Athame: Ar ou Fogo?
Edward Waite publicou seu livro chamado "The Pictorial Key to the Tarot" juntamente com seu baralho em 1910. Waite era um Cabalísta e membro da Golden Dawn. Neste livro Waite estabeleceu muitos dos simbolismos que se tornaram padrão na interpretação do Tarot e seu entendimento simbólico. Esta obra se tornou uma referência e influenciou praticantes de diversos sistemas mágicos que passaram a adotar a simbologia estabelecida e lá demonstrada por Waite.
Alguns estudiosos afirmam que como Waite tinha um voto de segredo junto a Golden Dawn, ele inverteu as correspondências fogo/ar dos naipes para preservar o seu juramento. Os que afirmam isso dizem que ele não podia inverter o significado óbvio de copas e sua ligação com o elemento água e que da mesma forma seria impossível substituir o naipe de ouros, visto que sua ligação com o dinheiro e a terra também é demasiadamente direta. Desta forma, a Golden Dawn associava o ar com bastos e fogo com espadas e Waite inverteu estes naipes associando bastos com o fogo e ar com espadas. Assim, afirma-se que ele decidiu usar espadas e bastos para despistar os não iniciados, pois além de sua natureza abstrata estes naipes não estavam tão em voga no século passado. Muitos dizem, então, que foi assim que surgiu a correspondência athame/ar e bastão/fogo e que por esse razão ela está errada e que é hora de desfazer esse equívoco e relacionar o athame com o fogo e o bastão com o ar nos rituais de Bruxaria.
Para a maioria dos praticantes de magia é difícil desassociar o simbolismo ar/espadas, fogo/bastos em função do uso comum entre os muitos sistemas mágicos e praticantes. Eu mesmo fui ensinado a usar o athame para o ar e o bastão para o fogo e assim procedo até os dias de hoje.
Será que Waite realmente inverteu os naipes como afirmam alguns? Ou será que esta afirmação é fruto de especulações e visões particulares sobre a correspondência existente entre os elementos e os instrumentos mágicos e uma desculpa sem fundamento para dar aos Instrumentos novas correspondências? Se olharmos em alguns mitos vamos ver que a Espada e o quadrante leste (ar) e o bastão e o quadrante sul (fogo) já estavam associados um ao outro milhares de anos antes da própria publicação do livro de Waite. Um exemplo claro disso é o Mito das 4 Jóias dos Celtas.
O mito diz claramente que entre os Celtas existiam 4 cidades nas quais se aprendiam a ciência, o conhecimento e as artes sagradas. O mito prossegue dizendo que em um determinado ponto os Deuses decidem trazer estas 4 Jóias do Outromundo para este.
Mirdyn traz, então, a Pedra do Destino, de Falias, a cidade ao norte dos Tuatha. Ogma traz a Espada da Luz de Findias (leste), a gloriosa cidade das nuvens que ficava ao Leste.
Nuada traz a Lança da Vitória de Gorias, a cidade do fogo brilhante ao sul. Dagda traz o Caldeirão da Fartura de Murias, a cidade construída na quietude das águas profundas à oeste.
Assim, podemos perceber claramente que estas quatro jóias nos remetem simbolicamente aos 4 Instrumentos Mágicos:
Pedra do Destino (Lia Fail) = pentáculo
Espada da Luz = athame/espada
Lança da Vitória = bastão
Caldeirão da Fartura = cálice/caldeirão
Assim, não vejo motivo algum para mudar a Tradicional correspondência ar/athame e bastão/fogo usada há tanto tempo.
Se for verdade que as correspondências dos elementos encontradas no "Pictorial Key to the Tarot" estão invertidas, jamais saberemos. Isto se trata apenas de especulação de alguns ocultistas, já que o próprio Waite não deixou nada escrito sobre esta provável inversão feita por ele que alguns alegam que foi feita para preservar seus juramentos de segredo e manter os Mistérios longe dos olhos dos não Iniciados. Entre especulações e suposições das pessoas e referências encontradas em mitos, particularmente prefiro o simbolismo mitológico.
Obviamente tanto o simbolismo tradicional (ar/espada e fogo/bastão) quanto o especulativo (ar/bastos e fogo/espadas) tem sua lógica.
No simbolismo tradicional, além de toda a parte mitológica já exposta acima, podemos observar que uma espada quando balançada no ar reproduz o som dos ventos e que o bastão é uma versão moderna das varinhas usadas na antiguidade para criar "milagrosamente" o fogo através da fricção, além da madeira ser o combustível natural para este elemento.
No simbolismo especulativo, vemos que uma espada para ser feita precisa ser temperada no fogo e que o bastão é feito dos ramos de árvores, que ficam suspensas no ar e são balançadas pelos ventos .
Ambos os simbolismos estão corretos. O que vai determinar o usado é aquele que fizer mais sentido para você. si.
Correspondência para Quadrantes
Norte/Terra, Leste/Ar, Sul/Fogo, Oeste/Água é uma correspondência elemental que foi estabelecida através da observação da natureza no hemisfério norte. Lá, quanto mais para o norte se vai mais frio e escuro é (terra); quanto mais para o sul se vai mais quente é (fogo); a maioria das fontes de água, rios e lagos estão a oeste; do Leste sopram os ventos que trazem as frentes frias e alterações climáticas e é onde nasce o Sol (Ar).
O mesmo acontece no que se refere ao sentido horário para traçar o Círculo Mágico. Lá, o sol anda aparentemente no sentido horário indo de leste para sul e depois oeste.
Mas como ficam aqueles que vivem no hemisfério sul ou mesmo as que vivem no hemisfério norte, mas em regiões onde o clima é completamente diferente daquilo que é considerado convencional? Como fica o sentido de lançamento do Círculo para aqueles que vivem no hemisfério sul, onde o movimento do sol se dá de forma oposta ao do hemisfério norte, andando no sentido anti-horário, indo de leste para o norte e se pondo no Oeste?
Quando a Bruxaria chegou ao hemisfério sul, houve uma verdadeira confusão sobre qual convenção deveria ser adota: aquela corrente no hemisfério norte e sustentada pela egrégora ou a uma adaptada ao clima e fenômenos naturais, sustentada pela natureza?
Isso acabou por gerar uma prática variada entre os muitos grupos de Bruxos e praticantes solitários. Assim, existem os que adotam a convenção tradicional usado no hemisfério norte e os que fizeram a inversão para adaptá-la ao hemisfério sul.
No Brasil, por exemplo existem várias possibilidades para determinar qual elemento está ligada a um quadrante dentro do Círculo.
Vamos analisar algumas delas:
1ª Opção
Norte/Fogo: quanto mais para o norte se vai, mais calor é
Leste/Água: o mar fica a Leste
Sul/Terra: quanto mais para o sul se vai, mais frio é
Oeste/Ar: grandes espaços abertos que fazem com que o ar circule livremente
2ª Opção
Norte/Fogo: quanto mais para o norte se vai, mais calor é
Leste/Água: o mar fica a Leste
Sul/Ar: de onde vêm as grandes concentrações de ar
Oeste/Terra: existem as grandes concentrações de terra
3ª Opção
Norte/Terra: existe uma grande concentração de terra quanto mais para o norte se vai
Leste/Fogo: o sol nasce no leste. O sol traz calor e é nada mais que uma grande bola de fogo
Sul/Água: existe mar também ao sul do país
Oeste/Ar: grandes espaços abertos que fazem com que o ar circule livremente
Assim sendo, percebemos que praticamente todos os elementos podem estar associados a um diferente quadrante de acordo com as correspondências adotadas individualmente. O que determina se um quadrante está ligado a um ou outro elemento é a correspondência que decidimos usar e que fizer sentido para nós: grandes espaços de terra ou relação do frio para a terra? De onde vem o calor ou em qual direção nasce a fonte de calor que aquece toda a humanidade? E assim sucessivamente...
A conclusão que chegamos com tudo isso é que independente onde estejamos, e quais recursos naturais tenhamos ao nosso dispor em maior ou menor escala num ou noutro quadrante e de acordo com o hemisfério onde estamos, encontraremos todos os elementos em qualquer ponto cardeal.
Desta forma, eu adoto a correspondência convencional e tradicional para invocar os elementos norte/terra, leste/ar, sul/fogo, oeste/água pois creio que voltar-se para os quadrantes e invocar os elementos para dentro do Círculo é apenas uma convenção para chamar os Espíritos da terra, ar, fogo e água para nossa prática e estas forças de vida estão em todos os lugares. Para onde quer que você vá haverá terra, ar, fogo e água. Todo ritual é uma representação simbólica da Criação e por isso é importante invocar os elementos para os nossos ritos já que eles são a base de toda Criação e fonte da sobrevivência. Assim, a invocação aos quadrantes é apenas uma maneira simbólica de reverenciar estas forças de vida e reconhecer sua importância em nossos rituais e chamá-las para compartilhar conosco de nossos rituais. Os elementos são a base e fonte da existência e eles e seus espíritos só não existirão onde não houver vida.
Existe uma quarta opção de correspondência para os elementos que poucos Bruxos abordam e que também é efetiva. Esta opção é a de mudar a correspondência dos quadrantes à cada ritual, situando os elementos em um ou outro ponto cardeal de acordo com as fontes naturais mais próximas disponíveis no local onde realizamos um ritual. Assim, se estou em um local para fazer o meu ritual e existe um lago no norte é lá que situarei a água. Se existe um campo de plantação a oeste é lá que representarei a Terra e assim sucessivamente.
Dessa forma, representar os elementos nesse ou naquele quadrante quando se vive fora do hemisfério norte é apenas uma questão de opção e nenhuma escolha é melhor que a outra. Todas são válidas. Você deve tentar as muitas opções até encontrar a que funciona para você, individualmente. Esta é a melhor forma de definir em qual quadrante representará cada elemento.
