Pedro estava no jardim atrás de sua câmera, irritação cobrindo sua face. Luísa, Leopoldina e Isabel estavam ao seu lado, todas observando-o com certo cansaço.
— Vai funcionar ou não? — perguntou Leopoldina.
— Tenha paciência, eu já estou resolvendo o problema. — A voz de Pedro veio rápida e rude, quase uma ordem para que mantivesse-se o silêncio até que a câmera voltasse a funcionar.
Leopoldina fez uma cara de desgosto e bateu levemente com os punhos em suas ancas, mas antes que pudesse reclamar Luísa colocou a mão sobre seu ombro.
— Por que não fazemos uma breve caminhada pelo jardim enquanto Vossa Majestade conserta a câmera? Depois tiramos nossa foto.
— Sim, boa ideia. Quando tudo estiver funcionando de novo mando chamar vocês.
Teresa observava a cena através da janela. Estava lendo minutos antes, mas parou quando Pedro passou carregando a câmera seguido pelas princesas.
— Para tirar uma foto das meninas com sua nova preceptora! — disse ele com um sorriso largo em seu rosto.
Teresa suspirou profundamente. Pedro tinha naquela câmera quase que um outro filho. Toda vez que ela parava de funcionar seu humor ficava bastante desagradável. Ela abriu o livro em seu colo. Relera as últimas páginas várias vezes, e já pensava em devolvê-lo para as estantes de Pedro, mas não seria melhor deixar para outro dia a fim de não encontrar o marido de péssima cara? Ele certamente voltaria para seu escritório com a câmera defeituosa...
Teresa massageou levemente sua testa, sentia um espectro de dor. O mau humor de Pedro não era a questão, já estava se esquivando dele há alguns dias. Após notar sua afeição pela Condessa, meramente estar na presença do marido era sufocante e cansativo. Sentar-se com ele à mesa era fácil, lá contava com suas filhas, mas fugia de momentos a sós. Até quando isso continuaria? Pretendia ela passar o resto da vida evitando a presença dele? Talvez ele e Luísa nem estivessem envolvidos, talvez ela estivesse vendo coisas, talvez...
Pedro passou rapidamente pela sala, mais uma vez carregando a câmera, e desapareceu na direção de seu escritório. Bastava. Os dois já eram casados há vários anos. Ela conseguiria devolver um livro, trocar poucas palavras com ele e então o deixar só.
Quando Teresa entrou no escritório a câmera já estava sendo desmontada. Pedro a olhou rapidamente quando ouviu a porta abrir, mas sua atenção logo voltou para seu conserto.
— Teresa. O que foi? — Ele soava cansado. As últimas visitas de sua esposa ao seu escritório foram feitas com a intenção de reclamar do regime de estudos das filhas, mudar esse detalhe ou aquele...
— Só devolver um livro — respondeu Teresa. Ela falava baixo, voz macia.
Pedro a olhou de novo e notou Cyrano de Bergerac em suas mãos. Foi ele quem o recomendou algum tempo atrás.
— Ah, você terminou? — Pedro sorriu. Ele parecia mais interessado em sua leitura do que Teresa esperava.
— Sim, terminei há algumas horas.
— E então? O que achou?
— Achei triste! Senti vontade de chorar em alguns momentos.
Cyrano de Bergerac foi um herói trágico. Amou uma mulher profundamente, e foi rejeitado até o momento de sua morte, quando ela percebeu que o amava também.
— Sim, mas belamente escrito. Só... um tanto inverossímil, o fim. Bem, é um poema.
— Inverossímil? Você acha?
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Outra Fotografia
RomanceUma breve conversa entre Pedro e Teresa traz à tona memórias do passado.