O Acaso...

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Alguns dias depois...

— Por favor, senhor! Precisamos chegar a Edimburgo antes do anoitecer, veja o temporal que está para cair! – Lady Madeleine Taylor, pôs a cabeça para fora da janela, com a mão segurou seu chapéu contra ao vento, examinou o tempo e em seguida gritou para o cocheiro.

— Senhorita, perdão, mas estou fazendo o que posso! Apesar dos cavalos estarem descansados, a estrada não tem boas condições, não é prudente corrermos tanto.

A sua jovem criada pessoal que por coincidência também se chamava Madeleine, com uma expressão assustada no rosto, tentou conter sua patroa. Vestida, não de uniforme, mas com roupas mais simples do que as da sua patroa, ela era tão bela e refinada quanto. Graças a sua esperteza em sempre que podia, observava as aulas de etiqueta ministrada as ladys no internato.

— O cocheiro tem razão, senhorita. Não é prudente corrermos tanto, pode acontecer um acidente. – Sentada diante dela, dentro da carruagem, a criada falou com prudência.

Contudo, a conversa foi interrompida, bruscamente. O barulho do relinchar dos cavalos, cacos freando, carruagem sacolejando, gritos do cocheiro na intenção de controlar a situação, tomaram conta do ambiente. A parelha de cavalos haviam se assustado com uma serpente na estrada e devido a velocidade o cocheiro perdeu o controle.

— Ah, Meus Deus! Socorro! – A criada pôs a mão na boca.

— Meus Deus! – Lady Madeleine

— Santo Deus! Segurem firme senhoritas!

Foram as palavras finais, antes da carruagem tombar, a porta mal fechada se abrir e diante de toda a confusão que estava havendo no interior do veículo, Lady Madeleine foi arremessada para fora e atingida em cheio no tórax pela roda traseira da carruagem. O cocheiro conseguiu pular a tempo do assento de condutor e a criada aflita, saiu logo após pela porta da carruagem já tombada . Todos saíram ilesos, com exceção da jovem nobre que deitada no chão da estrada de terra, com filetes de sangue escorrendo pela boca e nariz, parecia se aproximar do fim, pela forma que falava, como se fosse os suspiros finais.

A criada ainda zonza, mas sem escoriações, se viu apavorada com o estado da sua patroa querida. O cocheiro ao seu lado tentava ajudar no que podia.

— Pelo amor de Deus, vamos puxá-la dai de baixo, a roda da carruagem atingiu seu peito, está muito machucada! – A criada aflita, falava, gesticulava ao lado da jovem deitada no chão de terra, quase com o peito esmagado.

— Claro, senhorita! A carruagem é pesada, estou fazendo o que posso! – O cocheiro falou aflito, enquanto com os dois braços tentava mover o veículo.

Finalmente, os dois conseguiram afastar um pouco a roda da carruagem e deixar a jovem ainda deitada no chão, mas sem nada por cima a sufocando.

— Mada...Madeleine...

— Estou aqui, senhorita, por favor não fale. A senhorita está muito machucada, mas o cocheiro irá chamar um médico na cidade e eu ficarei lhe fazendo companhia. Agora deixe-me desabotoar suas roupas, afrouxar este espartilho para que respire melhor!

— Não...ouça... sinto que não tenho muito tempo. – A jovem lady falava com voz fraca e filetes de sangue escorrendo no canto da boca. – Sabe que não tenho mais parentes no mundo e que estava indo encontrar com meu noivo, o qual não conhece meu rosto, nunca viu uma pintura minha. Porém, agora sinto que estou morrendo...

— Não fale isso, por favor! – A criada pediu aflita com a voz chorosa.

— É a verdade, por isso peço algo a você...

— Fale, senhorita, peça o que quiser! Mas você vai ficar boa... – A criada tentava conter as lágrimas e ser forte.

— Tome meu lugar! Vista as minhas roupas finas e assuma a minha identidade! – Ela segurou firme o pulso da criada e amiga.

