Prólogo

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Era noite quando Dandare chegou em casa. Com as bostas cheias de lama e sobretudo molhado pela chuva forte que caía do lado de fora, o homem cruzou a soleira às pressas tirando o casaco e sujando o chão de madeira com lama. Ele sabia estar atrasado, mas no fundo ainda tinha uma pequena esperança de chegar a tempo. Dandare cruzou às pressas o casebre, indo em direção ao quarto e chamando por sua esposa.

_ Medrid! _ gritou com sua voz grave. _ Medrid. Eu cheguei querida!

_ Xiiiiu! _ veio a resposta de dentro do quarto.

Por pouco Dandare, um homenzarrão de quase dois metros de altura e pelo menos cento e vinte quilos, não atropelou Kiora que saia de dentro do quarto.

_ Eu perdi? _ Perguntou ofegante e ansioso. _ Ela já...

_ Sim, você perdeu. _ Respondeu calmamente. _ Já fazem algumas horas, Medrid está dormindo agora. Ela precisa descansar.

_ E ele? Deu tudo certo? _ Questionou apreensivo.

_ O que te leva a pensar que é ele? _ Kiora perguntou com tom e expressão sérios. 

_ É uma menina? _ Dandare murchou um pouco.

_ Não. É um garoto. _ Respondeu em um tom levemente zombeteiro e cara séria se desfez num pequeno sorriso cansado.

Dandare se inflou e em seu rosto abriu um largo sorriso cheio de dentes.

_ Isso! _ Comemorou. _ Eu sabia!

_ Shiiiiiiu! Você vai acordar a Medrid. _ Disse Kiora com o semblante mais uma vez sério e reprovador.

_ Desculpa. Eu me empolguei... _ Dandare murchou outra vez encolhendo os ombros.

Kiora era pequena, bem menor que Dandare, com não mais que um metro e sessenta. E já com seus cinquenta e poucos anos, ela passava o ar de uma senhora frágil e delicada. Era engraçado como aquela pequena mulher conseguia impor sua vontade numa besta do tamanho de Dandare.

_ Amor... É você? _ Veio a pergunta de dentro do quarto.

Dandare passou por Kiora que bloqueava o caminho e entrou no quarto devagar, quase com delicadeza, e viu a figura de sua bela esposa recostada na cama segurando seu bebê no colo. Ela parecia fraca e cansada, exausta para falar a verdade. Ele estancou, parado na porta. Com seus olhos ficando marejados ele se aproximou cuidadosamente da cama e se ajoelhou ao seu lado. Medrid se ajeitou, ficando sentada na cama, e aproximou seu bebê do marido para ele poder vê-lo.

_ Ele é lindo... _ Disse Dandare à beira do choro franco. _ Você já escolheu o nome?

_ Ele é mesmo lindo. É o bebê mais lindo desse mundo. _ Respondeu a jovem mulher. _ E sim. Já escolhi o nome. Motuki.

_ Motuki é? _ Grunhiu o homem com uma expressão pensativa. _ É um bom nome. Eu gostei.

Dandare ficou calado, observando o bebê recém nascido. Alguns pensamento lhe corriam pela cabeça, pensamentos difíceis de evitar. Será que ele seria como o pai? E se fosse, será que ele seria aceito na Família? O que pensariam os outros? A expressão dele toldou-se e deve ter ficado bastante séria pois Medrid notou.

_ Há algo errado Dandan? _ Medrid questionou com um ar preocupado.

_ Hã? Que? Não... _ Respondeu debilmente numa falha tentativa de acalmar sua esposa.

_ Não é o que parece. _ Disse Medrid imitando a cara de preocupação de Dandare. _ Você só faz essa cara quando está pensando em algo sério. O que te preocupa meu bem? E não minta pra mim.

A Guerra da Noite EternaOnde histórias criam vida. Descubra agora