05. A música diz que a primeira luta clandestina começou (Parte 1)

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[NOTAS] Eu disse que ia tentar não demorar tanto, não é? Esse cap ficou tão grande que tive que dividir em dois, no total tinha dado cerca de 12k de palavras kkkkkkk. A primeira parte saí agora e às 20h sai a 2°, espero que gostem!!!

Leiam as notas finais na parte 2!

Boa leitura, motoqueiros surfistinhas :p

#RosaCereja

🎸

Não se pode fugir de si mesmo, toda dor contornada e evitada estaria fadada a retornar num enorme bicho-papão, uma criatura vil alimentada de medos esquecidos e sedenta para levar o restante de sua alma

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Não se pode fugir de si mesmo, toda dor contornada e evitada estaria fadada a retornar num enorme bicho-papão, uma criatura vil alimentada de medos esquecidos e sedenta para levar o restante de sua alma.

Saint'Anna

Costa Leste, Terra de Santana

9:00 A.M.

Não se pode fugir da dor, ela persegue, arranha e machuca, jamais deixa sua presa sair ilesa de um combate mortal; tal como um gato de rua persegue um rato, é de sua natureza hostil não ter piedade alguma de criaturas indefesas. Todo e qualquer indivíduo que mantém funcionais às suas terminações nervosas, estaria sujeito a sofrer em suas mãos, se tornando um animal indefeso, agonizando em um armadilha mortal regada por uma crueldade atroz e imoral.

É impossível fugir da dor; eu, no entanto, conhecia um jeito de contornar a minha, por mais autodestrutivo e perverso que fosse. Nunca me orgulharia disso e sabia que era cruel, mas era tudo o que eu tinha.

As lutas significavam isso para mim, um modo de ludibriar minha dor emocional. Um dia qualquer há tempos atrás, quando ainda possuía apenas dezesseis verões em minha dívida com o sopro da vida, após mais uma entre inúmeras discussões com minha progenitora, me vi brigando com um tolo que havia escolhido o dia errado para me provocar. Não me lembrava qual o motivo frívolo que conseguiu me tirar do sério, naquela época uma bomba relógio soava em meu ouvido, o tique-taque irritante reverberando nas membranas auditivas. Foi necessário apenas uma faísca para acender o pavio que me faria explodir e engolir em desordem tudo ao meu redor.

Enquanto brigava, sentia o punho arder pelos golpes dados, o sangue fervido em ódio escorrendo por entre as juntas dos dedos e cortes no rosto, o latejar do supercílio inchado abandonando a coloração bronzeada de costume para assumir o tom púrpuro de um machucado aberto; sentia a dor. Uma dor medonha que atrapalhava outros pensamentos, os desaires mentais se perdiam em um abismo de esquecimento e, de repente, minha alma não doía mais como antes. Não sentia os tremores, a falta de ar ou a cabeça prestes a explodir com palavras gritantes que não me deixavam em paz; havia somente o latejar dos machucados ecoando sem fim através dos sentidos.

Foi assim que descobri nas lutas um modo de contornar minha dor, era mais fácil senti-la se alastrar em cada terminação nervosa, do que senti-la martelando em minha mente; encontrei uma distração vil e hostil, pouco benéfica quando levado em conta seu preço maléfico.

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