O lobo mau

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Eram duas da manhã do dia 13 de outubro de 2013 quando Christine Goss acordou no meio da noite com o som de algo batendo.
A menina não saiu da cama, pois imaginava que o som apenas fazia parte de mais um de seus conturbados sonhos.

Então ela apenas ficou deitada e encarou o teto, esperando que seu sono retornasse.
Sua avó dormia no andar de baixo, depois de mais um dia de trabalho na padaria da rua.
As sombras projetavam os galhos do lado de fora.

Christine estava quase pegando no sono quando algo bateu em sua janela.
Dessa vez mais alto, excluindo a possibilidade de sonho.

Chris se levantou e olhou para a rua.
Mesmo sendo uma noite escura os postes iluminavam a calçada e ela podia ver o que havia lá fora.

A causa do incômodo poderia ter sido um pássaro ou algum outro animal silvestre, poderia ter sido qualquer coisa.

Em vez disso, o que ela viu lhe assombraria pelo resto de sua vida.

Do lado de fora, na calçada oposta à de sua casa, havia um carro.
E, quando baixou os olhos, o percebeu.
Parado, com o que pareciam ser pedras em uma mão e uma faca na outra, havia um lobo em sua calçada.

Era uma fantasia esquisita, como se fosse propositalmente mal feita;
As orelhas estavam tortas, meio mal costuradas, os olhos eram só círculos pretos que assombravam seu semblante.
O focinho longo era da cor de um céu cinzento e ele usava uma gravata vermelha.

O mais assustador de tudo isso era que ele olhava fixamente para a janela de seu quarto quando jogou uma pedra.
Christine descobriu de onde o barulho vinha.

Talvez fosse o fato de estar olhando diretamente para a janela dela ou pelo horário já avançado da noite, ou mesmo por estar sozinha no escuro, alguma coisa naquele lobo não parecia certa.

Ela sabia que se ligasse para a polícia eles demorariam a chegar e o estranho já teria ido embora.
Christine sabia que a porta de sua casa estava trancada, e que sua janela estava fechada e fora do alcance da criatura.

Então ela estava segura.
Ou deveria estar.

Então ela só ficou parada, encarando o lobo sem saber exatamente o que esperar.
Até que ele soltou as pedras e começou a andar para trás, sem jamais tirar a atenção da casa, da janela dela, dela.
Bom, talvez ele fosse embora agora, foi o que pensou.

Mas o que Cristhine não sabia é que o lobo estava pegando impulso.

Ele correu em direção à porta e deu um chute.

Na mesma hora a menina trancou a entrada de seu quarto e discou o número da polícia.
Enquanto o fazia, ela escutou a madeira da porta de entrada ceder.

Fez-se um breve momento de silêncio.
A única coisa que ela podia escutar era o som de sua própria respiração e seus batimentos acelerados.

Quando a atendente do outro lado da linha perguntou o que estava acontecendo, Chris escutou passos na escada.
E eles vinham em sua direção.

Ela tenta explicar enquanto abre sua janela, que emperrou pela metade.

O lobo agora jogava seu corpo contra a madeira da porta que os separava.

A porta que a mantinha viva.

Thump.
Thump.
Thump.
Clack...

A porta cedeu.

Quando entrou no quarto, a única coisa que ele pôde ver foi o celular jogado na cama e a janela aberta.
Apenas anos mais tarde o assassino se arrependeria de não ter olhado embaixo da cama.

Crônicas raquíticas são chamadas de contos Onde histórias criam vida. Descubra agora