Outra dúvida corrente relaciona-se a posição do altar. Existem alguns grupos de Wicca que posicionam o seu altar para o Norte, outros para o Leste. Qual seria a forma correta?
A maioria dos grupos inicia o lançamento do Círculo começando pelo norte. Isso acontece exatamente porque este ponto cardeal é o eixo magnético da Terra, onde quer que estejamos. É o ponto de maior concentração de energia. O Norte está ligado a Terra e é sobre ela que todos os outros elementos se sustentam. Daí a grande importância desta direção para a prática da Wicca.
Para os povos da antiga Europa, os Deuses moravam em uma grande colina que ficava ao norte. Lá os ventos frios e do inverno, que determinam a vida ou a morte, provém do norte. Talvez este tenha sido o fator preponderante que tenha ligado este quadrante com moradia dos Antigos Deuses. Sendo a Wicca uma religião matrifocal, fica claro que a deferência feita ao norte se dá pelo fato dele estar ligado à Terra, ao ventre da Deusa.
O Leste está ligado ao ar, um elemento masculino. É no leste que nasce o sol e ele é considerado o Deus para muitas das Tradições Wiccanianas. Posicionar o altar no leste parece não ser muito apropriado e é um dos resquícios da Magia Cerimonial que ainda persiste na Wicca.
A correspondência Norte/Terra = Deusa, é obviamente muito mais amplo e rico para a Wicca. Nesta posição o altar também passa a representar a gestação dos processos mágicos que estão sendo realizados sobre ele. Assim como a Terra nutre e gesta a semente, o mesmo o altar fará com o nosso desejo.
Mulher, Deusa, Início da Vida e o Respeito
à Diversidade
A Wicca é uma religião matrifocal.
Matrifocal significa "Foco na Mãe". Este termo foi cunhado pelas pessoas que iniciaram a exploração das religiões centradas no Sagrado Feminino para se referir às práticas e Tradições centradas na figura da mulher e da Deusa. Praticamente todas as Tradições de Wicca são matrifocais. Mesmo as Tradições mais rígidas, engessadas e que observam altamente o conceito das polaridades, como as Gardneriana e Alexandrina, podem ser consideradas ao menos matriduoteístas.
Nestas Tradições o Deus é visto como filho e consorte da Deusa. Ele não é o Criador e sim o co-criador e mantenedor de toda existência gerada à partir da Grande Mãe. O conceito da Deusa, como criadora de toda vida, se expressa inclusive nas formas rituais destas Tradições onde a mulher (representante humana da Deusa) lança o Círculo Mágico para os rituais. Isso possui um simbolismo profundo, o Micro representando o Macro. A mulher/Sacerdotisa (a Deusa) cria o Círculo (mundo) onde seus filhos (Coveners)19 realizarão seus feitos (magia). O homem/Sacerdote (o Deus) a auxilia nesse processo (co-cria o mundo), enquanto a Sacerdotisa lança o Círculo ao redor. A criação e lançamento do Círculo, assim, é uma representação alegórica da própria criação do universo e do mundo.
Poderíamos dizer que na verdade a maioria das Tradições Wiccanianas são matriduoteístas, ou seja, celebram feminino e masculino, mas percebem o Sagrado Feminino como a fonte criadora de toda a vida.
A grande verdade é que você pode fazer Wicca somente com a Deusa, com a Deusa e com o Deus, mas só com o Deus seria impossível.
A explicação é simples: Toda a vida vem da mulher.
O homem é participador da vida, mas não o gerador dela. A força da vida é infinitamente mais feminina do que masculina.
Até cientificamente podemos ver atualmente estudos e mais estudos sobre a fecundação sem a presença de espermatozóides (vamos traduzir religiosamente como sendo sem a presença do Deus/Homem) como algo altamente possível. O mesmo já não pode se dizer sobre a fecundação sem o óvulo (vamos traduzir religiosamente como sendo sem a presença da Deusa/Mulher). Há estudos que indicam isso como algo possível e que levam muitos cientistas a pensarem que o
19
Coveners é como se chamam conjuntamente os integrantes de um Coven.
masculino surge, em algum momento da história, como uma transformação natural à partir do feminino.
Um experimento foi feito com camundongos pela equipe da cientista Orly LachamKaplan, da Universidade de Monash em Melbourne (Austrália). Os pesquisadores pegaram uma célula somática - qualquer uma do corpo à exceção das reprodutivas (espermatozóide e óvulo) - e a quebraram no meio usando substâncias químicas. Com isso, metade do número de cromossomos foi expulso. A etapa seguinte foi a fecundação dos óvulos por outras células, também nãoreprodutivas e divididas ao meio, que fizeram o mesmo papel do espermatozóide numa fertilização tradicional.
Desta forma, poderíamos dizer que o feminino é o princípio da vida, a causa primeira de toda existência. Isso por si só seria motivo suficiente para que os Pagãos não se sentissem ofendidos com o fato de alguns escolherem celebrar apenas o Sagrado Feminino, da forma que Diânicos como eu fazemos.
Se você não concorda com esta visão, está Ok. Os Diânicos respeitarão a sua opção de escolha por uma forma de prática mais "polarizada", onde a Deusa e o Deus estejam em pé de igualdade ou quase. A forma Diânica de Bruxaria pode não ser uma prática compreensível e válida para todas as pessoas, mas é para alguns e por isso deve ser respeitada.
O único problema dos Diânicos com Bruxos que enfatizam a observação estrita das polaridades não é fato deles darem ao Deus e o Sagrado Masculino a mesma importância que o Feminino, mas sim de quererem forçar todos a aceitarem tanto o Sagrado Masculino quanto a sua visão como a única verdade quando muitos sentem que cultuar o Deus não é algo totalmente necessário. Diferenças são saudáveis e desde que elas não firam os princípios básicos da Arte e não sejam incompatíveis devem ser celebradas como algo positivo.
Muitas são as pessoas que acreditam que a manifestação primeira da vida física foi feminina. Isso é facilmente explicado, não só pela visão simbólica como a ilustrada anteriormente, sobre o fato de somente a Sacerdotisa poder lançar o Círculo nas Tradições Gardneriana e Alexandrina, como também em função dos fatos cientificamente comprovados.
Transcrevo uma pequena parte do livro "O Corpo da Deusa" da Rachel Pollack para exemplificar este conceito melhor:
"Os achados da biologia e da evolução reforçam a primazia do feminino. Os biólogos descrevem os primeiros organismos como femininos[...]
No decorrer da longa evolução, a introdução do masculino ocorre bem mais tarde, e pode ser chamada de uma mutação do feminino. Várias décadas atrás, os biólogos descobriram que todos os fetos humanos começam como femininos e nos dois primeiros meses seguem em um padrão de desenvolvimento que resultaria em um bebê do sexo feminino. Na quinta semana desenvolve-se uma gônada indiferenciada que eventualmente vai se transformar nos órgãos sexuais femininos ou masculinos. Um sexo com cromossomos XX vai então desenvolver ovários na sexta semana. Entretanto, se o feto contém cromossomos XY, o cromossomo Y vai fazer com que as gônadas secretem um "organizador testicular". Essa química promove a "diferenciação", ou seja, envia gônadas para uma nova linha de desenvolvimento, formando os testículos.
Um artigo publicado em 4 de agosto de 1992, no The New York Times, descreve como o processo se inicia com a proteína conhecida como "fator de determinação dos testículos" subjugando o DNA para que os diferentes genes entrem em comunicação.
Segundo Monica Sjoo e Barbara Mor[..], no início os fetos protam possibilidades reprodutoras tanto femininas quanto masculinas. À medida que um conjunto se desenvolve, o outro degenera. [...]
Uma abordagem chauvinista feminina pode descrever os homens como uma espécie de reflexão tardia no esquema da existência[...]
Tudo isso -os fatos biológicos e também as imagens sagradas- sugerm uma saída para a dualidade na maneira de pensar sobre os sexos, a tendência a discutir sobre a igualdade entre os sexos e a superioridade de um sobre o outro. Estas duas posições aceitam a suposição do feminino e masculino como fundamentalmente diferentes, embora no útero, todos os fetos comecem iguais. Em vez de uma separação e um conflito essencial entre os homens e as mulheres que podem cooperar, mas permanecer separados, podemos vê-los como unidos dentro do corpo divino- não metaforicamente, ou mesmo apenas na parceria, mas nos níveis físicos mais fundamentais".
Assim sendo, todos nós, independente de hoje sermos homens ou mulheres, começamos no ventre de nossas mães como seres femininos. É inegável que a teoria do homem ser uma mutação da mulher deva ser levada em consideração. Podemos ver reflexos disso até mesmo em nossos corpos. As mulheres possuem mamilos para alimentar a sua cria e perpetuar a vida, enquanto nos homens a presença do mamilo não tem função alguma e permanece até hoje sem uma explicação biológica plausível. Se todas as partes de nosso organismo possuem uma função e não fazem parte do corpo por um mero acaso, como a própria ciência afirma, qual seria a explicação para a existência do mamilo em homens, então?
Este é só um dos muitos exemplos dentre vários das teorias possíveis.
Diânicos, por exemplo, se baseiam em teorias como estas para explicar a origem primeira da vida como feminina e se sustentam nisso para o desenvolvimento de sua Tealogia20 e pensamentos sobre o Sagrado como sendo primordialmente
20
Estudo do Sagrado Feminino e das Religiões da Deusa nas muitas culturas da Terra.
feminino. Algumas linhas Diânica focam apenas no Feminino, outras linhas celebram masculino e feminino com ênfase maior na Deusa. Porém não existe nenhum ramo do Dianismo que não reconheça a existência do Sagrado Masculino. Nem mesmo a linhagem feministas focada exclusivamente na figura da Deusa de Zsuzsanna Budapest alegaria tal coisa.
Cultuar mais o Sagrado Feminino que o Masculino, com ênfase maior na Deusa por esta ser a fonte criadora de toda a vida, é uma opção oferecida pelo Dianismo. Comparo isso como os filhos que são mais ligados à figura da mãe, mais ligados ao seu pai ou ligados a ambos indistintamente. Qual ligação é a mais correta ou digna? Qual delas deve ser coibida?
