Querido Mar, [...]

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Sobre você.

Antes de qualquer coisa, só quero deixar claro que isso sou eu.

As palavras são tudo que eu tenho.

A propósito, perdão se não pareço convincente, o fato é que você acreditando ou não, continuarei usando-as. Sendo-as. Vivendo-as.

Não sou formada em letras, meu português não é extraordinário, não sei fazer poema ou algo parecido. Só escrevo o que sinto.

Sei que as palavras podem servir para manipular, deixar tudo ao nosso favor de um jeito "mafioso", pode-se assim dizer: mata e faz viver. Sei também que essas palavras são tão naturais como inspirar e expirar.

Quando elas saem quase sem querer podem soar de uma maneira totalmente diferente do que fora pensado, planejado, esperado.

Estou aqui, diante dessa tela branca, que aos poucos vai sendo pintada de letras, às 22 horas e tantos minutos.

Sabe por quê?

Porque escrever é o que me resta.

Ultimamente, venho pensando bastante no mar. Tenho o privilégio de morar numa cidade litorânea, assim posso ficar perto desse canto de imensidão chamado mar. É tão bonito, tão grande, assustador, calmo, infinito... O mar é o meu lugar favorito.

Nem sempre posso entrar e me deixar naquele abraço, às vezes só o observo de longe, contemplo... Admiro o jeito que ele tem de se comunicar comigo- tem tanto sentimento que até me identifico.

Nos dias de sol é tudo tão feliz, as ondas dançam uma dança lenta ou um pagode raiz, o vento sopra brisas afinadas com o timbre perfeito pra me relaxar (me deixam ficar por longas temporadas). Interagem com minha pele e meu cabelo dança junto, minha alma se sente mais perto de casa. Tem sintonia, alegria, esperança.

O mar é um lugar pra se inspirar, porém tem seus dias de ressaca. Às vezes, quando o céu tá cinza, ele corresponde à tempestade. Assusta com tanta revolta e ao mesmo tempo é  acalentador. O jeito que ele tem de se permitir sentir, trago pra mim. Sou eu nos dias frios. Eu estou ali.

Não lido muito bem com finais, a eternidade vive aqui dentro. Por isso, contemplo o horizonte. Ali tem a parte da poesia que diz "será para sempre". A gente se entende. É uma conexão. Falamos a mesma língua.

Não consigo parar de pensar nele. Tem dias que só queria vê-lo, alguns segundos dele me fazem muito bem. Esse luxo pode não ser necessário, mas o mar dissipa o barulho que o mundo faz e deixa tudo confortável.

Tenho medo de ficar longe. Algumas palavras de distância e já começo a me perder. Me perco na saudade, na vontade, no tempo.

Quando o vi pela primeira vez percebi que tinha algo incrível ali. Nem ousei explorar- ele veio, me mostrou, e eu me permiti enxergar.

É mais do que incrível.

Quando penso em uma descrição respiro fundo e só escuto o grito acelerado do meu coração. Não existe adjetivo, nenhum termo, nada parecido. O que vejo e nele é simplesmente indescritível.

Sinto-me sufocada, pois, sem o mar morro afogada. É um paradoxo como sempre fomos. Eu, ele, o sol e os sonhos.

Alguns minutos digitando e percebi que fui covarde. Tive medo das nuvens que nem eram de verdade. Perdi o sono e corri pra cá, impulsionada a te encontrar. Você é onde eu mais queria estar.

Verde ou cinza seu olhar é o meu azul oceano.

Mar, me perdoa,

eu te amo.

( Março de 2019, às 22h e tanto)

Não era pra ser sobre vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora