Pensando nos gêmeos e Will, não reparei que já estávamos perto do lago, de onde podíamos ver a cabana. Ou podia, Theo não estava mais aqui. Acho que fiquei tão imersa em pensamentos que não me dei conta de quando ele foi embora. Ao menos não estou mais perdida.
Por sorte, a neblina já havia se esvaído e o cheiro de terra molhada ficou mais forte.
Petrichor.
Uma vez, numa tarde chuvosa e fria, perguntei à minha mãe sobre o cheiro, e ela disse que a mãe dela costumava ter anotações sobre coisas assim, mas já não se lembrava, e disse que estava empoeirado no baú da minha avó. Acho que não abríamos desde que ela morreu, mas minha mãe comentou que ela adorava ler e sempre estava anotando suas observações da natureza em um livro de couro desbotado. Nesse dia, eu tinha feito chocolate quente para Wage e Lyn, e meu chá estava quente demais para beber. Avisei que iria no porão, pegar uns jogos. O baú não tinha nenhuma tranca, parecia saber que eu estava curiosa e pensei ouvi-lo me chamar. “Ei, garota, me abra, por favor, estou tão sozinho aqui! Minha única companhia são uns ratos que fazem cocô em mim.”
Encontrei uns 5 livros na parte superior dele, e alguns vestidos antigos, acho que era do casamento da minha bisavó. O baú tinha um fundo falso, apenas com um buraquinho para enfiar o dedo e levantá-lo. Acho que era ali que minha vó escondeu seu caderno, junto de algumas folhas avulsas de anotações. Quando subi do porão, me perguntaram sobre os jogos e eu disse eu não estavam mais ali. Wage e Lyn entraram em mais uma discussão boba de irmãos, aproveitei para fugir e me sentei no balanço grande e redondo que tínhamos no quintal, onde meus pais costumavam enfeitar com pisca-pisca e me contar histórias até eu dormir. No primeiro livro, li que petrichor foi um termo criado por pesquisadores australianos, em 1964. O sufixo “ichor” significa o fluido que passa pela veia dos deuses.
Sempre gostei do significado mitológico, apesar de preferir as explicações biológicas, na maioria dos casos. Pensei no significado como um presente, que podíamos sentir o cheiro do sangue dos deuses sempre que chovia.
A explicação biológica é tão simples como o amanhecer.
O cheiro que sentimos é resultado da colisão da água com o solo. Estamos sentindo o cheiro de uma molécula gerada por uma bactéria, e essa molécula se chama geosmin. Muitos animais também são sensíveis à essa molécula, assim como os humanos.
Há quem goste de pensar que também é resultado dos raios, quando as descargas elétricas chegam à atmosfera e liberam o cheiro de ozônio límpido e marcante. Ou da pressão da chuva nas plantas, que quebra algumas áreas e libera certos aromas.
Mas qual o ponto comum dessas explicações?
Chuva.
Mas quando choveu, se estávamos apenas na neblina durante todo esse tempo?
— Certo, deixe de ser paranoica, o solo é úmido e é por isso. - Repreendi a mim mesma, passando a reparar no rastro de pegadas que deixamos enquanto caminhávamos. Parece que Theo deixou alguns de seus cogumelos caírem, pois todo o caminho que eu conseguia ver estava com uns cogumelos laranjas e brancos. Decidi pegá-los, para devolver ao Theo, quando nos encontrássemos novamente. O estranho foi que que quando tentei pegar, eles estavam fixos no solo e em algumas raízes de árvore.
— Okay, nem todo cogumelo é do Theo, estamos em uma floresta, é claro que terão cogumelos por aí! - berrei comigo mesma e decidi ir para a cabana de uma vez.
Por sorte minha irmã ainda não estava em casa e Edinho Poe estava dormindo em cima da geladeira.
Perdoem o capítulo pequeno, não chegou nem na metade de palavras que eu costumo manter como padrão, mas não estou tendo muito tempo pra escrever recentemente, mas prometo melhorar💕🍄
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Forest Dust
Fantasy- Espera, onde estamos? E-e qual o nome de vocês? Eu mal os conheço, por que me puxaram pela floresta até aqui? Pretendem me matar? Olha, meu pai me ensinou a dar socos, nem tentem! - soltou a enxurrada de pensamentos que pareceram coerentes naquele...