Ninguém se atreveria a dizer que um filho que possui mais identificação com sua mãe do que com o seu pai está errado. Isso é uma questão de sentimento, conexão, identidade. Ainda que a relação na mesma proporção com a figura materna e paterna seja o ideal a ser alcançado por todos, a proximidade e intimidade maior com uma ou outra é algo que surge naturalmente, se sente ou não. Uma das figuras, inclusive, pode facilitar a melhor relação com a outra parte a qual nos sentimos menos ligados, nos ensinando a amá-la e compreendê-la. O mesmo acontece quando falamos sobre o Divino. Muitas vezes uma conexão maior profunda com os aspectos masculinos ou femininos do Sagrado pode curar a nossa relação com a parte a qual não nos sentimos identificados. A proximidade e maior relação com a Deusa pode nos ensinar a amar o Deus sem limitações e vice-versa.
Não sei porque ainda se insiste tanto que os que se sentem mais identificados com a Deusa estão errados quando na própria vida, em termos microcósmicos, isso se expressa de forma natural em termos humanos quando nos ligamos mais a nossa mãe ou nosso pai. Tentar coibir e forçar as pessoas dizendo que elas devem cultuar Deusa e Deus em pé de igualdade é antinatural. Tornar a Wicca e a nossa compreensão do Sagrado algo antinatural expressa a manifestação do lado dominador que somos constantemente programados a manifestar, de "a minha visão está acima da sua, é melhor e mais correta”. A escolha de quem celebrar, com quem se sentir mais identificado deve ser tão natural quanto a ligação de um filho com a sua mãe, com seu pai ou com ambos.
Alguns procuram compreender o Sagrado através do masculino e feminino como igualitários, outro através da ênfase no feminino porque acreditam que esta é causa primeira da vida e de toda existência.
Isso não representa que a visão matrifocal não busca o equilíbrio. Porém, existem muitas maneiras desse equilíbrio acontecer. Exemplificando: pegue uma barra de ferro que fica por anos envergada e simplesmente desentorte-a criando um "aparente" equilíbrio, colocando-a na posição reta. Qual a tendência natural? Ela voltar para a mesma posição de envergamento que permaneceu durante anos. Agora, desenvergue a barra totalmente para o seu lado oposto, formando um arco contrário e depois a coloque na posição reta. O que isso fará? Criará um equilíbrio permanente.
Este é o princípio que muitos que enaltecem preponderantemente o Sagrado Feminino em suas práticas estão fazendo, envergando totalmente a barra da vida, para que ela finalmente possa voltar à sua posição de equilíbrio e assim permanecer para todo o sempre.
Após milênios de supervalorização da sociedade androcrástica, seus valores religiosos e sociais seguramente, não é possível alcançar uma posição de equilíbrio milagrosamente do dia para noite, decidindo que masculino e feminino são iguais e se equilibram à partir de agora e ponto final. Isso é fruto de um processo contínuo de desprogramação. Se não houver a supervalorização do outro lado, onde possa ser demonstrado claramente o que ele tem a dizer e como poderá contribuir ao mundo, tende-se naturalmente a passar por cima do que é dito e demonstrado continuando com os hábitos e pensamentos com os quais já estamos programados e habituados. Todos nós sabemos o quanto é duro nos desprogramar dos valores judaico-cristãos que todos estamos sujeitos e que vez outra, mesmo sendo Pagãos, nos vemos reincidindo
A Wicca visa promover no indivíduo uma experiência epifânica, para que ele encontre a sua Totalidade. Para os Tradicionalistas, como Gardnerianos e Alexandrinos, a fórmula usada é o foco no equilíbrio das polaridades. Isso inegavelmente tem funcionado para eles, mas não funciona para alguns. Por isso outras fórmulas foram e serão desenvolvidas. No final, todas elas levam por caminhos diferentes ao mesmo denominador comum: o Sagrado.
Não é frequente ver Bruxos Tradicionalistas autênticos impondo suas verdades, mas alguns mais inseguros sobre sua própria visão acerca do Divino podem tentar fazer isso sucessivamente de maneira enfadonha. Se encontrar alguém assim, ignore, vire suas costas e siga o seu caminho. É perfeitamente possível viver em harmonia, honrando as mesmas coisas de maneiras diferentes, celebrando a diversidade. Ser radical é algo apenas importante para os menos certos de suas próprias convicções.
Visões diferentes respondem a anseios e buscas diferentes. Todas elas são sagradas e corretas e expressam facetas diferentes de uma grande e bela jóia: o Divino.
A Wicca é uma religião diversa e deve se manter assim.
Exatamente por este motivo existem diferentes Tradições. Cada pessoa irá se ligar àquela que fala mais ao seu coração, à sua alma e à sua forma de ver e compreender o mundo e os Deuses. O fato de sermos deste ou daquele caminho não nos faz melhor ou pior que ninguém, apenas nos torna diferentes em um mundo plural e diversificado. O respeito à diversidade é a base do Paganismo. É a falta de respeito, a necessidade de convencer o outro de que o que cremos e fazemos é melhor e o correto, que causa todos os problemas que constantemente vivenciamos na comunidade Pagã. Essa atitude castradora e limitante deve ser combatida.
Vale ressaltar que existem muitas formas de Paganismo que não são Wicca: Kemetismo, Helenismo, Asatrú, Druidismo e por ai vai...
Os que se sentem mais conectados com os aspectos masculinos da Deidade e anseiam por uma visão religiosa Pagã às vezes poderão encontrar sua casa em outras formas de Paganismo. Nem sempre o que gostamos ou aceitamos como correto está na Wicca, que pode ser apenas uma porta de entrada para outro caminho. Os muitos caminhos Pagãos possuem incontáveis semelhanças entre si e isso muitas vezes nos confunde, fazendo-nos pensar e acreditar que o que procuramos está em um lugar, quando na verdade está em outro. Por isso, algumas vezes, permanecemos a vida inteira em um caminho discordando de fatos e coisas com as quais não nos sentimos confortáveis. Quando isso acontece devemos ampliar os nossos horizontes e alçar vôo, conhecendo outras formas de Paganismo que falam mais ao nosso coração e que não são necessariamente Wicca.
Todos os caminhos Pagãos são irmãos entre si, ramos de uma mesma árvore cujas raízes estão centradas na Terra, que é a nossa Mãe.
Existe um cântico muito lindo no Paganismo que acredito expressar exatamente este sentido de respeito e celebração à diversidade:
"Construindo pontes entre o que nos separa
Eu honro o que há em ti, e você honra o que há em mim
Com as nossas vozes
E os nossos sonhos
O mundo poderemos mudar enfim”
Tradição Diânica X Wicca
Hoje o Dianismo talvez seja um dos caminhos Pagãos mais visíveis. Uma Tradição Diânica pode ou não ser classificada como Wiccaniana, dependendo do enfoque que assume.
Esta confusão ocorre em função da grande falta de compreensão e informação por parte de muitos Pagãos sobre o que verdadeiramente significa Dianismo. Muitos fazem questão de criar confusões, afirmando que Dianismo é qualquer coisa ligada ao feminismo, à exclusividade de mulheres no culto à Deusa, quando de fato isso é real para apenas um dos muitos segmentos do Dianismo.
Historicamente falando, na década de 70 nos Estados Unidos, principalmente na Califórnia, o Movimento Feminista e a Bruxaria Neopagã começaram a se mesclar e desta mistura nasceu a Wicca Diânica. A Wicca Diânica é uma forma de Wicca que dá mais ênfase à Deusa do que ao Deus. No entanto, o Deus neste caminho é visto como uma Divindade em seu próprio mérito e Consorte da Grande Mãe. Por isso, esta forma de Dianismo pode ser considerada uma Tradição Wiccaniana devido a observação do par divino Deusa/Deus, que é o coração da filosofia e crença espiritual da Wicca. No entanto, existem alguns segmentos do Paganismo que classificam a si como Diânicos, por serem orientados à Deusa e darem a Ela supremacia em seu culto e práticas, mas que não se consideram Wiccanianos. Mesmo não classificando a si como parte da Wicca, tais formas de Dianismo se baseiam na "infraestrutura" da Arte. Por este motivo, estes dois segmentos se confundem um com o outro em suas bases frequentemente. O que ambos caminhos têm em comum e o que os une é a preponderância da Deusa em seu culto e filosofia.
Assim sendo, o termo "Diânico" se refere a qualquer ramo da Bruxaria que enfatiza o feminino na natureza, vida e espiritualidade acima do masculino e isto inclui muitas, se não a maioria, das Tradições de Wicca existentes na atualidade. As Tradições Diânicas existentes atualmente têm sido classificadas e divididas em duas categorias distintas, desde o surgimento desta forma da Arte nos Estados Unidos a partir da década de 70:
1- Os que dão supremacia à Deusa, mas reconhecem o Deus em seu culto. Nestes ramos do Dianismo a Deusa exerce papel fundamental e central, sendo o Deus reconhecido muitas vezes como uma extensão Dela própria e mencionado secundariamente em alguns mitos e rituais dentro da Tradição. Estes ramos incluem homens e mulheres em sua estrutura. Diversos destes grupos surgiram dos esforços de Morgan McFarland e Mark Roberts em meados de 1971. Mesmo que atualmente muitos que pratiquem o Dianismo não pertençam à Tradição McFarland, podemos citá-la como formato Diânico igualitário mais antigo e como a raiz ou inspiração e influência para a formação das idéias e Tealogia de diversos grupos e Tradições Diânicas subseqüentes
2- As Diânicas feministas, fortemente influenciadas por Zsuzsanna Budapest com foco total na mulher, sem a participação de homens e reconhecimento e culto do Deus e das demais divindades masculinas em sua estrutura religiosa.
