Cap 5 (O Recomeço)

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(DOZE ANOS ANTES)

- Prontinho querido, chegamos. Este aqui é o do seus pais. Vai falar lá com eles

- Largando a mão de Ângela, Pedro se aproximou do túmulo com a hesitação e timidez denunciados em seus olhos e movimentos mecânicos do corpo

– Você quer falar à sós com eles? Eu e o tio Ben vamos ali visitar o dos meus pais, tá bom? Você vai ficar bem sozinho? – Perguntou a mulher afagando os cabelos castanhos do garotinho com gentileza em seu rosto

- Mas...eu não sei o que dizer - Lamentou o menino tristonho – Você pode falar qualquer coisa meu bem... olha, começa contando a eles como foi este último ano, o que você fez na escola, o que aprendeu. O que o seu coração quiser falar

– Tá bom... – Concordou voltando o olhar para o belo porta-retrato, do casal retratado na fotografia sobre o tumulo de granizo – Ok então. Vamos Ben?

- O homem se aproximou do sobrinho e colocou a mão em seu ombro. O pequeno o olhou de volta: - nós estaremos bem ali, tá? Não saia daqui, para que possamos te enxergar de lá, tudo bem? - Sim... eu vou ficar aqui

– Muito bem, já voltamos

- Olhando bem para os rostos de seus pais naquela imagem, o garotinho quase não os reconheceu. Ele de fato estava vendo aquela fotografia pela primeira vez, mas, não foi isso que lhe causou estranhamento. A imagem que tinha de seus rostos em sua mente, aos poucos estavam perdendo a clareza, perdendo a sua silhueta em meio a escuridão em suas memórias. Se afastar de tudo o que lembrava eles, foi o jeito que encontrou para lidar com a perda ainda recente

- Oi pai... oi, mãe... – com certo esforço conseguiu começar a falar – Eu... Completei seis anos ontem... ainda tenho os presentes que me deram ano passado. O cubo magico que a mamãe me deu, eu só resolvi semana passada... é que eu tinha deixado ele dentro do baú que o papai me deu, por todo esse tempo... – Esse foi o máximo de palavras que conseguiu falar antes de caírem as lagrimas - Desculpa por não ter vindo antes... eu não consegui...eu queria, mas, não consegui – Não conseguindo falar mais nada, apenas chorou. Seus olhos embaçados se fecharam. Com a cabeça curvada para o chão, suas mãos apertavam o seu peito através da camisa

- Ele não parece bem, vamos voltar lá – Ângela parou quando Ben a segurou pelo braço

- Querida, deixa...ele precisa disso, desse momento

– Mas, Ben, ele está chorando, precisa de um conforto, de um abraço

– Agora ele só precisa chorar. Vamos deixar ele sozinho mais um pouco, vai fazer bem pra ele: ei... está tudo bem – Completou deslizando a mão pelo braço da esposa segurando seus dedos finos e delicados – Vem, senta aqui comigo, vamos aguardar um pouco – Mesmo hesitante, cedeu

- Se o seu pai ainda estivesse vivo surtaria ao nos ver sentados no tumulo da sua família – Esse foi o jeito de Ben mudar o assunto

– Ah, com certeza, ele ficaria louco – Ela respondeu. O plano parecia ter funcionado

Sim ele certamente diria algo como...

" O que vocês estão fazendo? Se levantem daí! Que falta de respeito com os mortos"

- Sim, seria algo do tipo – Ela concordou

- E pra completar, ele diria algo como...

"No meu tempo..." E aí começaria com o blá blá depois. - Com esse comentário descontraído e encenação teatral, Ben tornou o sorriso ao rosto da esposa

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