Corpo inerte

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_ Corra com isso seu pedaço imprestável de carne podre! _ Gritou um homem de aspecto imundo, retorcido e sem vida.

_ Estou indo o mais rápido que posso mestre Viktor. _ Respondeu com voz submissa e admirada o homem que puxava de uma poça de lama uma caixa de madeira. _ Com todo o respeito senhor. Mas eu disse que era uma boa ideia trazermos...

_ CALE A MALDITA BOCA E PUXE LOGO ESSE CAIXÃO! _ Berrou o velho, com uma voz tão rouca que mal chegava a sair. _ Eu juro por todos os demônios que se você não tiver terminado com isso até o raiar do sol vou deixar-lhe sem meu sangue por um mês.

Os olhos do homem se arregalaram de genuíno pânico. Ele fez força para puxar a corda que se ligava ao caixão de madeira, tanta força que seus ossos doíam e seus músculos estavam a beira de se romper. E continuou a puxar mesmo depois de a corda ferir sua pele e deixar a mostra sua carne. A visão daquele homem era deplorável, magro, fraco, assustado e mutilado. Resultado de pouco mais de um ano de servidão ao seu generoso e amável mestre.

O homem continuou a puxar até que o caixão saísse completamente da lama. Olhou para seu mestre com adoração e suplica. O mesmo retribuiu o olhar, mas neste havia pouco mais que um leve bruxulear de ódio e desgosto.

_ Pronto! Viu? Não foi tão difícil. _ Respondeu Viktor com asco e condescendência na voz. _ Agora, faça-me o favor de colocar o caixão na porcaria da carroça!

O homem, desesperado por atender as ordens de seu mestre, apreçou-se a dar um jeito de içar um caixão de madeira pesada, que facilmente ultrapassava os duzentos e cinquenta quilos. Com um esforço sobre-humano ele conseguiu colocar uma das extremidades da caixa na beirada da carroça. Porém no momento em que tentou erguer a outra ponta seu corpo havia atingido seu limite físico, seus joelhos estalaram e sua coluna dobrou-se para trás em uma posição completamente anti-humana. Em seus últimos instantes de dor e agonia ele contemplou o rosto de seu amo querido e chorou.

O baque do caixão faz assustar o cavalo de tração, que ao dar alguns passos incomodado acabou por derrubar a ponta já erguida da incrivelmente pesada peça de madeira. O som da caixa se quebrando foi forte e grave, e fez Viktor desviar a atenção para o buraco aberto na caixa.

Dentro da caixa havia um cadáver, não um corpo putrefato e horrível como seria de se esperar, mas sim um homem belo de traços nobres que não aparentava muito mais que apenas um sono profundo e tranquilo.

Viktor se aproximou, terminou de remover os pedaços de madeira que guardavam o corpo e contemplou. Estava tão bem preservado que o próprio velho tinha medo de ver o tórax do corpo se mexer durante um suspiro mais profundo. E após um tempo até ter completa certeza de que o cadáver não estava vivo, começou a inspecionar por conta própria o corpo. Seus dedos tortos e murchos passaram pelos cabelos e pelo rosto do morto, rasgaram-lhe a roupa e encontraram uma leve protuberância em seu peito.

O velho horrendo tentou perfurar o caroço com uma de suas unhas grandes e afiadas, o que resultou em apenas uma unha quebrada e um olhar de espanto. Pegou então sua adaga e fez força contra a elevação no peito do morto, a faca entrou pouco mais que alguns milímetros e parou. O velho puxou a adaga e, quase, instantaneamente a perfuração foi regenerada e onde haveria um corte de pelo menos dois centímetro não havia nada se não pele nova e fresca.

_ É claro! _ Admirou-se Viktor. _ Não está de fato morto, não pode ser destruído. Mas também não está vivo. É apenas um corpo inerte, amaldiçoado. Nem isso. Apenas um recipiente onde está o resquício do poder supremo. Isso tornará as coisas muito mais interessantes.

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⏰ Última atualização: Jul 25, 2020 ⏰

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