Um novo dia começou. Sil se levantou, preocupada com o amiguinho da noite passada, ansiosa, temendo o pior.
Fora logo manhã cedo que o Pai as chamou todas as crianças ao pátio, e todas o obedeceram. A menina não parava de respirar fundo, suas mãos trêmulas, seu corpo se sentindo pesado, as lágrimas insistiam em sair, mas ela era incapaz de tal feito, o que deixou seus olhos vermelho, mas ela não sentia o ardor.
"Olhem todos.." Exclamou o Pai, apontando para o corpo de uma criança pequena exposta ao sol, ela que chorava copiosamente, mas silenciosamente. O menino não tinha o direito de proferir quaisquer palavras que desejasse. "É isso que vai acontecer com quem desrespeitar a minha autoridade." O homem falou por fim. Em baixo da mesa em que o mesmo rapazinho da noite anterior estava, havia uma bacia com óleo fervente. Como se estivesse em câmera lenta, Sil presenciou a mesa ser partida ao meio, como uma espécie de mecanismo a mão. O menininho foi jogado no óleo. A cena foi chocante, mas prazerosa para o Pai.
Nossa menina, diferente de todas as outras crianças, que se obrigaram a desviar o olhar, chorosas e assustadas, não conseguiu parar de visualizar toda a cena triste. Seu interior gritava, mas a única coisa que ela podia demonstrar era horror e choque, indignação e silêncio, mas nunca chateação ou tristeza. Mesmo que ela esquecesse de tudo, seu subconsciente ainda guardava todas as mortes de cada criança em algum cantinho de seu cérebro de flor, incerto e talvez inexistente.
As crianças todas se retiraram e, mesmo após tanta turbulência, mesmo após tanto terror, em silêncio, elas foram fazer seu trabalho diário, forçadas a ignorar, forçadas a parar de chorar, forçadas e nunca parar, nunca descansar, apenas trabalhar. Sil, como todas as crianças ali, também trabalhava, mas diferente de tanto desespero, de tanto medo, de tantas lágrimas, ela permanecia dura como uma pedra, firme como uma montanha, e inabalável como o sol.
O que mais me entristece em contar essa história, é que esse menininho jamais foi lembrado novamente, esquecido, deixado pela história como uma peça insignificante. Ele era?
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Story of Loss
FantasyUm passado neblinado e esquecido, um presente alegre, um futuro incerto e torturoso. Onde tudo começou a dar errado?