra mim de novo como se não fosse nada de mais. – Disparei essas palavras contra ela, pegando-a de surpresa

– Não mude de assunto, não estamos falando de mim aqui, Chloe. Todos estamos preocupados com você. Acho que está na hora de voltar para a terapia, não acha?

– Eu sei que você está fingindo estabilidade porque você acha que têm essa obrigação como irmã mais velha, mas você não têm... Essa responsabilidade não é sua, porque você continua mentindo 'pra mim? Porquê você não pode simplesmente chorar no meu colo enquanto eu abraço você?

   Ava se retirou do quarto cautelosamente, restando somente eu e minha irmã. Continuei falando tudo o que estava entalado na garganta e no meu coração, queria que ela soubesse que eu precisava saber se ela realmente estava bem. Porém, parei assim que senti seus braços me envolverem e seus ombros tremerem. Claire estava chorando.

– Eu sinto muito, Chloe. Eu me sinto exausta de mim mesma.

– Eu quem deveria sentir muito, você carrega um peso enorme nas costas desde a morte do nosso pai, não é justo.

   Claire se acomodou em meu colo enquanto ainda chorava. Toquei em seus cabelos afastando- os do seu rosto vermelho por conta das lágrimas. finalmente ela estava se permitindo desabafar comigo.

– Obrigada por isso – Ela disse com dificuldade. – Eu precisava ouvir isso.

– Você tem razão. Acho que preciso voltar para a terapia, mas dessa vez você também irá fazer sessões semanais com a doutora, pode ser?

Fitei-a por cima.

– Tudo bem.



—X—


   Dois dias haviam se passado e Claire e eu estávamos indo para uma sessão com a minha psicóloga. Faziam meses que eu não voltava para aquele lugar tão... familiar.

   É tão estranho a sensação de estar de volta, não pelo tempo e sim pela circunstância. O cliclo de perda que me assola como se eu estivesse esperando pela minha primeira sessão, apenas torna tudo muito mais real e doloroso para mim. Claire, diferente de mim estava visivelmente aflita, ansiosa.

– Eu sei que você nunca fez isso antes, mas tenta ficar calma, respire devagar, senão teremos que ir direto para o hospital quando você infartar a qualquer momento. –  A encarei rindo.

   Mas ela não ousou retribuir o gesto, muito pelo contrário, apenas fechou ainda mais as expressões faciais virando o rosto para o lado oposto.

– Eu não sei se quero ir – Ela disse receosa.

   Tentei manter a calma e ser a mais "responsável" e respondi no mais singelo tom:

– É completamente normal se sentir assim, Claire, e 'tá tudo bem. – Segurei sua mão fazendo um leve carinho – Você não está sozinha, lembre-se disso.

– Eu sei, mas acho que não vou conseguir lidar com qualquer coisa que possa acontecer dentro daquela sala com alguém que eu nunca vi na vida.

– Ei! – Exclamei em sinal de advertência – Esse alguém é bem profissional e pode ajudar você a lidar com seus dilemas e aflições internas. Confie em mim.

   Ela abaixou o olhar envergonhada.

– Eu só irei sair desse carro quando você estiver pronta, e se não estiver tudo bem, voltamos outro dia.

   Como Claire ficou em silêncio durante alguns minutos torturantes, já estava pronta para ligar e girar a chave para sair daquele estacionamento, mas Claire segurou meu punho abruptamente.

– Eu estou pronta.

   Dei o meu sorriso mais reconfortante possível para ela, ainda estava muito nervosa em ter que voltar, porém precisava apoiar minha irmã acima de tudo, e isso de certa forma dava força para tal ato de coragem. Acho que Claire fez isso por mim a vida inteira, era no mínimo a minha obrigação retribur.

   Saímos do carro juntas, ambas com seus receios, todavia sabíamos que tínhamos uma a outra e isso nos reconfortava. Agradeci mentalmente por ter ela ao meu lado. Finalmente estávamos dando um passo importante para o nosso processo de cura, talvez levassem meses e até anos, e tudo bem porque isso não diminui quem eu sou, e eu sou muito mais do que meras cicatrizes e lutos.

   Sou alguém que ainda está tentando se encontrar e se curar. Não há nada de errado em pedir ajuda, principalmente profissional; eu não sou menos incapaz ou fraca por isso, muito pelo contrário, e eu queria verdadeiramente que minha irmã soubesse disso tanto quanto qualquer outra pessoa, tanto quanto eu.



















Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que esta obra é meramente fictícia, é apenas um projeto de fã para fã.

E gostaria de ressaltar com vocês a importância desse capítulo, porque acho necessário desenvolver as dores dos personagens, e isso inclui também a Claire. Eu acho que o próximo capítulo será mais leve, ou não.

Não se esqueçam de votar e comentar o que vocês acharam desse capítulo, é muito importante para mim, principalmente para poder continuar a fanfic.

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