Capítulo Único

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Com duas batidas na porta, Shouto entrou no dormitório e não ficou surpreso ao ver Katsuki deitado na cama com o corpo virado na direção da parede. O garoto parecia pequeno demais na bagunça de lençóis, até mesmo a falta de reação ao tê-lo dentro do quarto sem sua autorização foi sufocante.

— Bakugou? — indagou.

— O que você quer?

O que ele queria?

Shouto não sabia identificar quais motivações o levaram até lá, mesmo ciente que o colega não gostava de súbitas aproximações e muito menos de alguém dentro de sua zona segura. Porém, desde que Izuku saiu e foi encontrado, algo começou a mover-se dentro de seus pensamentos.

Mesmo relendo a carta várias vezes, uma questionável sensação de amargura e traição começou a fazer parte de seu cotidiano, onde absorveu como egoísta a atitude de seu amigo por tê-lo deixado e omitido tantas coisas ao longo daquele ano. Shouto nunca foi muito experiente com amizades, mas sabia que a sinceridade era algo muito importante, pois era a única coisa que também sabia retribuir na mesma medida.

Óbvio que entendeu o motivo que levou o garoto abandonar a U.A., afinal, também estava colhendo as consequências da batalha contra Shigaraki e seu irmão. Todavia, atropelar os seus sentimentos e dos demais colegas, sem nenhum tipo de questionamento, foi como uma rasteira da qual não imaginava que fosse possível acontecer, já que confiava cegamente em Midoriya. Bakugou também parecia sentir coisas semelhantes ou até piores, ainda mais por ser um dos maiores pilares, senão o maior, do esverdeado. Todoroki estava perdido e incomodado com a mudança no padrão de seus sentimentos, mas que resultou ainda mais na aproximação dos dois.

No final, ambos ansiavam por respostas e gestos de confiança, e não pedidos de desculpas em longas cartas.

A relação de amizade (por mais que Bakugou ainda negasse para manter uma sensação duvidosa de familiaridade) desenvolveu-se muito bem entre eles. Era ousado dizer que, naquele atual momento, o garoto era a pessoa mais próxima na vida de Shouto, algo que pareceu acontecer naturalmente com o loiro também, já que passava mais do seu tempo livre com ele, do que com Kirishima ou Kaminari.

O bicolor conseguiu confirmar a ligação que estabeleceu com o colega, quando foi hipnotizado pelo pedido de desculpas de Katsuki. Por mais que não fosse direcionado para ele, a atitude nobre o atingiu de várias formas, das quais nunca pensou que seria possível. Shouto teve a certeza de que amava seus amigos, e mesmo que tivesse apenas alguns passos de distância, sentiu-se infinitamente longe deles.

De alguma maneira, queria possuir o mesmo desenvolvimento, ser forte e corajoso o suficiente para que as novas e velhas angústias se desfizessem da armadura de gelo que criou para si ao longo dos anos. Almejou com todas as forças pertencer ao incrível mundo que Midoriya e Bakugou aprenderam a construir juntos, onde mesmo que a dor existisse, também havia conforto e uma confiança jamais vista por Todoroki.

Será que era tão errado desejar pertencer a tudo aquilo? Ou apenas não era digno de estar ao lado de seus melhores amigos?

Por mais relutante que fosse, Bakugou não o abandonou, mas doía não ter a validação de suas palavras. E Midoriya? Justo ele que confiou todos os seus medos quando decidiu despertar suas chamas pela primeira vez.

Sempre que pensava no grande passo que deu e teve como resposta à ausência de Izuku, algo novo, quase raivoso, ardia no centro de suas emoções. Relembrando-o sobre coisas que sentia com sua família e que apenas estavam abafadas para quando tivesse energia suficiente para enfrentá-las sem ser sufocado por elas. Às vezes achava que nunca viveria esse despertar.

I just want to be ok • bnha | shouto todoroki centred | todobakuOnde histórias criam vida. Descubra agora