ALÍPIO ARCHERON
O som da chuva era o único companheiro estável de Alípio naquela noite monótona. Ele estava perfeitamente acomodado no sofá carmim da biblioteca, os olhos percorrendo incansavelmente o idioma desconhecido do diário que lhe fora entregue horas antes por um macho completamente desconhecido.Em circunstâncias diferentes, Alípio jamais teria levado a sério um macho aparentemente louco que aparecera para ele em um beco qualquer de Velaris e lhe entregara um diário longevo e empoeirado. A princípio, Alípio supôs que ele era apenas um andarilho ou talvez uma daquelas pessoas que acreditavam que feéricos eram reencarnações de deuses e mereciam adorações, embora Alípio não fizesse ideia de como um humano conseguiria chegar ao lado feérico, ou até mesmo a Velaris. No entanto, apesar de humano, o macho lançou a Alípio um olhar tão recheado de pânico e ao mesmo tempo confiança que Alípio não conseguiu fazer outra coisa além de fechar os dedos ao redor do diário e observar o macho correr em direção à neblina da noite, sumindo logo em seguida.
Talvez Amren estivesse certa, e a curiosidade e anseio de Alípio por respostas um dia o levariam até o túmulo, porque agora o herdeiro da Corte Noturna estava em casa, mais especificamente isolado de todos há três horas na biblioteca, e tentando ler o que aquelas palavras diziam, embora o idioma fosse tão complexo que as letras não formavam conexões compreensíveis. Parecia ser uma linguagem antiga, pois usava recursos pouco adaptáveis para qualquer idioma atual.
Alípio não sabia o que ele esperava encontrar exatamente, só sabia que havia uma forma gravitacional muito forte o atraindo para aquele diário, instigando sua curiosidade. Talvez ele devesse perguntar a Amren no dia seguinte se ela conhecia aquele idioma. Sua tia parecia ser o exato tipo de pessoa que tinha respostas para todas as perguntas, incluindo as mais inesperadas e sombrias.
- Você acha que devemos ir embora e deixar o pobre garoto com seu momento de introspecção ou sussurrar xingamentos até que ele venha até nós? - Uma voz masculina distinta substituiu o silêncio antes apreciável. Alípio revirou os olhos.
- Não acredito que fomos trocados por livros e solidão noturna. - Outra voz masculina respondeu à primeira. - Estou me sentindo um pouco desvalorizando aqui, Conan.
- Da próxima vez, me lembrem de deixá-los amarrados à coleiras para que não me persigam em todo lugar como malditos cães - replicou o Archeron e fechou o diário rapidamente, colocando-o na pilha de livros. - O que estão fazendo aqui? Sentiram saudades de ter algo bonito para o qual olhar?
Conan e Aleksander saíram das sombras e caminharam em direção ao amigo. Conan parecia ter recém saído de uma briga, com cortes enfeitando a lateral do rosto e sangue manchando as vestes que pareciam um dia terem sido roupas inteiras e limpas. Aleksander, por sua vez, parecia bastante satisfeito consigo mesmo, uma pequena bolsa de ouro tilintando em sua mão enquanto ele se sentava no sofá e Conan se jogava na poltrona ao lado.
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sea of mermaids and beasts | ACOTAR
FanfictionApós a guerra de Cetus há dois anos, Alípio Archeron ainda sofre com as sequelas deixadas pela batalha violenta na qual protagonizou um papel indispensável para a vitória. Paralelo a sua luta contra os próprios demônios adquiridos durante aquela tem...