A Poção Mágica (parte 5)

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  Não demorou muito para que um tumulto se formasse perto do palco. A faxineira passou correndo com o balde e o esfregão. Parecia que alguém estava vomitando perto do palco. Eu me encostei numa das paredes do ginásio e fiquei observando Rita sendo carregada pelos professores. Havia muita discussão e gesticulação de braços. Por um minuto fiquei preocupado que Jorginho fosse junto com Rita. Mas um professor o mandou ficar na festa e disse que qualquer coisa o chamava. Que não era nada demais e provavelmente mais tarde, Rita retornaria para a festa.

 Rita era carregada pelos braços. E por dentro eu dizia "Vá para o inferno, demônio!"

 Logo as pessoas esqueceram do que havia acontecido. E a festa voltou ao seu normal. O DJ ligou o microfone e a diretora parabenizou todos, desejou uma boa festa e mandou o DJ dar o play na música. Logo todos invadiram o meio do ginásio e começaram dançar e pular. E eu fiquei absurdamente apavorada com aquilo. Era muito diferente do que eu havia imaginado. Muito mais intenso. 

 As luzes se apagaram e só a iluminação de boate continuou acesa. Luzes coloridas girando para todos os lados. O som nas alturas fazendo o corpo vibrar. E os alunos dançando.

 Uma mão puxou a minha.

 - Venha! - era Jorginho. Era a mão dele puxando a minha. Meus olhos não acreditavam no que eu estava vendo. - Vamos dançar! - eu não tive nem tempo de dizer não, praticamente fui arrastada para o meio da multidão. 

 Então Jorginho ficou frente-à-frente comigo e começou a jogar o corpo, balançar os braços. Começou a dançar.

 - Vamos lá! Dance comigo! - ele gritava.

 E eu tentei. Aos poucos eu fui pegando o jeito.

 - É só me imitar! Faz assim ó! - os passos não eram tão difíceis como imaginei. - Veja só como você dança bem, Ângela! - eu estava vivendo um sonho. - Veja como é fácil!

 Então eu me larguei. Toquei o foda-se. Dancei do meu jeito torto. Desengonçado. Mas dancei. Dançamos juntos por três músicas. Jorginho estendeu suas mãos para mim e eu as peguei. Pulamos juntos ao som da música. Estávamos suados. Lavados de suor.

 - Logo os professores vão escolher quem é o casal do ano. - o DJ anunciava no microfone. - Os professores estão de olhos abertos. Então casais. Se preparem! E agora eu quero saber se tem algum formando aqui?

 Um grito uníssono encheu o ginásio. Eu e Jorginho gritamos juntos.

 De mãos dadas giramos, rebolamos, quicamos, dançamos como se fosse o último dia das nossas vidas.

 - E agora será anunciado quem é o casal, rei e rainha do baile de formatura. - Jorginho segurava a minha mão. Eu sentia o suor na palma da minha mão, sentia o calor e a maciez da sua carne. Eu não queria que esta noite acabasse nunca.

 - E ali vem a diretora com o envelope. - O DJ estava muito animado. A diretora subiu no palco pela pequena escada no canto. As luzes continuavam girando. Uma música romântica tocava no fundo.

 - Como todo ano ocorre, os professores caminharam entre vocês e votaram para escolher o rei e a rainha do baile. Como vocês sabem, é levado em conta simpatia, harmonia, carisma, energia, dança e alegria. - ela fez uma pausa dramática.

 - Eu vou aproveitar para ir no banheiro. - Minha bexiga estava apertada. - Você me espera aqui? Pode segurar um pouco minha bolsa, por favor? - Jorginho concordou e eu estendi minha bolsa para ele. Rapidamente me desloquei entre as pessoas que acompanhavam a diretora no palco. Me espremendo entre os alunos para abrir caminho até o banheiro.

 - E o rei e a rainha do baile de formatura são... - a voz da diretora ecoava pelo ginásio, saída das caixas de som. - Jorge e Ângela! - gritos explodiram. Uma luz branca foi jogada sobre mim. Todos começaram a aplaudir.

 - É você, Ângela! É você! - a professora de ciências gritava. Eu estava parada não entendendo o que estava acontecendo.

 - Parabéns, Ângela! - colegas que nunca trocavam palavras comigo me parabenizavam. - Vá até o palco. Estão esperando para te coroar. Vá, logo!

 Então eu senti mãos tocando as minhas costas. Era Jorginho. 

- Venha minha rainha! - ele estendia a mão para mim. Como eu poderia recusá-la? E então eu peguei na sua mão e fomos até o palco. 

 Caminhamos no meio da multidão. Era extremamente esquisita a sensação de ter alguém me olhando, agora ter todo mundo me olhando era demais. Geralmente todos me olhavam com nojo ou indiferença. Agora todos me olhavam com alegria, com simpatia. Eu me sentia popular.

  - E ali estão eles! - a diretora celebrava no microfone estimulando a plateia. - O rei e a rainha do baile!

 Subimos os degraus do palco. A madeira do palco no chão vibrava com o som alto das caixas. Meu corpo estava extasiado de adrenalina. O som era tão alto que meus ouvidos vibravam.

 Primeiro a diretora colocou a coroa sobre a cabeça de Jorginho. Ele era um príncipe, havia nascido para isto. Lindo, simpático, carismático. E então ela piscou para mim. Um breve sinal para eu me aproximar.

 - Como diretora eu declaro você, Ângela, rainha do baile! - eu abaixei minha cabeça e ela colocou a coroa. - a diretora afastou o microfone da sua boca. - Você mais do que ninguém merece isto, garota. Aproveite a noite. - O público batia palmas, o fotógrafo contratado pela escola tirava fotos, alunos ligavam seus celulares para fazerem lives em suas redes sociais, para registrar o momento. - E agora é a hora da dança do casal! - a diretora sorria contente com o que via.

 E parada sem saber o que fazer, Jorginho se aproximou e colocou uma mão na minha cintura e com a outra me ofereceu para que eu segurasse.

 - Preparada para a nossa dança, minha rainha? - e como em um filme eu senti. Que era por momentos como este que a vida valia a pena. 

 E então o som aumentou. E nós dançamos como um casal. Como rei e rainha. Enquanto todos abriam espaço no meio do ginásio para nós. Nos assistiam girando, embalando nossos corpos em um só.

 - Eu tenho que te contar um segredo, Ângela. - Jorginho falava no meu ouvido.

 Minha garganta ficou seca. Por alguns segundos pensei que ele iria me abandonar ali mesma. Que algo horrível iria acontecer. Um pânico tomava conta de mim.

 - Eu sempre quis ficar com você. - as palavras de Jorginho caíam como uma bomba sobre a minha cabeça.

 - Eu também. - confessei. E dançamos abraçadinhos.

SAFADÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora