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Liam via o tempo passar vagarosamente, ansiando por enfrentar seu rival. Tamborilando os dedos na capa do diário, tentava reunir forças para abri-lo. Houve uma batida à porta de seu quarto.

– Charles?! – Liam se deparou com o garoto, cujo rosto estava em choque. – Está tão pálido! Entre!

Liam o conduziu até a cadeira junto à escrivaninha e esperou que Charles se sentisse à vontade.

– Detesto ser o portador de más notícias.

– Amy está bem? – Ele se afligiu.

– É o noivo dela... Minha irmã não para de chorar.

– O que ele fez? Diga, Charles! – Ele sacudiu o jovem pelos ombros, que o encarou aturdido.

– Ele morreu! O navio afundou! Minha mãe pensou que você pudesse ajudar Amy, mas...

Liam disparou porta afora antes que Charles pudesse dizer mais e atravessou a rua sem se certificar se era seguro. Ele encontrou a moça sentada na grama, com o olhar vago, perdido. Ela não resistia à torrente de lágrimas que lhe escapava.

– Amy... – Ele se ajoelhou a seu lado.

Instintivamente, Amy envolveu-o em um abraço.

– É tudo culpa minha!

– Não é verdade.

– Eu cogitei romper o compromisso e agora...

– Não é culpa sua, Amy!

– Como pode ser tão compreensivo? Eu te rejeitei! Ande, grite comigo! – Ela agarrou sua camisa – Vamos, grite!

– Eu não vou fazer isso.

– Eu mereço ser punida! – Suas costas tremiam – Qualquer coisa para tirar esse peso de mim!

– Isso não vai fazê-la sentir-se melhor, Amy.

Liam afastou o cabelo de seu rosto.

– Preste atenção: nada do que está passando é recente. A história é bem longa, aliás.

Amy o encarou com os olhos vermelhos.

– Como assim?

Então Liam contou a ela a respeito de suas vidas passadas, de como eles sofreram desde o início. Atônita, Amy não questionava a veracidade dos fatos. Aos poucos foi secando as lágrimas e ficando mais atenta.

– Garib não podia ser o monstro que você descreveu! Ele era polido! Um verdadeiro cavalheiro!

– Você mesma me contou sobre a sensação que a motivou a aceitar o compromisso!

Amy resistia em acreditar.

– Tenho certeza de que Garib era a melhor versão de si mesmo – prosseguiu Liam – , mas o amor que sinto por você é genuíno, Amy.

– Eu preciso ficar sozinha! Vá embora!

Aborrecido, Liam anuiu e se retirou em silêncio.

Amy se trancafiou no quarto, dedicando-se a pesquisar épocas passadas; ela até pediu que seu irmão buscasse o diário de Laurence. Amy foi aceitando a realidade aos poucos, tendo o fato de seu amor por Liam ter resistido através dos séculos como uma âncora que a manteve sã.

A culpa pela morte de Garib, entretanto, ainda afligia a moça. Ela se dedicou a investigar como fora o acidente, fazendo recortes em jornais e buscando alguma evidência de que a família de Garib teria o consolo de enterrar seu corpo.

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