Um novo lar

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Pedro me deixa na porta da faculdade. Conversamos um pouco sobre a minha ansiedade por causa das aulas durante o caminho e ele me ajuda a manter a calma, me relembrando das técnicas de respiração e as praticando comigo. 

- Se precisar de alguma coisa, é só me mandar mensagem, ok? - ele diz.

- Tudo bem, obrigada. - respondo e saio do carro.

Ele acelera e vai embora. A faculdade dele fica cerca de 10 km da minha, o que não é tão longe. Mesmo assim, eu gostaria que ele estudasse junto comigo na mesma universidade, embora ele tenha escolhido cursar arquitetura e não psicologia como eu e nós nunca fossemos ter aula numa mesma sala. 

Olho para o prédio que irei frequentar nos próximos cinco anos da minha vida. Ele é grande, em formato de um c de 3 andares. No centro desse c, há uma enorme e linda fonte de água que não para de jorrar. Ao redor da fonte há uma praça com bancos e mesas cobertos por tetos de flores. É uma bela universidade. Tem um grande campus onde vários estudantes andam meio perdidos (provavelmente são calouros). 

Caminho em direção ao prédio. A minha sala de aula é a 202 B ao leste. Eu deveria saber onde diabos fica o leste? Observo o interior da universidade. O teto é enorme e a decoração me lembra a arquitetura medieval. Um pouco assustador. Olho pro papel que está nas minhas mãos tentando descobrir onde fica a minha sala de aula. Sem perceber, esbarro em um garoto que está de costas pra mim. Ele se vira e me encara. 

- Opa, que isso hein. Quase que tu me atropela, garota - ele diz.

Ajusto o óculos no meu rosto e o encaro de volta. Ele é branco, magro e usa óculos redondos assim como eu. Aparenta ser do tipo intelectual, se é que gente intelectual tem uma aparência própria. Na minha cabeça tem. 

- Desculpa, eu não te vi. Estava olhando pro papel e tentando descobrir onde fica a sala de psicologia - digo.

- Psicologia? - uma garota ruiva que eu não tinha visto até então sai de trás do menino e se apresenta - Eu estou indo pra lá agora, posso te mostrar onde fica a sala - ela sorri - Prazer, eu sou Emilly. 

-Sério? Eu ficaria muito agradecida.

- Sim, claro. Eu estudo psicologia também. Terceiro semestre. E você deve ser caloura, certo?

- Haha, tá tão na cara assim? - respondo. 

- E eu sou o Matheus, prazer em te conhecer também - o garoto se apresenta.

- Ah, e eu sou Chloe. Prazer em conhecer vocês, galera. 

-Então...tchau, amor - Emilly diz beijiando o rosto do Matheus - vou mostrar pra ela onde fica a sala de aula. Depois a gente se vê. 

Amor? Droga. Lá se foi o meu romance de faculdade.

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A aula passa depressa. O tema foi comportamento cognitivo e eu amei mais do que poderia imaginar. Encontro Emilly e Matheus juntos no corredor, e caminhamos em direção ao ginásio pra recepção dos calouros. 

-Então, ouvi dizer que esse ano eles vão tacar ovo cru nos calouros na entrada do ginásio. Será que isso é verdade mesmo? - Matheus fala.

- O quê? Isso é sério? - respondo - Gente, então melhor eu ir embora, né?

- Relaxa, boba. É claro que isso não vai acontecer -Emilly diz - É só que Matheus gosta de pertubar com o juízo das pessoas mesmo. 

- Que bom, porque não é fácil ser mulher, se arrumar toda pra ainda vir um bando de babaca sem noção sujar a gente - reviro os olhos - sem contar que provavelmente vou voltar pra casa de metrô. 

Nós duas rimos. 

-Calma. É só um boato. Talvez nem tenha isso mesmo - ele faz uma pausa dramática e olha pra mim - ou não.

Chegamos ao ginásio e vemos as arquibancadas separadas pra cada curso. Logo Emilly e eu encontramos nosso lugar. Matheus se despede da gente e vai pra área de engenharia. Em seguida, uma apresentação de boas-vindas começa e todos permanecem em silêncio.

- Queridos calouros, - a voz de uma jovem senhora fala ao microfone - é com grande prazer que hoje desejo boas vindas a todos vocês...

Ela continua a falar e eu tiro meu celular do bolso pra mandar uma mensagem a Pedro.

"E aí, como está indo com seus novos amigos arquitetos?"

2 min depois.

Pedro manda uma foto.

Abro a mensagem. A foto é dele com mais duas meninas do lado na sala de aula, uma branca e outra morena. Típico.

"Tudo certo por aqui, e tu?"

Tiro uma foto minha com cara de tédio e envio pra ele.

- Espero que todos estejam prestando atenção no que tenho a dizer, assim como aquela garota ali que não para de tirar fotos de si mesma - é o que escuto ao fundo vindo da mulher que segurava o microfone quando estou prestes a mandar mais outra foto pra Pedro.

Nesse momento, todos os alunos e professores olham em minha direção. Ótimo, era justamente isso que me faltava, ser o centro das atenções no primeiro dia de aula de maneira negativa. Aceno com a cabeça e guardo o celular. Preciso me assegurar de não passar mais nenhum vexame até o final do horário.

 É quando olho pra quadra do ginásio e vejo um garoto fitando os olhos em mim


Diga o meu nomeOnde histórias criam vida. Descubra agora