Neblina

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Capítulo 2 - neblina

Acredito que passamos duas horas lendo quadrinhos e comendo biscoitos que Eliya preparou. Ela era completamente diferente de seus filhos, no quesito aparência. Suas bochechas pareciam naturalmente rosadas e cheias, apesar de não ser gorda. Seus olhos castanhos contrastavam com seus fios ruivos. Era como se ela fosse um dia ensolarado, com seu aspecto amigável e índole calorosa, e seus filhos fossem a noite fria e chuvosa, com a mandíbula marcada e bochechas fundas. A maior fonte de cor no rosto dos gêmeos eram, no caso de Hel, seus olhos. Já Rizell, fico em dúvida se são as enormes olheiras arroxeadas ou se são seus lábios avermelhados. Ele morde tanto que sai sangue.

Estava me preparando para ir embora depois dessa tarde indiscutivelmente estranha, me despedindo dos meus novos colegas (pensamentos) com uma espécie de promessa silenciosa de que nos encontraríamos novamente, selada por um aceno de cabeça.

Dez passos além dos limites da casa. Foi a distância que pude percorrer sem parecer perdida. A neblina que havíamos visto mais cedo, a mesma que parecia de dissipar na presença dos outros jovens, voltou parecendo a fumaça que se esvaia de uma bomba, não permitindo que qualquer pessoa enxergasse a dois palmos de distância. O pânico tomou conta quando vaguei por horas e a noite veio, junto com ela, paranoias de um cérebro não adaptado àquela realidade. Suor escorria pela palma de minhas mãos, enquanto meus batimentos cardíacos pareciam atropelar o barulho de minha respiração ofegante. Os sons ao meu redor não deviam estar tão altos, mas o estalar dos galhos e o esmagar das folhas secas aguçaram meus sentidos. Podia desmaiar bem ali, devido ao extremo nervosismo, porém senti mãos firmes em meus ombros.

-

- Não devia ficar aqui, a floresta não gosta de estranhos. - Theo, que se tornou o rosto que apareceu no meio da neblina para me ajudar, disse depois de nos livrar daquela neblina; Parecia saber o caminho mesmo sem enxergar com clareza, o que talvez faça sentido, já que ele mora aqui.

- Sabe, eu não escolhi ficar perdida aqui, o caminho que fizemos até a casa deles não pareceu tão nublado quanto agora.

- É, talvez numa próxima vez você traga umas migalhas de pão para marcar o caminho, o que acha? - diferente de suas outras falas, Theo parecia menos tenso agora, e sua brincadeira me fez rir mais que o normal. Nem era uma piada, mas era engraçada naquela situação em que tudo parecia me assustar.

- Acho que seria mais inteligente se eu espalhasse pedras, não acha?

- Provavelmente.

Permanecemos caminhando lado a lado por um longo período de tempo, apenas ouvindo os sons suaves que vinham do vento batendo na copa das árvores coníferas. Quando a neblina diminuiu, a floresta se mostrou naturalmente escura, com suas árvores de troncos negros e folhas verde musgo. Muitas delas também forravam o chão, escondendo cogumelos e formigueiros abaixo de si. Durante o caminho, avistei Theo abaixando-se para pegar cogumelos e alguns insetos, colocando-os em um potinho de vidro que lembrava os de geleia, os examinando tranquilamente durante alguns segundos e depois o colocava de volta em sua bolsa de couro. Conversamos também sobre alguns pássaros que ele costuma observar na floresta quando estava sozinho e que seu gênero de abelhas favoritas eram as bombus, pois eram gordinhas e fofas. Theo era realmente uma pessoa adorável, definitivamente incomum em comparação aos outros jovens de nossa idade. Eles eram, em sua grande maioria, cruéis ou superficiais. Sempre pensei que todos tinham um motivo para agir de determinada maneira, e que qualquer pessoa tinha um lado bom para mostrar. Mas nem todo mundo é ruim por um motivo ou outro, pode ser apenas a sua vontade de fazer mal. Na minha última escola eu tinha dois amigos, eram gêmeos. Wage e Lyn. Éramos quietos na escola, mas fazíamos bagunça fora dela. Geralmente. Portanto, nosso plano era não chamar atenção e focar apenas nos estudos. O que funcionou por um período. Para minha sorte, os professores costumavam gostar de nós e minhas notas eram impecáveis, o que definitivamente ajudaria no momento de ingressar em uma boa faculdade. No segundo semestre do meu segundo ano no ensino médio, a professora de audiovisual decidiu que deveríamos fazer uma gravação em grupo para mostrar aos pais e professores todo o esforço que tivemos. Não tinha o que dar errado, se você pensar que seria apenas um vídeo caseiro com seus melhores amigos.

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