A Tradição de Z. Budapest é chamada de Tradição Diânica Feminista (Feminist Dianic Tradition) e não reconhece o par divino Deusa/Deus em seus rituais e cosmogonia. Esta Tradição é formada somente por mulheres e o Deus Cornífero jamais é invocado nos rituais, embora por elas seja considerado filho da Deusa. Z. Budapest afirma que as raízes de suas práticas estão em suas ancestrais da Hungria e os rituais e liturgia usados por ela bebem de tradições espirituais distintas do planeta, sendo fortemente ecléticos.
O nome Wicca foi conferido à Tradição de Z. Budapest no início da década de 70, onde não se fazia distinção entre Wicca, Bruxaria e Paganismo de forma geral. Basicamente quase todas as formas de Paganismo naquela época eram chamadas de Wicca e essa diferenciação terminológica que muitos fazem atualmente só surge em um momento posterior na história da Arte. Qualquer pessoa que tenha se dado o trabalho de ler livros considerados referências sobre a evolução da História da Wicca e Paganismo, como Drawing Down the Moon da autora Margot Adler ou Triumph of the Moon do historiador Ronald Hutton, pode perceber isso facilmente.
Até mesmo Starhawk, que escreveu o livro a “Dança Cósmica das Feiticeiras” em meados de 1979, chamava aquilo que ela fazia e praticava de Wicca nas primeiras edições de sua obra. Mudanças para separar a palavra Wicca e Bruxaria, assim como retificações para dizer que a Tradição Feri (ou Tradição das Fadas) não é uma Tradição de Wicca, só foram feitas posteriormente em edições comemorativas do aniversário da obra anos depois deste livro ser lançado, o que mostra claramente que a palavra Wicca, Bruxaria e Paganismo eram geralmente usadas intercaladamente como sinônimas naquela época para nomear o sistema de crenças e práticas da Religião da Deusa inspirada nas religiões da Europa antiga. Naquela época acreditava-se ainda, inclusive, que esta religião tinha origem na antiga Europa. Hoje temos plena consciência de que a Arte é um reavivamento e criação moderna e expressa a reconstrução dessas antigas práticas, sem qualquer probabilidade histórica de ter se originado no tempo das cavernas e ter mantido por milênios uma linhagem secreta e ininterrupta de iniciados desde o Tempo das Fogueiras. Assim, podemos ver e perceber a transformação de pensamentos e alteração de nomenclaturas empregadas em nosso movimento religioso da década de 70 para cá.
A Old Dianic, como era chamada a atual Tradição McFarland Dianic, sempre caminhou no sentido oposto ao Dianismo proposto por Z. Budapest, reconhecendo o Deus Cornífero em seus rituais e incluindo a participação de homens e Sacerdócio masculino em sua estrutura. Esta Tradição sempre se considerou como sendo Wiccaniana.
A autodenominação da Old Dianic como uma Tradição Wiccaniana sempre existiu desde o surgimento dela em 1974 e isso pode ser facilmente verificado no site da própria Tradição na seção "Ethics of Members", disponível no seguinte endereço de Internet http://mcfdianic.org/ethics_and_procedures.htm
Lá no inciso 1 se lê:
Ethics of Members
1. All initiates of the Tradition shall conduct themselves in a manner in keeping with the Wiccan Rede: “An it harm none, do as ye will, lest in thy self defense it be, ever mind the rule of three.” and in accordance with the traditional structure that Wiccans should deal with one another in a spirit of “perfect love and perfect trust.”
Traduzindo isso seria:
Ética dos Membros
1. Todos os iniciados da Tradição devem conduzir-se de maneira a observar a Rede Wiccaniana: "Sem a ninguém prejudicar, faça como desejar, que em sua própria defesa isso seja, sempre lembre a lei tríplice." e em acordo com a tradicional estrutura que Wiccanianos devem lidar uns com os outros em um espírito de "perfeito amor e perfeita confiança".
De acordo com a visão contemporânea do que é e não é Wicca, fica mais do que claro que o Dianismo de Budapest, orientado para a Deusa, não seria considerado atualmente por muitos como Wicca e que a McFarland Dianic Tradition, sim, é uma Tradição legitimamente Wiccaniana devido à observação do par Divino Deusa/ Deus, que é o pilar central da espiritualidade da Wicca.
As Tradições Diânicas, e a maioria das Tradições da Wicca, são matrifocais ou matriduoteistas. Quando uma pessoa escolhe ser Diânica, ela escolhe ser focada primeiramente na figura central da Deusa. O Deus, quando e se reconhecido, participa limitadamente da liturgia e ritos. Muitas vezes ele é considerado apenas uma das muitas faces da Deusa.
Este tipo de visão, faz com que muitos Wiccanianos Ortodoxos, fortemente baseados na polaridade heteronormativa Deusa/Deus não considerem as vertentes Diânicas como Tradições legítimas da Wicca. Aliás, tais Wiccanianos geralmente consideram que somente o que eles fazem é Wicca de verdade e que só o que eles dizem ser Wicca seja correto para ser levado em consideração. Os que insistem em dizer que nenhuma Tradição que não remeta a Gardner não pode ser considerada Wiccaniana estão cometendo um abuso de apropriação do nome Wicca.
Por mais que algumas pessoas insistam em dizer que a palavra Wicca dever ser empregada somente para se referir às Tradições Gardneriana e Alexandrina, ou aquelas que delas descendam diretamente, isso tem sido tema de muito debate entre os próprios tradicionalistas há décadas. Nem mesmo Gardner dizia que somente o que ele ou o Coven onde ele supostamente foi iniciado faziam era Wicca. Ao contrário, ele classificava, inclusive, possíveis práticas familiares de Bruxaria como Wicca e estas não descendiam diretamente da linhagem dele ou de seu Coven. Assim, considerar que Wicca é somente aquilo que a Tradição Gardneriana ou Alexandrina faz é uma interpretação arbitrária e errônea feita por muitos Pagãos modernos, que além de ser altamente questionável se dá puramente por motivos políticos internos.
A autora Judy Harrow, que é uma Sacerdotisa Gardneriana da velha guarda e fundadora do Proteus Coven, tem afirmado que todos os grupos de Paganismo e indivíduos que têm usado as versões publicadas dos rituais Gardnerianos poderiam nomear a si mesmo não só de Wiccanianos, mas de Gardnerianos, mesmo não tendo recebido uma Iniciação cuja ancestralidade remeta a Gardner. Ela classifica isso de Neogardnerianismo e diz que de um ponto de vista Gardneriano mais eclético, qualquer ritual de iniciação baseado na estrutura Gardneriana e com seus elementos pode ser considerada uma Iniciação Gardneriana válida . Ela afirma que o que liga uma pessoa a corrente Gardneriana não é a linhagem de um sacerdote ou sacerdotisa, mas sim a corrente de energia acessada através do uso e repetição de rituais que formam uma identidade central e compartilhada.
Se considerarmos as ponderações de Judy Harrow, por exemplo, a maioria das Tradições Pagãs poderiam ser consideradas não somente Wiccanianas, mas Gardnerianas!
Creio que tal visão seja um exagero e acredito que a identidade e linhagem de uma Tradição devem ser mantidas e preservadas!
Porém, creio que qualquer Tradição ou prática pessoal e solitária cuja cosmogonia reconheça a Deusa Mãe e o Deus Cornífero como princípios criadores da vida, observe a Lei Tríplice e a Rede Wiccaniana, centre sua espiritualidade na Terra, reconheça os 4 elementos e cujo calendário litúrgico se baseie na mudança dos ciclos sazonais e das fases lunares é Wicca!
Wicca e Polaridade
Muito se discute sobre a presença de homossexuais na Wicca, em função das alegações de Gerald Gardner que dizia que a homossexualidade não tinha lugar na Arte
Para chegarmos à uma conclusão pessoal sobre as afirmações de Gardner, temos que levar em consideração que ele era fruto de sua época. Na década de 40/50 a homossexualidade era considerada uma doença mental e crime, passível de prisão. A ligação de uma religião, tão mal vista como a Wicca, com a homossexualidade seguramente não seria bem aceita pela opinião pública. Logo, é natural que ele afirmasse que a homossexualidade não tinha lugar na Wicca não só porque era crime mas porque a própria Arte estava no seu processo de construção e busca da identidade.
O conceito das polaridades tem sido tema central para os muitos caminhos da Wicca desde aquela época e ele tem sido usado como uma explicação para tentar manter os Gays fora dos caminhos da Wicca. As afirmações mais vistas e lidas em livros sobre a Wicca geralmente afirmam frase como:
"Deusa e Deus, Feminino e Masculino, cuja interação cria o mundo, as estações e toda realidade manifesta”
Onde os gays, e eu me incluo nesse grupo, se encaixam nisso tudo? Há uma conspiração em curso na Wicca para negar às minorias sexuais uma religião e Tradição Mistérica própria?
É hora de reavaliarmos as afirmações sobre polaridade tão comuns nos livros de Wicca, pois isso tem limitado em muitos pontos a nossa experiência espiritual e nossa relação com os Deuses.
A primeira coisa que precisamos compreender é que apesar de se expressarem através de nós, a Deusa e o Deus não são seres humanos. Eles existem no reino do Espírito e são personificações das forças abstratas do Universo. Classificá-los apenas como masculino e feminino é limitá-los à nossa experiência humana e humanizá-los ao extremo. Deusa e Deus não são humanos, nem forças opostas. São elementos complementares de uma mesma coisa, extremos de uma mesma escala!
Por que devemos nos limitar apenas a duas forças para explicar ou tentar entender a criação de energia e vida em nossa religião?
A teoria das polaridades fala basicamente da união dos opostos para criar energia seja ela mágica ou não. Esse pensamento simplista, utilizado por Gardner e muitos outros magistas para fundamentar suas teorias, poderia ser verdadeiro no século passado, mas atualmente é considerado ultrapassado de muitas maneiras. O conceito de energia baseado na polaridade masculina/feminina ou em pares de opostos é demasiadamente limitante e antigo. Nem mesmo a Ciência classifica as coisas mais dessa maneira.
