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○ A i s h a ○

Sete anos atrás...

A fina linha branca era introduzida em minha narina direita, aquela sensação era deliciosa pra caralho. Parecia que meu corpo flutuava em meio àqueles corpos nus espalhados pelo quarto.

Meus amigos. Reconheci ao olhar alguns rostos embaçados. A garrafa de vodca estava sobre a mesinha de centro da sala e, eu sabia que não era recomendado misturar pó e álcool, mas meu cérebro estava tão fodido que nem mesmo uma lembrança inútil me impediria de ingerir o líquido transparente.

Minha garganta se rasgou por dentro, um único e brutal gole na bebida fez meus pulmões falharem lentamente. Eu não me lembrava direito do sexo, todo aquele pó bagunçou minha cabeça.

Procurei o sofá mais próximo, estava mais tonta, eu estava num quarto, não tinha nenhum sofá ao meu redor, apenas bocetas e paus que eu talvez tivesse me aventurado a pôr na boca.

Caí no chão, parecia tremer.

A porta se abriu de repente e senti meu corpo gelar, talvez fosse o efeito da cocaína, não me lembrava de ser assim tão real.

Puta merda. Eram meus pais, e, de repente, escuridão como carvão líquido.

Atualmente...

Resmunguei quando mais uma vez aquela lata-velha não funcionou. Sage mal podia esperar pelo tapa que receberia em suas costas assim que eu encontrasse aquela tatuadora de quinta categoria. Minha melhor amiga era uma tatuadora sensacional, sem dúvidas, era impossível ofender o seu trabalho.

Estacionei a espelunca que, particularmente, merecia mais respeito de minha parte, afinal, era ele que me impedia do atraso em meu emprego.

Saí do carro com minha bolsa preta, estava abatida durante essas duas últimas semanas, o senhor Antinori estaria aposentado. Suas palavras em tom de despedida anunciaram que seu neto mais velho assumiria o cargo de CEO.

No elevador, cumprimentei alguns colegas de trabalho, era segunda-feira, o último dia de Alexandro Antinori como o meu chefe. Ele era um senhor de sessenta e três anos bem inteiro, era bonito e seus olhos transmitiam sabedoria, sua esposa era uma das mulheres mais amáveis que já conheci.

Saí da caixa metálica e caminhei em direção a minha sala, era adjacente à sala do senhor Antinori. Uma das coisas que eu mais odiava era quando suas reuniões se encerravam, como eu era sua secretária e assistente, precisava estar presente na maioria dos assuntos, isso significava cuidar de sua agenda, contatar sócios e receber aqueles olhares nojentos de homens com idades para serem meus avôs.

Abri a minha porta e me direcionei à minha mesa, os novos contratos de empresas estavam sobre ela, eu precisava revisar cada um e organizar nas pastas referentes.

O dia foi bem longo, dividido em algumas pausas para beliscar alguma coisa. Ao final do expediente, voltei para casa, decidida a não passar na padaria para comprar aquele maldito e delicioso sonho.

Observei Sage se movendo pelo loft enquanto conversava inteiramente apaixonada pela bibliotecária do colégio ao lado de seu estúdio.

Ela desligou o celular e se jogou no sofá.

- Já planejou o casamento em outubro? - zombei colherando a granola que estava num pote em minhas coxas.

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