"Pensei que Nanami-san fosse legal"

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Dedicado especialmente à @babymusta, responsável por essa fanfic existir.

***

Nanami Kento trabalhava demais.

Ele era um mero assalariado. Mas um assalariado "raiz".

Ele acordava muito cedo. Trabalhava a manhã inteira. Almoçava depressa em poucos minutos, e à tarde trabalhava ainda mais. Voltava para casa depois de um turno de catorze horas e só então descansava.

Sua vida se resumia nessa rotina viciosa e ininterrupta narrada em um cansativo pretérito imperfeito.

E isso mudou sem que fosse esperado ou pedido.

Aconteceu numa manhã quente de primavera. Nanami saiu impecável de casa como sempre, vestindo um terno alinhado de cor clara, que de certa forma dava mais elegância à sua silhueta. Desde que descobriu o efeito que causava nas pessoas, ele tornou essa vestimenta sua "armadura" regular. Nanami trabalhava em um escritório de vendas, impressionar os clientes era positivo e influenciava no resultado como um todo. Aumentar a comissão no fim do mês era ótimo, mas sua motivação era o dever bem cumprido.

Ele saiu de casa com a pasta em mãos, a mente fervendo e repassando todas as tarefas que deveriam ser resolvidas ainda pela manhã, para que a tarde se desenrolasse melhor. Era uma segunda-feira, o domingo representava um dia de acúmulos que tornava o dia seguinte uma verdadeira loucura! Era dia de balanço e repor as vendas do final de semana, todos os fregueses exigiam reposição o quanto antes, principalmente de produtos populares.

Era tanta coisa em mente, que Nanami passou pelo portão baixo e mal notou a pessoa parada em frente à casa. Teve noção das roupas escuras e uma duvidosa touca de lã na cabeça. Aquela criatura o cumprimentou ou foi impressão? De qualquer forma era suspeito. Ele passou direto, com os passos largos e não fez caso além de uma anotação mental de ligar para a polícia e denunciar alguém estranho rondando as residências. Estava muito ocupado com o trabalho, não podia gastar tempo lidando com assaltos.

Sua residência ficava perto de uma estação do metrô, ponto estratégico. Todo dia enfrentava aquela luta no horário de pico, tomando a condução lotada até o prédio da empresa. Era um dos primeiros a chegar e tinha sua própria sala, atuando como gerente de vendas. A secretária chegava em seguida para juntos mergulharem na rotina estafante.

Não havia nada fora da realidade: ligações desesperadas de estoques zerados, mensagens irritadas cobrando providências sobre falta de produtos, varejistas mal-educados que exigiam a solução dos problemas caídos do céu. Fornecedores solicitando mais prazo para cumprir as metas. E no meio disso tudo a empresa que servia de ponte entre aqueles dois lados da relação comercial.

Pela hora do almoço, com a cabeça latejando, Nanami conseguiu tomar apenas um café e engolir duas aspirinas, grato por ter descoberto o modelo de óculos que atenuava a iluminação e ajudava com enxaquecas. Toda a enxurrada de dificuldades estava solucionada. Sua eficiência foi algo que o ajudou a ser promovido mesmo antes dos trinta anos. Não era um homem simpático ou de personalidade envolvente, embora o jeito prático e pouco dado a dramas fosse a medida perfeita para o cargo que exercia.

Pela tarde fazia uma ronda pessoalmente, indo até as lojas parceiras, fortalecendo laços com os clientes e renovando contatos estratégicos. Não conseguia visitar todos, então essa tradição costumava se repetir na terça e na quarta-feira. Muitas vezes passava das oito horas no escritório, retornando para casa quando a noite já caíra totalmente. Os planos nunca mudavam: chegar em casa, tomar um banho e comer algo comprado na konbini do bairro.

Mas naquela segunda-feira, o término do dia não ocorreu bem assim.

Nanami descobriu duas coisas: a) esqueceu por completo de ligar para a polícia e denunciar a pessoa suspeita vista pela manhã e b) tal pessoa continuava no mesmo lugar: em frente sua residência, sentado no chão ao lado do portão.

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