Atualmente são consideradas 5 tipos de forças: a carga, a freqüência, a voltagem, a fase e a força composta.
A carga é a atração de contrários no sentido do norte magnético ao sul magnético, e repulsão de energias semelhantes. A carga é o tipo de força mais usualmente possível de ser entendido em nossa cultura. Neste tipo de força, o intercâmbio da energia se apóia sobre diferenças da valência e da síntese.
A freqüência depende se a atração for do mesmo gênero ou gênero oposto, como a relação entre a mesma nota musical em diversas oitavas ou como as notas que são parte do mesmo acorde. Neste tipo de força, o intercâmbio da energia se apóia sobre intervalo e as semelhanças da proporção e ressonância, alto e baixo, harmonia e dissonância.
A voltagem surge das forças centrípetas e centrífugas em equilíbrio com a atração gravitacional. Aqui, o intercâmbio da energia se apóia sobre congruências do movimento para forçar o movimento, à direita, à esquerda, e a inércia.
Na fase, o intercâmbio da energia se apóia sobre o reforço e interferência. Ela traz as formas de onda conjuntas de modo que a onda alcance picos para aumentar a amplitude ou de modo que os picos se emparelhem o para alcançar o equilíbrio zero no caso da atração oposta.
A quinta força é uma síntese ou um composto dos quatro tipos mencionados, a Força Composta que consiste na combinação da carga e da voltagem Todas essas formas de força podem ser geradas pela sinergia.
A sinergia é junção harmônica de forças iguais que quando unidas se tornam mais fortes do que qualquer uma dessas forças sozinhas, que em conjunto aumenta seu potencial de ação para gerar energia.
Gays quando trabalham magia podem não usar a estrutura das polaridades para gerar energia, mas indiscutivelmente podem se valer da sinergia para isso. Assim, sua forma de fazer magia é tão efetiva quanto qualquer outra que use os pares de opostos. Assim, dizer que gays não podem praticar a Arte porque não podem criar energia para ser canalizada para um objetivo específico porque não se relacionam sexualmente com pessoas do sexo oposto é um ato de ignorância extrema. Temos que pensar além do gênero para ampliar nossa visão sobre o tema. Masculino e feminino é apenas uma entre as muitas formas de polaridades que incluem, mas não se limitam a:
Ativo / Passivo Quente / Frio Positivo/Negativo
Claro/ Escuro Dia / Noite
Bem / Mal
Envio / Recepção
Guerra/ Paz
Sol/ Lua
Cada um desses pares de opostos está além de ser masculino ou feminino e vive e atua tanto em homens quanto em mulheres.
Desta forma, masculino ou feminino não estão diretamente ligados a um padrão ou outro de energia. Encontramos Deuses lunares e Deusas solares, Deusas da guerra e Deuses da paz. A oposição energética não está no gênero, mas no padrão e/ou comportamento que cada indivíduo assume ao lidar com uma energia ou outra.
Gardner algumas vezes afirmou que gays eram uma abominação, um aborto da natureza e que não poderiam praticar Wicca porque a união de duas pessoas do mesmo sexo não gera vida. O quanto essa afirmação se encaixa no mundo atual? Insiste-se em um equilíbrio de Masculino/Feminino para gerar energia e dar vida aos rituais, enquanto a maioria das pessoas segue usando preservativos, anticoncepcionais e diafragmas em suas práticas mágicas. Que vida está sendo gerada com essa atitude?
Isso nos leva a uma importante observação: Ignora-se totalmente que algumas pessoas são inférteis por razões fisiológicas!
Assim, a união do masculino e feminino não gera necessariamente a vida! Pessoas inférteis, por mais que sejam heterossexuais, não podem gerar vida através de suas relações sexuais. Temos aqui 2 questionamentos cruciais:
1. Se gays são excluídos de alguns grupos por não gerarem vida através de suas relações sexuais, assim também deveriam ser os heterossexuais que são incapazes de gerar vida por problemas fisiológicos?
2. Um gay fértil que não se une sexualmente com o sexo oposto deve ser aceito em grupo porque não é infértil, enquanto o heterossexual com problemas fisiológicos deve ser excluído por sua infertilidade?
Fecundidade é o que a maioria das visões pagãs deseja enfatizar, mas EXISTEM outras realidades. É tempo de examinarmos um novo paradigma para nossa religião.
Há fecundidade da inspiração. Há também fecundidade para achar soluções. A fecundidade fisiológica existe da mesma forma, mas ela não é a única. A fecundidade não conhece limites. Há fecundidade em todos os seres e ela se chama criatividade!
Será por isso que os gays estiveram em sua maioria sempre criando arte de uma ou outra maneira? Seria isso a capacidade de transformar a fecundidade, uma vez fisiológica, em criativa?
Vale a pena levar tudo isso em consideração quando se considera o que Gardner disse como o Canon da Wicca. Como todos ele era um homem falho, limitado aos pensamentos, comportamentos, valores e conhecimentos científicos disponíveis em sua época. Uma religião deve estar em constante evolução, se adaptando e sendo renovada à cada descoberta e avanço da sociedade.
Homotheosis e a Arte
Hoje inúmeras pessoas nos Estados Unidos, Europa e Austrália acabaram por formar seus próprios grupos baseados em Mistérios Pagãos com ênfase na homossexualidade, se reportando aos antigos cultos de Dionísio, Príapo, Pan, Eros, Ganimedes, Antinous entre outras divindades do êxtase e da liberdade sexual.
Muitos são os Pagãos gays que se sentem excluídos com a visão heterossexista de algumas Tradições Pagãs, que consequentemente transformam o Paganismo em uma religião heteronormativa e separatista muitas vezes.
Por isso, formas de culto alternativas baseadas numa perspectiva mais pessoal, tornou-se uma solução para os homens que não se sentem à vontade em ter que encarar o Deus como princípio máximo heterossexual da masculinidade e do masculino, já que muitos Pagãos também são homens e não são heterossexuais. O crescimento de movimentos Pagãos feministas ajudou a incentivar a formação de muitos outros grupos focados no estudo e prática e de uma espiritualidade centrada na religiosidade e sexualidade não patriarcal. Estas buscas resultaram na formação de grupos que reuniram diversas pessoas previamente marginalizadas socialmente. Os gays, lésbicas e transgêneros incluem-se nessa tão massacrada categoria da sociedade.
Isto representou um passo importante na tentativa e processo de reverter uma situação de preconceitos, marginalização e misoginia que perdurou por séculos e que ainda é alimentada pela sociedade patriarcal machista.
O movimento ao redor da formação de grupos que buscam uma espiritualidade gay distinta iniciou-se há muitos anos, com os pioneiros da espiritualidade Queer se juntando em sociedades alternativas com o intuito de explorar suas conexões com o Divino. Os primeiros registros desses grupos datam da década de 70.
Eu mesmo durante muito tempo de minha vida tive problemas em me relacionar com a figura do Deus Astado, já que eu era homem como ele mas não era heteressexual como expresso na maioria de suas iconografias e mitologias. Ao ter contato com o Paganismo Queer eu pude perceber que existiam outras formas de encarar a figura do Deus, que ele representa o masculino em sua totalidade e tudo o que está contido nesse arquétipo e que ele era, inclusive, a expressão da homossexualidade tão renegada pelos segmentos tradicionalistas da Arte. Isso me possibilitou uma nova percepção de espiritualidade e uma cura com o Sagrado Masculino que, até então, não tinha ocorrido comigo ao usar as referências mais comuns disponíveis de relação com a figura do Deus. Como Diânico, me relacionar com o Deus de Chifres sempre foi muito difícil uma vez que minha Tradição é extremamente orientada para a Deusa. A forma do Deus apresentada pelo Paganismo Queer tornou esta relação muito mais fluida e fácil para mim.
O que eu percebi ao longo de todo esse tempo é que, como eu, muitos praticantes gays do Paganismo moderno percebem as figuras heteronormativas da Deusa e do Deus como demasiadamente limitadoras. Por isso, muitas crenças e práticas Pagãs entre os Queers foram autoconstruídas e/ou ampliadas pelos membros deste movimento. Uma das mais surpreendentes é a celebração de um Deus patrono dos gays, o Deus Queer. Este Deus é chamado por muitos outros títulos: Deus Púrpura, Deus Azul, Aquele que Dança, Rei Flor, Deus Risonho. Em cada um dos seus muitos aspectos o Deus Queer assume um atributo diferenciado e acredita-se que sua energia só seja acessada quando ele é invocado pelos gays. Muitos praticantes tradicionalistas da Arte acham absurda a idéia da criação de novos Deuses, mas esta prática é fundamento de todas as mitologias do mundo. Os homens criaram seus Deuses ao longo da história de acordo com suas necessidades espirituais, emocionais e materiais, assim como criamos um ideal social ou político elaborado ou simples.
Um Deus somente para os Queers pode ser considerado uma criação mitológica moderna simbólica para expressar reafirmação espiritual e identidade. Levando em consideração o tratamento que os gays recebem diariamente por parte da sociedade, o Deus Queer se transformou em protetor, companheiro e confidente para muitos que se sentem excluídos da religião e sociedade em função de sua opção sexual. Ao contrário do que muitos pensam essa figura do Deus não promove o separatismo, mas a inclusão. Ele é o Deus que conduz o ser ao reconhecimento do Sagrado dentro de cada um de nós e a aceitação de que o que é "diferente" é bom, pois promove a diversidade, pluralidade e multiplicidade e por isso deve ser celebrado e honrado.
