Despercebido

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Às vezes Teresa sentia como se estivesse suspensa dentro de um globo de neve, destinada a ter que lidar com Pedro a virando e desvirando. Às vezes ela pensava que tinha algum poder, algum controle sobre sua vida, mesmo se para isso ela tivesse de agir pelas costas do marido. Mas não era verdade, ela não tinha poder nenhum. Ela pensou nisso enquanto via Pedro beijar Luísa. Nisso e nas filhas. Deitada na cama entre seus lençóis de seda ela pensava que poderia ser pior, poderia ter sido uma delas a abrir aquela porta.

Se antes Teresa e Pedro eram bons amigos, agora havia todo a água do Atlântico entre os dois.  Teresa não era dada ao conflito ou ao grito, sempre pensou em si mesma como uma pessoa gentil e simples e era feliz assim, apesar de saber que sua posição social demandava uma mão firme. Era Pedro o jogador político que sabia manejar seus inimigos como um arlequim jogando bolas ao ar. Ela era capaz do mesmo, mas preferia apenas atuar quando achava que sua voz gentil era muito mais útil do que a voz intimidadora do Imperador.

Mas o que fazer quando Pedro a feria? Ele teve outras amantes antes, sim, mas eram coisas vagas, passageiras, que não mudavam a forma como ele olhava para ela. Mas agora Teresa via ele sorrindo pelos cantos por motivo nenhum, e quando ela chamava sua atenção a felicidade saía dos olhos dele como um sol sendo coberto por uma nuvem no momento em que ele era lembrado que era casado com ela. Teresa sentia como se ele estivesse esmagando seu coração com uma mão fria.

O que fazer? Gritar? Demandar que a Condessa de Barral fosse demitida?

Teresa tinha medo, essa era a verdade. Tinha medo de colocá-lo contra a parede e ser rejeitada. Pedro provavelmente sabia que sua esposa estava ciente da traição dos dois, ela percebia pela forma como ele a olhava tenso quando os dois estavam na presença da outra, e mesmo assim Luísa ainda passava horas no palácio todos os dia, não passava? E se, ao ouvir as reclamações de Teresa, Pedro a mandasse aceitar tudo quieta? O coração dela morreria, mas a verdade era que não podia ir diretamente contra as ordens de seu marido, e também não poderia armar um escândalo. Logo os criados descobririam, e então a corte toda, e então o país todo, que Pedro tomou uma amante sob o teto que ele dividia com a esposa.

Seria humilhante demais para ela como mulher, mas ela suportaria. O pior era saber que seria um golpe terrível em suas filhas. Roubaria a forma inocente com que elas olhavam para o pai, e essa inocência não voltaria. Além, também se tornaria um escândalo político; munição para os jornais usarem contra Pedro por muito tempo.

Deus, por que ele fez isso?

Teresa se movimentou pela cama, incomodada com o peso do vestido. Queria tirá-lo, tirar toda aquela incumbência, e jogar todo aquele tecido junto com as joias em suas mãos e orelhas no mar. Queria fazer o mesmo com todas as roupas elegantes de suas filhas, e então comprar roupas simples, modestas, e fugir para um lugar longe onde ninguém saiba sobre seu sangue nobre. Lá as filhas voltariam a brincar, nunca mais passariam todo aquele tempo absurdo estudando. Isabel não teria que se preocupar mais com nada, nem Leopoldina, e as três seriam felizes. 

Lágrimas caíam de seus olhos e molhavam seu travesseiro. A impossibilidade absoluta desse sonho só a fazia sentir mais dor. Não havia saída, Teresa sabia. Essa era sua vida; nunca haveria outra.

......

Mas o céu não para de se mover só porque uma mulher triste chora em sua cama. Havia dispensado Celestina quando ela lhe chamou para o almoço alegando dor de cabeça, mas quando caiu a noite sabia que não poderia continuar mais ali, e chamou a Baronesa para preparar seu banho.

Sua dama de companhia tinha o olhar tenso e preocupado enquanto olhava para ela. Era uma boa amiga, Celestina.

— Você viu os dois também, não viu? — disse Teresa enquanto desabotoava seu vestido. Sua voz projetava cansaço.

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⏰ Última atualização: Sep 08, 2021 ⏰

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