ALÍPIO ARCHERON
Alípio tentou ignorar o bombardeiro de olhares curiosos e desacreditados que lhe foram lançados quando ele passou pelo corredor sinuoso da mansão. Suas vestes escuras reluziam em constrate com o branco límpido do piso e das paredes, e Alípio parecia um ponto de escuridão em meio ao brilho lustroso do lugar. Com o braço preso ao dele, Reyna parecia tão deslocada e desconfortável quanto alguém em sua posição poderia estar. Embora seus costumes e comportamento remetessem à realeza antiga, Alípio conseguira a transformar em algo elegante o suficiente para que todos a vissem como a princesa que ela era. Pelo menos ela era bem versada sobre as regras de etiqueta. Seria no mínimo doloroso para Alípio tentar dar aulas de formalidade para Reyna e correr o risco que ela furasse seu olho com um garfo.
- Pare de tentar arrancar meu braço, por favor. Eu ainda o quero - murmurou Alípio entre dentes, puxando suavemente o braço para longe de Reyna, mas ainda sem tirá-lo de seu alcance.
- Talvez eu devesse arrancá-lo. Afinal, isso tudo é culpa sua - ela grunhiu, a selvageria escondida atrás da maquiagem e sorriso forçado.
- Oh sim, me desculpe - replicou Alípio, ultrajado. - Esqueci que eu coloquei uma faca na sua garganta e a obriguei a concordar com o plano. Erro meu.
Reyna revirou os olhos, e Alípio quase a repreendeu. A sorte deles é que já estavam mais afastados do aglomerado de pessoas no salão principal, senão seria no mínimo estranho para os convidados ver o quão desconfortáveis Alípio e Reyna pareciam com a presença um do outro, partindo do princípio que eles eram um suposto casal.
- Pela Mãe, por que está tão nervosa? - Perguntou Alípio, guiando-a em direção à sala de jantar. - Não sei dizer se é fofo ou assustador.
Reyna enviou um olhar assassino a Alípio.
- Assustador, então - o macho murmurou e balançou a cabeça suavemente, como se perguntasse a si mesmo como fora parar naquela situação.
Enquanto caminhavam, braços entrelaçados e corpos alinhados, Alípio observou os detalhes artísticos do palácio do Grão-Senhor da Corte Crepuscular.
Naquela noite estaria acontecendo uma reunião de negócios entre as cortes seguida por um jantar. Era a ocasião perfeita para o anúncio do casamento, já que todas as pessoas relevantes do sistema hierárquico estariam presentes.
- Não gosto disso. - A voz de Reyna o despertou de seu momento pensativo, e ele arqueou as sobrancelhas para ela, sem entender a raiz de sua fala. Ela continuou:
- Nunca gostei disso, na verdade. A exposição, a obrigação de ser sempre o centro das atenções, a necessidade de validação. Acho estúpido e me deixa desconfortável. Desde que eu era princesa, costumava correr dos bailes para me esconder no meu quarto.
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sea of mermaids and beasts | ACOTAR
FanfictionApós a guerra de Cetus há dois anos, Alípio Archeron ainda sofre com as sequelas deixadas pela batalha violenta na qual protagonizou um papel indispensável para a vitória. Paralelo a sua luta contra os próprios demônios adquiridos durante aquela tem...