A Dama de Branco

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Londres, 1815.

A carruagem de aluguel seguia as margens do rio Tâmisa, em seu interior, uma linda jovem vestida toda de branco, intrigava o cocheiro. Quem seria aquela dama, que tão bem vestida, porte elegante, provavelmente solteira, faria uma viagem tão longa, quase sozinha, apenas com sua jovem criada pessoal. O contratou para conduzi-la até Edimburgo na Escócia, portava um grande baú de boa qualidade, mas antes pediu para passar as margens do famoso rio londrino. Ela vestia branco da cabeça aos pés: Vestido de seda, luvas, chapéu, véu sobre o rosto e em sua delicada mão um lenço que usava para secar discretas lágrimas que escorriam pelo seu lindo rosto angelical. Por um momento, devido ao véu e recato, o cocheiro achou semelhante a uma dama de luto. Porém, toda de branco? A cor normalmente usada não seria o preto?

— Por favor, senhor, pare! Aqui está bom! – A jovem deu a ordem inesperada. O cocheiro puxou as rédeas tão rápido que deu para ouvir o barulho de cascos de cavalos freando contra o chão.

— Deseja descer da carruagem, senhora? – Ele olhou para trás e perguntou de forma gentil. Até então, ele achava que a passagem pelas margens do rio, seria apenas para o admirar. Uma espécie de despedida.

— Senhorita, Lady Taylor, por favor. Sim, mas preciso apenas de alguns minutos, em seguida seguiremos viagem. Quero chegar o mais rápido possível a Edimburgo. – A jovem falava de forma decidida, o cocheiro estava achando tudo aquilo fora do usual, mas preferiu ser discreto.

Ah! Se trata de uma Lady, uma nobre! Bem... moças bem nascidas, não costumam andar por aí assim quase sozinha. Contudo, essas modernidades de hoje...

O homem, desceu devagar da carruagem, olhou para o céu e agradeceu por estar uma manhã tão bonita, um tempo tão bom, ideal para longas viagens. Em seguida, foi até a porta, colocou o degrau e a abriu para ajudá-la a descer. Então, com muita elegância ela desceu da carruagem, com sua criada segurando as saias do seu vestido de seda. Ela sem levantar o véu que lhe cobriu o rosto, aceitou sua ajuda e desceu. Foi então que ele percebeu que havia em uma das suas mãos, algo semelhante a um frasco dourado. Ele ficou ali parado ao lado da carruagem a observar ela e sua criada se dirigir para mais próximo da margem. Apesar de estarem no verão e as disputas de remo já terem iniciado, o rio não tinha um aroma muito agradável, mas o local estava tranquilo.

— Querido irmão, apesar de termos convivido muito pouco, sempre senti sua presença através das suas cartas. Eu me sentia confortável e protegida ao saber que mesmo a distância zelava por mim. Agora você se foi... mas sei que até o último instante se preocupou comigo, pois me deixou amparada e segura. – A jovem falou baixinho, enquanto fitava as águas do rio e segurava o frasco apertado junto ao peito. Em seguida, ergueu o braço para o alto, arremessando o frasco dourado nas águas do Tamisa.

— Descanse em paz meu irmão! Eu ficarei bem...

Após fazer isso, a jovem caminhou lentamente de volta à carruagem . O cocheiro fez uma reverência, afinal era uma Lady e abriu a porta. Ela subiu devagar o degrau, em seguida sua criada veio logo atrás, ambas eram de idade próximas e pareciam se dar bem. Então, sentou no assento acolchoado e deu a ordem.

— Podemos ir! 

Uma Nova Condessa ( Degustação: Os Cramptons-  02 )Onde histórias criam vida. Descubra agora