Capítulo oito:

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"Deixe afogar o que sinto na escuridão,

  pelo menos nela sinto que vivo.

  Só assim viva posso estar,

  Para toda a dor transbordar.

  Devo sangrar, uma hora irá passar".

Uma das piores noites da sua vida era aquela, se sentia fraco, impotente, sempre a mercê do destino, que por sua vez não fora nada gentil mais uma vez. Dormir era desconfortável, seu braço, ou a ausência de parte dele causava dor em seu ser. Tinha em sua mente que era algo comum, síndrome do membro fantasma se não estava errado. Era tolo em pensar na situação que o levou a tal fato acontecer. Refletia o quanto sua mente estava no lugar errado. A morte da pequena filha dos Nara apenas abriu seus olhos perante a situação.

Se afastar, era crucial, não podia continuar com aqueles joguinhos, flertes bobos, todos estavam feridos, o tempo disponível tinha que ser gasto em algo valioso. Pensava também no que poderia ter evitado, a morte da bebe talvez, não era capaz de dizer. Com certeza não tinha só ele acordado naquele momento. Pequenas preces eram ouvidas, dos casais que ainda tinham filhos para vir principalmente. Os soluços baixos de Temari que agora voltava a estar nos braços do marido era o principal barulho. As emoções realmente estavam por todos os lados naquele que agora parecia um pequeno galpão para tanta dor.

Porém o barulho não foi o que mais lhe preocupava ou deixava inquieto, sangue, podia sentir o cheiro de sangue, como o último membro do clã Hatake, se sabia que o olfato era um sentido forte para os da linhagem. Um dos milhares motivos que lhe fizeram usar aquela máscara. Levando isso em conta, sabia que a quantidade devia ser considerável. Buscou com o olhar todos, para sua surpresa a única pessoa que não estava ali era justamente a que deitava ao seu lado. Mandou seu coração velho se acalmar, tinha que ser racional, ela provavelmente estava se atolando no trabalho e fazendo experimentos para não pensar no que aconteceu.

Seu corpo, no entanto, insistia em trair o dono, levantou de forma sutil. Não queria alarmar ninguém e não ser nada, o momento não era um dos melhores. Seguiu o cheiro, viu então que o levava para sala de exames, sua hipótese com certeza estava certa, seu coração mesmo assim batia rápido demais. Ajeitou as bandagens de seu curativo e se preparou para entrar na sala que estava em silêncio.

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Mais uma vez não pode salvar uma vida, mais uma vez não conseguia comprir com seu trabalho. Sua amiga que tinha orbes brilhantes antes agora só era capaz de fazer eles refletir devido às lágrimas. O mesmo acontecia com ela, sempre pensou em si mesma como desprezável e vida fazia questão de provar suas palavras verdade absoluta.

Aquele sonho horrendo, se passava através de sua mente em forma de loop, naquela madrugada dormir era o que menos queria fazer. Tinha medo de ter mais um pesadelo para atormentar sua pouca paz. Veio então limpar a sala. Havia saído assim que terminou o parto da Nara, era esmagadora a sensação de ficar naquele ambiente, só então devido a insônia e medo voltou ao lugar. A vida infelizmente seguia, então tinha que deixar tudo preparado para suas consultas matinais. Tinha a mão no lençol que usou para pegar Kiyoko, era para todos estarem acordados com os choros dela, não dos da mãe. Abraçou forte o pano e se deixou cair no chão. Junto dela ao chão veio um bisturi, que se desprendeu na queda. Tinha usado para cortar o cordão umbilical, não foi capaz de achar a tesoura médica. A lâmina refletia pouco a luz das velas mesmo com pequenos vestígios de sangue presente nela.

Sabia que sua dor não chegava nem aos pés da da amiga, ela era uma mãe sem filha. O mais próximo que podia pensar era que ela era uma filha sem pais agora. No dia em que estavam fugindo da primeira chuva os sobreviventes estavam embaixo de uma ponte de metal, seu olhar viu de longe seus pais correndo para seu encontro, mas na época sua mãe tinha quebrado o pé recentemente, viu quando ela se desequilibrou, empurrando sem querer seu pai para fora da proteção que seguravam, ele foi exposto à chuva, num ato de desespero sua mãe largou a mesma para socorrer o marido, sem pensar claramente. Queria ir para eles, queria se despedir, sabia que aquela altura não iam viver, Sasuke no entanto a impediu. Viu conforto no amigo e o abraçou para chorar.

A CHUVA - EM HIATOSOnde histórias criam vida. Descubra agora