Cê vai me destruir

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~ 1 anos e 3 meses depois

O barulho da porta não parava, alguém batia e não se dava por vencido até que eu atendesse.

— Calma aí gente, tem algum infeliz batendo na minha porta.

Me levantei e fui até a porta, o porteiro não havia avisado se alguém estava subindo, então supus que poderia se um engano de alguém visitando outro apartamento.

— Você está no número err... Aurora? 

A cacheada sorriu timidamente não sabendo o que fazer e eu fiquei encarando.

— Posso entrar?

— Quem deixou você subir? — Perguntei seco.

— Aparentemente, você não me tirou da lista de autorização do prédio. — Vi ela mordendo o lábio inferior e suspirei. — Podemos conversar?

— O que você quer?

— Podemos conversar?

— Depois de sei lá, dois anos, você quer ter algum tipo de conversa comigo? – Não tive nenhuma resposta e a minha vontade era fechar a porta, mas ela conseguiu entrar antes que eu fizesse isso. — Saí daqui.

— Meu Deus Thiago, você me odeia tanto assim? Eu só quero falar com você por dois segundos.

— Porra.

— Eu preciso de ajuda, preciso que você pegue seu carro e venha comigo. — Eu a encarei incredulo e só agora havia reparado que o seu rosto estava com uma maquiagem borrada, não só isso, mas me lembrei do brilho que a Gi havia falado comigo, aquela não era a Aurora que eu conhecia.

— Tu vem a minha casa, após esse tempo todo, para me pedir carona? É muita cara de pau. — Gargalhei entrando para dentro do quarto onde a live rolava.

— EU NÃO PEDIRIA A PORRA DA SUA AJUDA SE REALMENTE NÃO PRECISASSE DELA. — Me virei pra garota suspirando e agora me virando pra câmera onde vários emotes subiam pela tela surpresos e alguns curiosos. — Por favor.

Desliguei a live e peguei minha chave e meus documentos colocando do bolso, ela andou até a porta abrindo e se agaixando para pegar algumas coisas que estavam na lateral da minha porta, tive a visão de várias malas grandes e uma bolsa pequena.

— Aurora... o que é tudo isso? 

— Eu estou apenas fazendo uma mudança. — Disse caminhando para o elevador e eu a ajudei carregar algumas coisas. 

— E o Henrique?

— Então você sabe dele... — Seu tom era acusatório, como se o fato de saber já era uma peça fora dos planos. — Bom.

Ficamos em silêncio até o carro, coloquei as várias malas dela no porta-malas e, assim que ambos entramos, dei partida em direção a rodoviária.

— Não, vamos sair da cidade, aqui não é um bom lugar.

— O que?

— Apenas...faz.

Mudei meu caminho para a saída e ela ficou mais tranquila do meu lado, olhando todas as coisas ao redor enquanto passávamos por ruas conhecidas. Quando chegamos na primeira parada de pedágio, ela pareceu deixar uma grande bagagem para trás e começou a ficar mais animada.

Então, pegou o meu celular do bolso e colocou uma música para tocar enquanto a viagem acontecia.

Era a nossa playlist, uma que montamos juntos para poder cantar caso fizessemos uma viagem de carro para um lugar longe e só chegavámos no final quando ela tivesse acabado por completo, e vendo aquele tanto de música eu soube, o local era bem mais longe do que São Paulo.

— É sério, onde vamos?

— Eu só estou fugindo Thiago, pode ficar tranquilo que eu pago a gasolina e a nossa comida, apenas dirige. — Disse mexendo na bolsa de mão a procura de algo.

— E como você vai fazer isso?

— Digamos que o Henrique deve sentir falta de algum dinheiro daqui a algumas horas. 

— Você roubou ele?

— A gente noivou, tecnicamente também é meu, mas ele que se foda. 

Novamente vi uma lágrima caindo do rosto dela e eu fiquei curioso em saber o que tinha acontecido. Toda aquela situação estava me deixando preocupado, o momento que ela apareceu, a forma como ela estava, tudo parecia errado e certo ao mesmo tempo, não sabia dizer como mas era assim que parecia ser.

As músicas foram rodando e os quilometros também, paramos em algumas boas paradas para comprar comida e abastecer, o dinheiro vivo parecia não acabar nunca e saía cada vez mais de uma bolsa de mão que ela carregava me deixando por vezes assustado se estava tudo realmente bem.

Cantamos todas as músicas possiveis que conhecíamos daquela brincadeira, e tinha vezes que simplesmente gostavámos do silêncio, apesar de passar mais tempo intercalando meu olhar entre ela e a estrada.

— Seu celular está tocando...de novo. — Disse esticando o braço e pegando o aparelho.

— Quantas ligações tem do pessoal?

— Hmm, 15 do Zero, 12 do Mount, 10 do Luis, 23 do Cellbit...você estava em call com ele?

— Sim, estávamos combinando com o pessoal o que jogar e eu também estava aproveitando para mandar algumas coisas sobre meu personagem do rpg.

— Opa, mais uma ligação do Luis, quer ver a live de algum deles? — Seu dedo já se posicionava no aplicativo da twitch e eu apenas neguei.

— Eles não deixariam aberto o mic, isso eu tenho certeza. — Novamente uma ligação apareceu e dessa vez foi do Rakin.

— Eu vou atender mas ambos vamos ficar quietos, pode ser?

— Okay, mas não acho que vá resolver, só vai deixá-los mais pirados e preocupados.

Ela clicou no botão de atender e depois colocou no viva-voz.

Calango? Alo? Calango? Gente to ouvindo barulho de buzina e de carro. Calango?

Mas que droga velho, o que raios aconteceu? — A Gabi disse com uma voz preocupada.

O pessoal disse que ele estava discutindo com alguém e fechou a live do nada, ninguém sabe o que era. — Zero respondeu.

Calango? — Rakin perguntou novamente. — Merda.

A ligação caiu e ambos nos encaramos.

— Isso não foi certo, vão acabar envolvendo a polícia sem necessidade, vou lig...

— Não, depois mando uma mensagem pra Gi, eu não quero que ninguém saiba que estou com você, pelo menos não agora. — Ela me olhou profundamente e eu abaixei minha mão do celular.

— Você vai acabar comigo.

Rakinho
visto por último a 35 minutos

eu estou bem

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Uma última noite - CalangoOnde histórias criam vida. Descubra agora