Único

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O cheiro de livro no ambiente ocasionou um suspiro audível de Kakashi e ele sorriu de forma involuntária ao notar que a leve dor de cabeça, resultado da exaustão mental após duas longas provas da faculdade, se esvaiu assim que o aroma adentrou suas narinas.

Talvez fosse psicológico, mas o imenso alívio que sentiu ao atravessar as portas da livraria onde trabalha renovou as energias do homem e, se acomodando sobre o assento atrás do balcão, ele abriu uma de suas gavetas, percorrendo os olhos pelas obras que continham ali enquanto ponderava sobre qual seria a sua escolha.

— Não sei porquê perde tempo pensando quando sabe exatamente qual vai escolher.

— Você me conhece tão bem, Itachi. — Ele murmura e, provando que o amigo estava certo, seleciona o livro de capa escura, marcas, balançando-o diante dos olhos do outro.

— Deve ser a décima vez que você lê esse livro.

— Ele é cativante, Ita. — Hatake mira o homem sentado sobre o sofá a poucos metros, eles eram amigos de infância e frequentavam a mesma universidade, embora fossem de cursos diferentes. Itachi costumava passar algumas tardes com ele na livraria, estudando. — Quando você ler, entenderá.

— Eu sei, você me fala isso todas as vezes. — O Uchiha sobe os olhos do grosso livro sobre seu colo para encará-lo. — Enquanto as provas não acabarem, o único livro que terá minha atenção é esse. — Ergueu o objeto, as palavras "direito penal" imponentes em sua capa. — Mas depois eu juro que vou ler, faço questão de saber se você não tá exagerando em seus elogios.

— Itachi. — O estudante de literatura o chamou seriamente. — Essa obra é magnífica. Tenho certeza de que em alguns anos ela será estudada nos cursos de graduação.

O amigo o lança um olhar duvidoso e ele ergue uma sobrancelha em resposta.

— É um romance. Uma história de amor, narrada em segunda pessoa, isso é pouco usual. — Ressalta. — Não foi escrito para ser um best-seller, isso é óbvio. Não é um produto, é arte. — Diz, uma das mãos gesticulando enquanto a outra segurava o objeto. — Não é clichê, ainda que contenha elementos do romantismo, nem rebuscado demais, embora seja escrito de forma tão elegante quanto um poema parnasiano. É esteticamente agradável.

Suspirou, o amigo prestava atenção às suas palavras e ele se sentiu motivado a continuar.

— Há certo humor na forma que o relacionamento é retratado, sabe? É realista. E mesmo assim — Kakashi sorri incrédulo. — Mesmo assim, mesmo com as críticas, muitas, por sinal, há um imenso sentimentalismo e ele é demonstrado de forma visceral, principalmente nas cenas de sexo. É carnal, intenso e totalmente realista. Eu poderia falar sobre esse livro por anos.

— Eu sei bem disso. — Os dois riram. — O autor tem outras obras?

— Sim. — Assente. — São ótimas, mas essa é a minha preferida. — Itachi sorriu.

Ajeitando-se de forma confortável, Kakashi abriu o livro no capítulo seis, pouco depois da metade. O marca-página colorido foi retirado cuidadosamente e os olhos escuros começaram a ler as palavras, já tão conhecidas que podiam ser previstas por eles.

O som do sino indicando a chegada de um novo cliente interrompeu sua leitura e ele sorriu de forma simpática para a moça loira que adentrava o local.

— Boa tarde e bem-vinda! No que posso ajudar? — Ele se levantou, ficando em pé atrás do balcão e ela sorriu ao se aproximar.

— Boa tarde! Vim comprar um livro. Esse mesmo que está lendo.

— Ótima escolha. — Ele diz, indo até a prateleira onde outras cópias estavam disponíveis.

— Foi o que me disseram. — Ela comenta. — Kamui, não é? — A mulher lê o nome do autor na capa enquanto o vendedor embala o produto. — Minha namorada é obcecada por ele. Estou comprando porque irei acompanhá-la na sessão de autógrafos e seria estranho não conhecer obra alguma.

Marcas - ObiKakaOnde histórias criam vida. Descubra agora