Para os Pagãos gays, o Deus Queer é considerado o primeiro reflexo visto pela Deusa quando ela se mirava no espelho curvo e negro do Universo, fazendo amor consigo mesma para criar toda a vida. Ele é a própria imagem da Deusa refletida na luz do êxtase, no momento infinito da Criação. Tornou-se o seu primeiro amante e é a expressão do amor puro, a alegria ilimitada e a sexualidade em suas amplas manifestações. Ele representa não a heterossexualidade ou homossexualidade em si, mas a sexualidade como o abraço apaixonado do Divino, em cada um de nós e no Universo.
Assim, quando nos ligamos a uma outra pessoa no êxtase do amor, seja numa relação homossexual ou heterossexual, abraçamos o Divino em nós mesmo, no outro e no Universo e nos ligamos ao momento infinito da Criação. Esta é a chave para começar a conexão com o Deus Queer. Sendo assim, Pagãos homossexuais ou bissexuais o consideram seu patrono, já que ele pode ser considerado masculino e feminino, amando e se relacionando com ambos.
O Deus Queer é reconhecido em muitas Tradições de Bruxaria e em todas elas ele está relacionado ao Self Profundo, que é a corporificação do nosso Eu Divino, por onde emitimos e recebemos energia para trabalhar magia. Daí a grande importância da reafirmação de nossa sexualidade para a realização de atos mágicos. Então, para os gays, ele se torna uma figura poderosa não somente para a reafirmação de nossa espiritualidade, mas para o despertar de nosso verdadeiro propósito mágico, de nossa verdadeira magia.
Iconograficamente, o Deus Queer é retratado muitas vezes como um ser andrógino jovem, com seios de mulher e pênis ereto. Em volta de seu pescoço encontra-se uma serpente e em seu cabelo uma pena de Pavão.
O Pavão é o animal mais sagrado ao Deus Queer e para entendermos isso podemos recorrer a uma história da Tradição Sufi, o ramo esotérico do Islamismo que é muito diferente de sua facção ortodoxa, que conservou muito de suas crenças e filosofia primitiva centrada na Terra e em antigas crenças pagãs dos povos do deserto:
"Quando a Luz se manifestou e se viu refletida na vastidão do universo pela primeira vez, como um espelho, percebeu o seu Self como um pavão com a cauda aberta".
Sendo assim, os olhos da cauda do pavão são os brilhantes centros de concentração da Luz, simbolizando as virtudes espirituais irradiadas por Ela. O desdobramento da cauda do Pavão simboliza o desdobramento cósmico da Luz, seus muitos olhos, sua onipresença. Muitos dizem que a forma encontrada na cauda do Pavão não seria os olhos da divindade primordial e sim a própria imagem do Big Bang no momento da Criação ou o retrato do próprio Universo. Podemos perceber assim a similaridade entre a história Sufi e o mito da Criação da Tradição Feri de Bruxaria, onde o Deus Queer, chamado nesta Tradição pelo nome de Deus Azul, é o primeiro reflexo da própria Deusa:
"... naquele grande movimento, Myria foi levada embora e enquanto Ela saía da Deusa, tornava-se mais masculina. Primeiro, Ela tornou-se o Deus Azul, o bondoso e risonho Deus do Amor".
Eu vejo em tudo isso algo muito mais profundo do que a visão simplista do separatismo, etiquetar um movimento ou o mundo com títulos e estereótipos, argumentos muitas vezes usados para acusar aqueles que lançam novas idéias e interpretações de um contexto ou conceito que precisa ser revisto pela sociedade. Para mim, o Paganismo Queer dá um novo sentido à espiritualidade humana, ao passo que a homossexualidade que foi tão renegada pela humanidade por séculos assume um sentido espiritual, avança e passa a fazer parte da vida de todas as pessoas em seu dia a dia como uma expressão sexual perfeitamente normal e sagrada, quando antes era vista como uma doença que devia ser banida da sociedade. Para mim isso é a expressão clara da ressacralização do que verdadeiramente somos.
A religião precisa compreender e responder às necessidades, tanto dos indivíduos quanto das comunidades a quem ela serve no mundo moderno. Quando uma religião não consegue adaptar sua estrutura aos avanços naturais do tempo, perde sua autoridade e se estagna. Isto faz com que seus símbolos deixem de inspirar e fortalecer seus seguidores, negligenciando suas experiências e marginalizando sua identidade e valores. Uma religião que não dialoga com sua comunidade se torna nula e vazia. O que os Pagãos Queer fazem é dar uma resposta a esta perda de significado espiritual, recriando novas formas de contatar o Divino que falem às experiências atuais daqueles que sentem e percebem o Sagrado de forma diferenciada. Isto cria uma tradição espiritual de poder, ligada àquilo que um dia existiu mas com raízes no presente, com uma visão abrangente e abertura para as gerações do futuro.
Os Pagãos Queer reconhecem que ser diferente não é motivo algum para vergonha, mas uma dádiva a ser celebrada, uma aceitação dos desafios e jornadas individuais de celebração ao Sagrado Masculino que existe no interior de homens que amam outros homens.
O homem gay também deve restaurar os poderes do Deus que reside dentro de si. Há muito temos sofrido com os preconceitos e represálias da sociedade, que provocou verdadeiros traumas e problemas de auto-aceitação e baixa auto-estima. O Paganismo precisa rever muitos de seus conceitos, devolvendo aos gays os ritos que celebram os seus Mistérios sagrados, o que inclui transformar os rituais em cerimônias menos heterossexistas e mais abrangentes, para que todos possam contemplar a beleza numa religião que celebra e respeita a diversidade. O Paganismo Queer não fala em limitar a espiritualidade pelo gênero ou pela preferência sexual. Fala em ampliar os horizontes, dando aos Pagãos ainda mais opções para enriquecer sua espiritualidade. Não estamos falando aqui em um Paganismo onde seja suprimida a presença da Deusa. Pelo contrário, estamos falando da apresentação de um Paganismo que apresente o Deus de uma maneira diferenciada, como Ele nunca foi apresentado em outros segmentos da Arte e que considere os arquétipos divinos homossexuais do Deus como sagrados também.
No Paganismo Queer, o Deus é considero um aspecto da Deusa. Seu poder vêm através Dela e só é possível conhecê-lo por intermédio Dela.
Eu gosto muito do termo Queer para nomear esta nova forma de espiritualidade. Os precursores deste movimento deram o nome do Queer Paganism (Paganismo Queer) a este tipo de manifestação Pagã exatamente pelo sentido amplo da palavra:
"QUEER" - 1. ser fora do padrão, singular, diferente, o oposto de comum; 2.
o contrário de hetero.
A palavra Queer dá margem para várias interpretações, mas ela jamais é usada de forma depreciativa, uma vez que significa simplesmente o oposto do comum. O Paganismo Queer pode ser transformador aos Pagãos gays, pois lhes auxilia a resgatar o verdadeiro significado de sua sexualidade e identidade.
A cultura patriarcal apoiada no poder do Phallus talvez seja a maior responsável pelos traumas, tão freqüentes em nossa sociedade, que assolam homens e mulheres pois foi através da ênfase no poder masculino sobre o feminino, difundida há séculos, que nossa cultura desenvolveu seus preconceitos.
Como um reflexo disso, qualquer inabilidade para usar o Phallus é vista até hoje pela sociedade e pelo próprio indivíduo como algo que coloca a masculinidade de um homem em questão.
Como o poder do Phallus é apoiado na descendência, que confere uma forma de imortalidade e honra, as culturas começaram a desenvolver seus tabus sociais como por exemplo o repúdio à homossexualidade. O uso do Phallus não somente para a reprodução passou a ser percebido como debilidade e falta de caráter, já que poderia pôr em risco a continuidade da descendência e sua riqueza. Este medo foi acentuado pelos sacerdotes das religiões patriarcais através da masculinização da divindade criadora tornando o Phallus, o sexo e todas as fontes de prazer na origem do pecado e maldição. Assim, passaram a usar este artifício para ganhar poder sobre os homens e controlá-los, pois se o que dá prazer tornase um desejo incontrolável, porém é vergonhoso, transforma-se em uma ferramenta de controle social ao passo que precisa ser reprimido e proscrito. Cada paixão ou desejo espontâneo se tornou pecaminoso. Tudo o que era livre precisava ser destruído, incluindo os desejos sexuais homossexuais.
É hora de exploraremos a ressacralização da homossexualidade através do entendimento do seu mais sagrado Mistério: a Homotheosis. Este Mistério ensina que nossos medos e sombras de sermos quem verdadeiramente somos devem morrer, para que nosso espírito se torne sagrado e seja verdadeiramente livre e alcance a Totalidade.
O propósito de celebrar os Mistérios Masculinos da homossexualidade novamente é despertar o poder interior do homem gay, pondo-o em contato direto com o que ele teme ou se envergonha para que ele possa vencer suas limitações e resgatar seu orgulho, força e dignidade. Desta forma os gays não se sentirão mais sozinhos ou aterrorizados na jornada de seu autoconhecimento sobre o que verdadeiramente é ser homem. Descobrirão que se tornar um homem de verdade não está ligado a sua preferência sexual, virilidade ou fragilidade mas sim a sua maturidade emocional e espiritual. Tornar-se homem inclui vencer os limites, barreiras e tabus que o impedem de expressar-se como ele verdadeiramente é, sem máscaras.
O Paganismo Queer vai muito além de uma briga de sexos ou identidade sexual, como alguns podem alegar. Seu verdadeiro significado está em penetrar nos Mistérios do Deus, que também tem sua face gay, que ama e aceita TODOS os seus filhos como eles são e que conhece que a autêntica masculinidade não está centrada em seu Phallus, mas em seu coração.
Se vamos conhecer isso através da Deusa ou do Deus Queer, não importa. O importante é obter esta transformação. Quando isso acontecer, seremos verdadeiramente livres!
Wicca Cristã não Existe
Muitos pesquisadores procuraram chegar à uma conclusão sobre as origens do Cristianismo e sobre a existência real do próprio Cristo, através de provas históricas e materiais fidedignos para comprovar a veracidade de sua religião e isso jamais foi conseguido.
