Me lembro uma vez de ter uma conversa esquisita com o Taehyung. Em um dia, estávamos sozinhos em casa, o que nos dava certa euforia, já que inconscientemente, nos sentíamos mais adultos nessas situações onde os adultos nos davam certa confiança. Porém, ficamos como sempre apenas conversando juntos. Dessa vez resolvemos ir para a varanda. Ele se sentou no banco de madeira velho que tinha ali e eu me deitei parcialmente, deixando minha cabeça sobre seu colo, o que lhe deu liberdade para brincar com meus fios bagunçados.
As vezes a gente não falava nada. Ele ficava tão distraído observando a cidade, ouvindo os barulhos de buzina, pássaros, pessoas e sentindo a brisa fraca que trazia uma sensação esquisita porém gostosa e aconchegante, uma brisa que vinha nem tão fria nem quente, quase anunciando que o dia estava acabando e aos poucos a cidade desligaria. Nunca soube descrever tal sensação na verdade, há quem diga que traz um ar melancólico, como todo final de algum ciclo, mas ao debater comigo mesmo, decidi que era uma definição muito dramática para uma coisa tão simples. No final de tudo apenas gostava de sentir o vento no rosto enquanto o céu ia do azul ao laranja, ao roxo e por fim a escuridão entre as estrelas da noite que pelo visto chegaria limpa, sem nenhuma nuvem no céu. Olhei Taehyung daquele ângulo e sorri. Ele nem olhava pra mim, ficava passando as orbes lentamente pelo horizonte, sem dizer ou demonstrar nada, apenas ali. Olhar para ele me deixava feliz, e fazia meu peito esquentar como um conforto não intencionado.
— Você acredita no amor? – Do nada, ele disparou uma dessa, tombou a cabeça para frente para conseguir olhar diretamente para mim, tive de franzir as sobrancelhas.
Na verdade eu tinha 15 anos na época. Eu nunca tinha namorado ninguém, e nunca tinha realmente pensado sobre o que era o amor. Eu sabia que amava minha família, e sabia que amava meus cachorros. Mas senti na voz dele que o assunto era especificamente sobre o amor romântico, justamente o qual eu nunca sentira.
Porém, quando o olhei nos olhos de novo e ele rapidamente desviou a atenção para a paisagem urbana, senti vontade de rir e abraçá-lo, apenas senti. E sempre sentia isso, sem saber me expressar, apenas trato isso como uma reação normal do meu corpo ao vê-lo fazer algo que me desperte sentimentos satisfatórios. Então talvez fosse isso mesmo, o amor. Eu gostava de passar o dia com ele, gostava de sentir seu cheiro, tocar suas mãos e rosto, sentir ele tocar os meus, ouvir as músicas que ele gostava na presença do mesmo, simplesmente o olhar e tê-lo ali. Tudo isso me fazia bem. Descobri naquele momento que eu acreditava no amor porque Taehyung fora a primeira e única pessoa que eu já amei.— Sim. – Apenas falei, com uma vontade imensa e uma comichão esquisita na garganta quase me obrigando a dizer ao garoto que o amava, mas me segurei. Seria estranho.
— Eu não acredito. – Disse e não me olhou em nenhum momento, naquela hora o céu começava a ficar azul marinho. – Não faz muito sentido pra mim. Pessoas são tratadas como objetos pelas outras e na maioria das vezes se dizem amar apenas por atração física ou calor do momento. É isso que me motiva a não acreditar. As pessoas não entendem a complexidade do amor, e isso o torna banal. Inclusive, acho que eu não entendo também, e não preciso entender.
Tentei digerir as palavras dele que pareciam facas descendo por minha garganta. Eu o amava de verdade, e não queria saber se as outras pessoas amavam outras pessoas. Queria amá-lo e ser amado também, sem nenhum tipo de complexidade ou reflexões. Senti vontade de calar a boca dele o beijando.
— E você nunca amou ninguém? – Perguntei, e ele não me respondeu, ficou quieto e continuou o carinho no meu cabelo. E eu, não sei se por autopiedade ou talvez forçação, interpretei aquele silencio com seus dedos carinhosamente enrolando meus cachos não definidos como um "Sim", e talvez, em outra realidade, de uma em mil chances, um "Eu amo você".
E eu amava o menino que não acreditava no amor.
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o garoto que não acreditava no amor
Romansajungkook se apaixonou pelo garoto que não acreditava no amor