— Que loucura é essa? – A criada arregalou os olhos e até o cocheiro que viu que um médico não seria mais de grande valia naquele momento, ficou espantado ao observar a cena.

— Isso que você ouviu! Não tenho parentes próximos, não fui apresentada à sociedade, praticamente ninguém me conhece, ninguém irá perceber. Você sempre foi tão boa para mim, fomos amigas naquele lugar... – Ela falava com dificuldade.

— Oh, senhorita... agradeço por me considerar sua amiga. Eu, uma simples criada... – A criada falou emocionada.

— Você é bonita, tão refinada quanto uma lady, possuímos a mesma idade.

— Obrigada, senhorita, mas não fale tanto...

— Eu lhe dou esse presente, assuma minha identidade, se case em meu lugar e se torne a condessa de Shurtland! Até os nossos nomes são iguais: Madeleine

A proposta era tentadora para um simples criada, linda, mas que seu destino era morrer sendo criada e um dia toda aquela beleza murchar de tanto trabalhar pesado servindo outras nobres. A jovem olhou meio desconfiada para a pobre moça a beira da morte caída no chão e para o cocheiro.

— Se é por minha causa, menina, finja que não estou aqui! Não revelarei nada! – O homem falou de forma estranha.

— Mas, o conde? Seu noivo? Ele certamente desconfiará!

— Não... provavelmente não... sabe tão pouco de mim. Com tudo que você já sabe a meu respeito, basta que você leia antes de chegar a Edimburgo as duas cartas do meu irmão e ficará a par de toda a situação... – Ela falou já fraca, cuspiu um pouco de sangue.

— Mas, não estamos sozinhas aqui, nunca será um segredo só nosso... – A criada falou desconfiada e olhou novamente para o cocheiro que observava a dramática cena.

Lady Madeleine Taylor entendeu o que a sua criada disse. Então, fez um esforço sobre-humano e virou o pescoço em direção ao cocheiro.

— Por favor, senhor, esta é minha hora final... prometa guardar segredo! Deixe-me dar esse presente a minha fiel criada e amiga. Sempre fui tão sozinha...

— Eu... eu prometo, mileide. Eu juro... – O cocheiro arregalou os olhos e falou sem muita convicção.

Em seguida, a criada Madeleine acariciou os cabelos da sua patroa, segurou suas mãos com carinho e encarou:

— Como pode alguém possuir um coração tão nobre... em uma hora dessas ainda pensando no meu bem estar...Eu aceito! – Falou com os olhos brilhando de uma emoção diferente.

— Obrigada... e tudo que peço agora é um enterro cristão em algum lugar aqui, nesse campo florido próximo a estrada para que isso tudo não seja descoberto! É o meu presente para você, tanto tempo de amizade e servidão... – Ao dizer isso, a jovem lady Madeleine, novamente tossiu forte, cuspiu mais sangue, deu o suspiro final e seu pescoço sem vida tombou para o lado.

— Mileide! Mileide! Não!!! – A criada entre lágrimas abraçou o corpo já sem vida da jovem.

Então, assim o cocheiro e a sua fiel criada cumpriram suas últimas vontades, conforme a jovem pediu em seus minutos finais. Após isso, Madeleine, a criada, trocou de roupas, releu algumas cartas e seguiu viagem rumo a Edimburgo. O cocheiro meio calado, meio esquisito, mas parecia que iria mesmo guardar segredo. Quanto a ela estava tão atordoada com tudo aquilo que ainda não sabia nem o que pensar, só sabia que devia chegar a Edimburgo, a quem procurar e como se comportar para não ser descoberta...

Descanse em paz, querida, sempre teve tão bom coração... Sei que aos olhos de todos isso seria algo ilegal e imoral da minha parte. Porém, sei que estou agindo de acordo com sua vontade e suas bênçãos, sendo que tudo que você desejou com isso, foi me dá um presente me tirando da condição de criada e me proporcionando uma vida melhor....

Ela agora era lady Madeleine Stuart, futura condessa de Shurtland...

Uma Nova Condessa ( Degustação: Os Cramptons-  02 )Onde histórias criam vida. Descubra agora