Festa na Baru

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Natanaell observava a foto que havia acabado de tirar com um olhar que já era conhecido por todos. Depois de longos segundos, ele ergueu os olhos, os quatro se entreolharam, deram um suspiro pesaroso e continuaram em silêncio, aquele silêncio. Até que Beatriz resolveu intervir.

- Hmm... É... Bom, o que vocês acharam do Ícaro?

- Gótico. Muito gótico. – Bianca relatou.

- Gay. Muito gay. – Arthur disse com o mesmo ar reflexivo de sua irmã mais nova.

- Um imbecil, idiota e filho da mãe... Assim como o resto da família dele. – Natanaell suspirou, resignado. Todos olharam em sua direção e o príncipe reagiu com uma sobrancelha levantada. – Muito imbecil, muito idiota e muito filho da mãe. Um pouco bonitinho. Dá pra gente trocar de assunto?

A princesa da Espanha ainda não havia dado a sua opinião. Beatriz analisou Ícaro dos pés à cabeça quando se viram pessoalmente: as roupas fúnebres, o olhar arrogante por trás do sorriso falso, a relutância em cumprimentá-los. Ela sabia o quanto Ícaro se destoava da família – como Arthur e Bianca disseram, ele era "muito gótico e muito gay" -; não tinha redes sociais e não queria seguir carreira política, ao contrário de todos os seus irmãos.

Mas ela também havia analisado Natanell: confuso, acelerado e irritado; mãos suadas; perna direita balançando ritmicamente. Resolveu que seria melhor falar de outra coisa.

- Bem... Eu estou mortinha, enjoada do voo e essa cama de hotel tá tão macia! Quem vem de conchinha comigo?

- EU! – Bianca falou, animada, e se jogou na enorme cama de casal em que Beatriz já se encontrava.

Arthur também foi.

- Tá um calor dos infernos, mas não resisto a uma conchinha... – ele se justificou.

Natanaell sorriu para uma cena muito familiar: seus irmãos brigando por um espaço minúsculo na cama e Bap rindo de um jeito nada "princezístico". Quando os três finalmente se ajeitaram para dormir, o príncipe se esgueirou para a varanda, tomando cuidado ao abrir a porta.

Viu a praia (ainda cheia de gente), sentiu a maresia e respirou fundo. Ali, mais ou menos sozinho, olhar sereno, com o som abafado de carros, música, festa e mar de uma tarde comum no Rio de Janeiro, lembrando de um certo primeiro-filho atrevido, teve um momento filosófico e ao mesmo tempo tão simples, em que não se sentiu nada como um príncipe ——e ele confessa a si mesmo, que as vezes preferia assim.

...

Ícaro entrou no quarto de hotel como um furacão.

- Ok, agora é oficial: eu o-d-e-i-o príncipes.

- Ia perguntar "como foi, amigo?", mas acho que não é necessário. – Gabriela disse, sentando-se com as pernas cruzadas na cama, pronta para ouvir a fofoca quentinha.

- Não, não é. Ele é tão idiota quanto eu imaginava...

- "Ele"? – Rayssa perguntou, um sorrisinho de canto. – Pensei que a gente tava falando de toda a família real, sabe...

Ícaro abriu a boca, pronto para falar umas poucas e boas. Mas, pela primeira vez na vida, não tinha uma resposta pronta. Não sabia o que dizer para se defender dessa calúnia!

- É.. é, nem vem!!! Eu quis dizer que todos são INSUPORTÁVEIS, mas aquele princípe Natanaell é o pior de todos. Vocês acreditam que ele me chamou de "baixinho", fez piadinha de colonizador e foi um babaca metido?

- Acredito, amigo. Mas chega disso, né? – Hanna disse, animada. Foi até o guarda-roupa e trouxe de lá suas roupas caríssimas, separadas justamente para esse momento. – Agora a gente vai ficar doidãooooo!!!!

Verde, amarelo e sangue-azulWhere stories live. Discover now