Demasiado vinho. Era isso que Júlia atribuía a culpa.
Quando visse Stella de manhã, diria: "Olha, esquece aquilo que eu te disse sobre Sawyer ontem à noite. Foi o vinho a falar. "
Ao subir para o seu apartamento naquela noite, sentia - se um pouco cansada, como era costume quando bebia vinho. Restavam-lhe seis meses até se livrar daquela terra: estava em contagem decrescente no seu plano a dois anos. Mas com um deslize de língua tornara as coisas muito mais difíceis. Se o que dissera chegasse aos ouvidos da Sawyer, ele nunca mais ia largá-la.Abriu a porta no cimo das escadas e entrou no corredor. Não tinham feito obras no andar superior da casa da Stella para que parecesse um apartamento. Era um corredor com uma porta que dava para o quarto, outra para a casa de banho, outra para uma salinha e outra sala que fora convertida numa cozinha.
Há uns anos, depois de ter gostado todo o dinheiro da conta-poupanca da mulher, o ex-marido de Stella decidira ter hóspedes, por isso pusera uma cortina no cimo das escadas e dissera:"Cá está um apartamento." Depois, ficara muito surpreendido por não ter hóspedes. Os homens inconscientes são sempre surpreendidos pelas consequências, segundo Stella. No último ano de casamento, Stella descobriu as outras mulheres e pusera-o a andar. Depois, pediu ao irmão que lhe pusesse uma porta no cimo das escadas, um lava-louça e um fogão num dos quartos. Julia foi o primeiro hóspede.
Inicialmente, Júlia sentira relutância em alugar um apartamento em casa de uma das suas inimigas dos tempos de liceu. Mas quando regressara a Mullaby, o apartamento de Stella foi o único que ela encontrara cuja renda conseguira suportar. Ficara surpreendida ao descobrir que, apesar do passado, ela é Stella fora uma das raparigas mais populares de Mullaby high, um dos elementos da Sassafrás- o nome que o grupo elitista de raparigas bonitas dera a si próprio. Julia fora a rapariga que toda a gente evitava. Era carrancuda, bruta e inegavelmente estranha. Pintava o cabelo de cor de rosa vivo, usava sempre uma gargantilha de cabedal com pregos e tanto lápis preto nos olhos que parecia que eram negros.
E o pai esforçava-se imenso para não reparar.Julia foi até ao seu quarto. Mas antes de acender a luz, reparou numa luz que vinha da casa ao lado, a casa da Vance Shelby. Estava uma adolescente na varanda a olhar para as árvores por detrás da casa de Vance. Era muito magra e tinha um cabelo louro. Então, Júlia lembrou-se. A neta de Vance estava para vir viver com ele. Durante a última semana, no restaurante de Júlia não se falar noutra coisa. Algumas pessoas estavam curiosas, outras, receosas, e outras ainda eram marinhas. Nem toda a gente perdoara o que a mãe da rapariga fizera.
Júlia não gostava de pensar no que a rapariga iria passar. Arcar com o nosso passado já é difícil. Nunca se deveria arcar com o de outra pessoa. Decidiu que no dia seguinte de manhã faria um bolo a mais no restaurante para lhe levar.
Despiu-se e enfiou-se na cama. Suspirou e esperou para riscar mais um dia do seu calendário.
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A Rapariga que perseguia a Lua
RomanceBem-Vindos a Mullaby, na Carolina do Norte, onde vive um homem tão alto que consegue ver o futuro, onde o cheiro a bolo tem um brilho visível na brisa de verão e onde as famílias têm segredos que são simplesmente... mágicos. Quando chega à casa da...