Muitos autores renomados como Fílon de Alexandria, Plínio, Marcial, Sêneca e muitos outros que viveram no século I e estavam fortemente engajados nas questões religiosas de sua época, jamais citaram Jesus. Ele não é citado no Sinédrio de Jerusalém, nos anais do Imperador Tibério ou de Pilatos. Muitos documentos de pessoas que teriam vivido na mesma época que Jesus são guardados em museus e bibliotecas, mas nenhum deles menciona sua existência e seus prováveis discípulos não escreveram sequer uma linha sobre Jesus.
Através de testes modernos como o comparativo de Hegel, o uso de isótopos radiotivos e radiocarbônicos, todos os escritos apresentados que buscavam comprovar a existência de Jesus pela Igreja revelaram-se falsificados.
Filon de Alexandria, um dos mais célebres judeus de sua época, relata muitos fatos de sua época sobre a sua própria religião e de muitas outras e não citou Jesus em nenhum de seus relatos. Ele próprio escreveu sobre Pilatos, mas não disse nada sobre o Julgamento de Jesus que Pilatos teria oficiado. Apóstolos, Maria, José, nenhum deles é mencionado por Filon.
Justo de Tiberíades escreveu sobre a história dos Judeus, de Moisés ao ano 50, mas não escreveu uma linha sobre Jesus.
Flávio Josego, que nasceu no ano 37, escreveu ativamente até o ano 93 sobre inúmeras manifestações religiosas e messias da época, mas nada menciona sobre Jesus Cristo
Nos documentos existentes de gregos, hindus e romanos dos séculos I e II, constata-se que eles jamais ouviram falar de algum Jesus. Ninguém, entre escritores e historiadores, que teriam vivido na mesma pretensa época que Jesus, falou algo sobre ele ou sobre qualquer aparição pública ou tumulto religioso encabeçado por alguém chamado Jesus.
Os documentos que descrevem a atuação de Pôncio Pilatos nada falam sobre alguém de nome Jesus Cristo, ou sobre um Messias da época que teria sido preso ou crucificado por ter realizado feitos sobrenaturais. A existência de Pilatos é real e histórica e se ele, que supostamente teria estado no centro dos acontecimentos, já que era o governador da Judéia, não soube ou relatou um fato tão importante quanto a existência e julgamento de Jesus, é por que ele realmente não existiu.
Na Escola de Tubíngen, na Alemanha, Filósofos e Teólogos comprovaram que a Bíblia não possui nenhum valor histórico e que os Evangelhos seriam arranjos e ficções sustentadas pela Igreja, assim como o próprio Jesus.
Um padre chamado Aífred Loisy, decidindo pesquisar sobre o Cristianismo depois de inúmeras críticas e descréditos que essa religião vinha sofrendo na França, chegou a conclusão que as críticas estavam baseadas em fatos fundamentados e incontestáveis. Publicando logo em seguida sua pesquisa, foi excomungado em 1908.
Muitos historiadores afirmam que Jesus teria sido um ser idealizado, com a função de dar continuidade através de um novo prisma ao Judaísmo que se dividia e morria. Criando Jesus Cristo, o Judaísmo dava surgimento à uma nova religião. Quando os Judeus chegaram em Roma e Alexandria e se deparam com uma religião passada de geração em geração através da tradição oral e várias crendices populares e superstições locais, decidiram introduzir ali a nova religião que traziam. Em pouco tempo o Cristianismo, com sua filosofia simplista e sedutora, conseguiu conquistar as pessoas mais comuns, servos, serviçais, escravos e posteriormente os senhores, os reis, rainhas e imperadores.
Crestus, que era o título dos messias dos essênios, foi o nome pelo qual os judeus optaram por chamar o "salvador" de seu povo e foi assim que surgiu o nome Cristo. Baseado também nas crenças e modo de vida dos essênios, onde bens materiais eram divididos e os problemas pessoais pertenciam à toda a comunidade, a nova religião que chegava conquistou os escravos e as pessoas mais humildes. Além disso, Crestus era um nome extremamente comum na Judéia e Galiléia e por isso muitas referências encontradas nos textos e documentos da época não se aplicam ao Cristo do Cristianismo. Assim, Jesus foi inventado para atender à tendência religiosa e mística de uma época
Quando o Cristianismo começou a elaborar sua doutrina teve grandes dificuldades em conciliar fé e razão por isso fez várias adaptações com lendas Pagãs e Deuses solares. O Cristianismo passou a ser assim um sincretismo das incontáveis seitas judaicas misturado às crenças de Deuses Solares, dando apenas novos nomes e roupagens a Deuses que morriam e ressuscitavam nos mitos e que predominavam à séculos com rituais solares, fundamentados em um Deus que se sacrificava. O Jesus dos Evangelhos não é um ser real, que existiu, mas sim um personagem criado em cima da visão religiosa sobre Brahma, Buda, Krishna, Mitra, Hórus, Júpiter, Serapis, Apolo e muitos outros Deuses...... Se pegarmos o mito de Hórus, que surgiu milênios antes do suposto nascimento de Cristo, vemos que:
1. Hórus foi o Deus solar e o redentor dos egípcios
2. Hórus nasceu de uma virgem
3. O nascimento de Hórus era festejado em 25 de dezembro
4. Hórus também era considerado a luz e o bom pastor
5. Hórus realizava feitos milagrosos
6. Hórus teria 12 discípulos (uma alusão aos 12 signos de zodíaco governados pelo sol)
7. Hórus ressuscitou um homem de nome Elazarus (Cristou ressuscitou Lázaro)
8. Um dos títulos de Hórus é "Krst"(seria Cristo?)
Se analisarmos mais apuradamente perceberemos que o mito da virgem grávida, que foge de Herodes em direção ao Egito, para salvar o filho (Jesus) que carrega em seu ventre não é nada mais nada menos que uma reinterpretação da lenda de Ísis e Hórus fugindo da perseguição de Seth.
Se analisarmos outros mitos como os de Mitra, Adônis, Krishna, Átis, dentre outros, vamos encontrar as fontes sob as quais o Cristianismo foi inventado.
Em 3.500 AEC temos Krishna que também nasceu de uma Virgem, chamada Devanaguy, que foi avisada com antecedência sobre a concepção de seu filhodeus e quem daria o nome de Krishna (Cristo?). Uma profecia dizia que Krishna destronaria seu tio, o Rajá. Por causa disso a mãe de Krishna foi presa numa torre para não ser concebida por ninguém. Dizem as lendas que o espírito de Vishnu atravessou o muro e se uniu à ela, se mostrando como uma luz que foi absorvida por Devanaguy. Quando Krishna nasceu, um vendaval demoliu a torre onde Devanaguy estava aprisionada e ela fugiu com Krishna para Nanda. O Rajá mandou matar todas as crianças que tinham acabado de nascer, mas Krishna consegue escapar. Pastores foram avisados da chegada de Krishna através de um aviso nos céus e lhe levaram presentes. Com 16 anos, Krishna começa a viajar pela Índia para pregar sua doutrina, abandonando sua família e passando a ser chamado de Redentor pelo seu povo. Krishna faz muitos discípulos e recebe o nome de Jazeu (Jesus?) que significa "Aquele que nasceu através da fé".
O nascimento de Buda também teria sido avisado à sua mãe. Quando nasceu uma luz intensa iluminou o mundo fazendo mudos falarem, cegos verem e uma brilhante estrela no céu anunciou seu nascimento. Buda fez os mais sábios de seu tempo se admirarem com o seu vasto conhecimento e muito cedo começou a pregar e converter pessoas. O seu discurso mais famoso também leva o nome de O Sermão da Montanha e depois que morreu apareceu aos seus seguidores.
Mitra também teve uma mãe virgem. Nasceu numa gruta em 25 de dezembro. Uma estrela surgiu no leste quando ele nasceu, indicando o caminho para magos que trouxeram incenso, mirra e ouro. Ele era considerado o intermediário entre Ormuzd e os homens. Após sua morte teria também ressuscitado.
Baco teria realizado muitos feitos como transformar água em vinho e multiplicar peixes.
Podemos perceber que o Cristianismo foi inventado em cima de lendas não apenas de Judeus, mas também de mitos e religiões pré-judaicas.
Os rituais cristãos também são adaptações de ritos pagãos muito mais antigos. O Mitraísmo era praticado em grutas e locais subterrâneos e o Cristianismo primitivo também. Nos ritos mitraícos haviam ritos com pão e vinho.
A cruz solar, as refeições comunais, a destinação (dia do sol) para descansar também faziam parte de ritos do Mitraísmo que foram sincretizados pelos Cristãos. As vestimentas dos sacerdotes católicos são copias das roupas ritualísticas dos sacerdotes de Mitra, que já existiam muito tempo antes do Cristianismo e até mesmo do suposto nascimento de Cristo.
Ritos envolvendo pão e vinho também eram utilizados pelos hindus, representando o corpo e o sangue de Agni. Como os padres católicos os monges budistas também lavam as mãos antes da libação.
A crença na vida depois da morte, na ressurreição, no Inferno e num princípio do bem e mal absolutos eram crenças igualmente inerentes ao Mitraísmo e Judaísmo.
Do Egito adotaram a autoflagelação, herdadas dos Sacerdotes de Ísis que se açoitavam para expiar suas culpas e erros humanos. No Egito também, existiam "mosteiros" para os sacerdotes que desejavam fazer voto de castidade. Dos gregos se apropriaram da água lustral. Dos Indostânicos adotaram o celibato, o jejum e a esmolação. Os etruscos copiaram o ato de juntar as mãos ao rezar.... Tudo isso já existia milênios antes do suposto nascimento e existência de Cristo. Textos de pagãos, essênios e gnósticos foram as bases utilizadas no Concílio de Nicéia para compor o Novo Testamento.
Deduzimos então que o Cristianismo não tem nada de original e nem que o Cristo histórico realmente existiu. Fica claro que os rituais, as raízes e bases do Cristianismo provêm de uma enorme variedade de diferentes religiões e mitos sobre as diferentes divindades solares existentes e muito cultuadas na época em que os judeus decidiram dar sequência à uma religiosidade que morria e desaparecia.
O que tudo isso nos ensina?
Isso tudo nos mostra que conceitos cristãos, como são entendidos hoje e sustentados durante séculos por uma religiosidade dominante que mantém seus seguidores na completa ignorância de sua verdadeira origem, nada têm a fornecer ou acrescentar a prática Wiccaniana.
Se ao contrário disso caminharmos na contra mão, buscando fazer não uma Wicca Cristã, mas sim uma Wicca que busca pelas origens dos cultos solares, que são anteriores e deram origem ao próprio Cristianismo, teremos muito mais à aprender e à acrescentar em nossa prática religiosa.
Wicca Cristã é um conceito incompatível e incoerente devido a todo o dogmatismo não só do Catolicismo, mas do Cristianismo de uma forma geral. Wiccanianos buscam celebrar uma religião que visa se libertar de vários grilhões, principalmente dos grilhões da ignorância que dominaram nossa sociedade durante praticamente dois mil anos através do monoteísmo e dos valores judaicocristãos. Para que retroagir ou persistir no mesmo erro quando podemos mudar? Uma leitura atenta de uma estrofe da carta redigida pelo Papa Gregório ao Abade Mellitus em 601 EC, que pode ser lida na íntegra no Capítulo 30 do livro História Ecclesiastica, demonstra como o Paganismo foi cruelmente perseguido pelos primeiros Cristãos:
"Quando, com a ajuda de Deus, chegar na presença de nosso ilustre reverendo irmão Bispo Augustino, eu quero que você diga a ele o quanto tenho ponderado sobre a questão dos ingleses: Eu cheguei a conclusão de que os templos dos ídolos na Inglaterra não devem de forma alguma ser destruídos. Augustino deve esmagar os ídolos, mas os templos devem ser borrifados com a água benta e altares devem ser instalados nesses lugares, relíquias devem ser confiscadas. Pois devemos aproveitar os templos bem construídos e purificando-os da adoração dedicá-los ao serviço do Deus verdadeiro. Deste modo, eu espero que as pessoas, vendo que seus templos não foram destruídos deixem sua idolatria e continuem a freqüentar os lugares como antigamente e adorarão naquele mesmo lugar, com o qual estão acostumados, e mais facilmente irão se familiarizar com a verdadeira fé".
Estas foram as instruções das autoridades Católicas para facilitar a conversão dos ingleses, uma estratégia alienadora que privou os Pagãos do Passado de cultuarem seus antigos Deuses. O que fazem todos os que desejam uma fusão entre Wicca e Cristianismo é perpetuar este genocídio cultural e religioso Cristão, que simplesmente esmagou o Paganismo para se impor como a religião oficial e a única verdadeira até os dias atuais.
Concordo plenamente que todas as religiões possuem algo de valor para compartilhar com as pessoas. Isto, no entanto, não significa que as religiões devam ser misturadas num grande “balaio” para que se pareça que tudo é a mesma coisa.
A Wicca é um caminho Pagão. Isso significa, de um modo geral, que ela possui conceitos que são completamente antagônicos ao Cristianismo ou a qualquer outra religião monoteísta e conversista. Paganismo é um sistema religioso panteísta, animista, totêmico, de bases xamanísticas e na maioria das vezes politeísta. Qualquer religião centrada na Terra e que não compreenda o Sagrado de forma transcendental é Pagão. O Paganismo de uma forma geral é sexual, ctônico, telúrico, politeísta, panteísta e algumas vezes, inclusive, henoteísta ou panenteísta. Toda forma de Paganismo se baseia na Terra e no culto aos Antigos Deuses. Isto coloca qualquer vertente Pagã em uma posição completamente oposta ao Cristianismo e outras religiões totalmente transcendentes, baseadas em pecados e que desejam a salvação da alma do homem.
Inserir elementos Cristãos no Paganismo é algo incoerente e só prestará um desserviço aos ideais de amor, reverência e respeito à Terra que todos nós nutrimos. Basta dar uma breve passada de olho no primeiro livro sagrado dos Cristãos (Gênesis), cujas citações do Capítulo 1 (versículos 26 e 28) são transcritas abaixo, para chegar a esta conclusão:
"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e DOMINE sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e SOBRE TODA A TERRA, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra"
"E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a Terra, e SUJEITAI-A; e DOMINAIS sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre TODO animal que se move sobre a Terra"
Se pararmos para pensar que a origem de muitas formas de preconceitos e guerras tem sua origem na interpretação literal de versículos como estes em livros "sagrados", teremos um motivo maior ainda para não desejarmos esta fusão entre Wicca e Cristianismo. A única coisa que o Cristianismo pode acrescentar à Wicca e ao Paganismo é a perpetuação de seus "valores" distorcidos que só contribuíram para a exploração da Terra e intolerância, sem direito ao diálogo com a diversidade e outras religiões.
Misturar Wicca e Cristianismo é um genocídio. As consequências desse genocídio interessa a todos nós porque sofremos seus efeitos direta ou indiretamente diariamente. Matar alguém deliberadamente por motivos raciais é um genocídio étnico, inserir elementos cristãos na Wicca é um genocídio religioso. O primeiro priva um ser humano de sua vida e singularidade cultural, o segundo elimina as bases originais e únicas de uma religião.
Não há radicalismo algum em querer manter as crenças e práticas Wiccanianas num parâmetro coerente. Cristianismo e Wicca são religiões completamente incompatíveis, porque a primeira considera-se uma religião patriarcal, monoteísta, conversista e dominante enquanto a Wicca é matrifocal, politeísta, panteísta, antiproselitista e minoritária e que não deseja se tornar dominante.
Usando um exemplo simples que pode servir de ilustração comparativa, não acho radical dizer que devemos lutar contra interesses políticos e industriais para manter intocadas as reservas florestais ou o resto de natureza selvagem que ainda resta. As reservas são frágeis e exatamente por isso precisam ser protegidas com toda força e rigor, caso contrário podem ser facilmente devastadas do dia para a noite pelos interesses da classe dominante e exploradora.
Da mesma forma, não acho radical dizer que devemos lutar contra a incorporação de elementos Cristãos na Wicca, uma vez que o Cristianismo é a religião dominante. Paralelamente falando, trazer o Cristianismo para a Wicca é tão devastador e agressivo quanto levar uma escavadeira para a natureza intocada onde crescem árvores que lutaram 100 anos ou mais para se manterem firmes e enraizadas na terra, presenteando todos com sua beleza. Uma árvore que demorou tanto tempo para crescer e se fortificar pode ser detonada por uma escavadeira em questão de segundos, uma floresta inteira em questão de meses. A única coisa com a qual o Cristianismo pode contribuir para Wicca é com a total canibalização da Arte através do sincretismo religioso, de forma que ela perca sua total identidade, sua força e com o tempo desapareça.
O Cristianismo, particularmente o Catolicismo, pode até ter incorporado diversos elementos do Paganismo em sua estrutura. Mas na atual situação querer fazer uma aproximação espiritual entre Wicca e Cristianismo é completamente impossível. Os interesses e propósitos das religiões monoteístas são completamente diferentes dos nossos. O sincretismo religioso Cristão é desnecessário, completamente inconsistente e empobrecedor. Nem a Wicca nem o Cristianismo precisam disso.
Uma coisa é você celebrar divindades Pagãs, se valendo dos seus arquétipos, e invocá-las num ritual puramente Pagão. Outra é chamar duas energias completamente incompatíveis (Deuses Pagãos e os seres espirituais da Mitologia Cristã) e chamá-las para tomar chá das 5h juntas.
Se alguém gosta de praticar magia "a la" Catolicismo, permaneça fiel a esta religião fazendo suas novenas, rezando os seus terços e cumprindo suas promessas. Isso também é magia. No entanto, esse tipo de magia não se enquadra a Wicca, nem o tipo de magia que utilizamos se enquadra ao Cristianismo. Todas as religiões possuem pontos em comum, o que não significa de forma alguma que sejam a mesma coisa.
Os Anjos existem para os Cristãos. Buda existe para os Budistas. Allah existe para os Muçulmanos. Os Antigos Deuses existem para os Wiccanianos.
Uma coisa exclui a outra? De forma alguma, só não fazem parte da mesma religião. Isso significa que ao passo que uma coisa não exclui a outra, eu como Wiccaniano, posso acreditar em todas elas e inseri-las na minha prática?
Não, eu não posso fazer essa mistura!
Estamos falando aqui de frequências espirituais distintas, que não são acessadas quando usamos símbolos ou invocamos seres espirituais diferentes daqueles que estão conectados com a corrente energética de nossa religião.
Tomemos um exemplo simples:
Enquanto eu vejo televisão em minha casa, estou conectado em um determinado canal de TV. Meu vizinho ao lado pode estar conectado a outro. Uma amiga que mora lá em Manaus poderá estar conectada, ainda, em um terceiro canal de televisão distinto. Todos nós estamos vendo coisas diferentes e por isso estamos tendo realidades diferentes ao mesmo tempo, no mesmo plano. Eu não consigo ver o que o meu vizinho está vendo nem ele consegue ver o que eu vejo porque através de nossas televisões estamos acessando frequências diferentes de canais.
Se eu quiser ver o que ele vê, o que devo fazer? Mudar o canal e colocá-lo na mesma freqüência que ele!
Isso significa que eu deixarei de ver as coisas que estavam passando no canal anterior para ter experiências reais através de um novo canal, que opera em uma outra freqüência e sintonia.
Eu sei que todos os canais existem, que vá
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Wicca para Todos
SpiritualLembrando que esse livro não é meu !Eu SÓ estou trazendo ele pra cá para fins de estudo Obra de Claudiney Pietro !PLÁGIO É CRIME!!