ℯ𝓅𝒾́𝓁ℴℊℴ

408 46 11
                                    


  Itália era realmente perfeita. Suspirei. Eu fiz uma boa escolha ao deixar meu país assim que percebi que eu não me sentia feliz, que não tinha mais nada para mim naquele lugar, pelo menos não depois que eu perdi a pessoa mais especial da minha vida. Sinto-me ao menos parcialmente realizada, tenho um emprego promissor, consigo ajudar meu primo com as despesas da casa, mas isso é um probleminha que já estou tentando resolver buscando apartamentos compartilhados, que é a opção mais barata, pela primeira vez eu consigo me ver morando aqui por muitos anos. As construções que carregam uma grande importância histórico-cultural, e sempre fui apaixonada por essas construções pela história que elas carregam. No Brasil não havia tantas, o governo achava muito melhor destruir e fazer uma obra que ficava uma merda. Brasil deveria ser um dos países mais ricos e importantes do mundo, temos tanta coisa a partilhar, tanta riqueza natural e cultural.

Meu primo costuma dizer que caminhar por Florença é ter uma aula de história a cada passo, e realmente. Traz em cada museu nomes que eu sou apaixonada como Leonardo da Vinci, Michelangelo, e o maravilhoso Dante Alighieri – sou particularmente apaixonada por suas obras – Mas o meu artista realmente preferido de todos é Van Gogh. Além de suas obras, sua história de vida me fascina. Desde que cheguei aqui fui apenas 2 vezes ao museu, na verdade apenas uma vez, já que na primeira eu passei 5 horas na fila e não estava nem perto de entrar, então fui obrigada a desistir por exaustão.

 Cheguei á Itália 5 meses atrás, passei quase um ano inteiro só juntando dinheiro para vir morar aqui. Florença é uma cidade cara de se morar, Itália no geral. É conhecida por ser o berço do renascimento, museus obrigatórios, ruas e praças que sussurram história, por isso a enorme quantidade de estrangeiros fazendo parada aqui.

Meu primo mora aqui desde seus 15 anos de idade, seu avô e avó eram italianos. Ele sempre foi meu amigo e parente mais próximo, mesmo que nosso grau parental seja bem distante. Quando ele partiu eu o deixei ir com a condição de me mandar foto de absolutamente tudo na Itália, e ele realmente mandava mesmo. Meu armazenamento ficou cheio quando ele triplicou o quantidade de fotos e vídeos, chamadas e mensagens, mas eu entendi que foi por uma boa causa. Quando meu pai faleceu meu primo achou essa alternativa para compensar sua ausência física, com ele prestes a entrar na faculdade era impróprio ele viajar até mim.

Uma ardência no meu ombro me chamou para a realidade, olhei confusa ao redor.

 — Minha nossa! Perdonami. — proferi enquanto analisava o ombro do senhor idoso que eu acabei de trombar, a senhora que segurava sua mão olhou para o ombro dele, porém ele logo a tranquilizou. 

  — Não se preocupe, mia figlia  — o senhor de cabelos mais brancos que castanho proferiu e alisou meu ombro olhando-me com seus olhos castanhos muito doces e felizes.  —  Acidentes acontecem. Você parece ter sofrido mais, coloque um gelo onde dói. — tranquilizou-me sua esposa e dando um sorriso e voltando seu caminho agarrada ao braço do esposo.

Tentei terminar meu percurso olhando ao redor e sendo atenciosa, uma coisa que eu não era muito, minha mente não parava e era difícil acompanhar  meus próprios pensamentos, mesmo que seja pensamentos como o porquê da água se chamar água, ou analisar as emoções de cada pessoa que passava por mim. Esses pensamentos intrusivos e algumas outras... manias se dão pela minha ansiedade.

Senti a brisa tocar levemente o meu rosto trazendo consigo o aroma de lavanda chamando a minha atenção para a jovem de pele escura que fechava a floricultura. Fiz uma nota mental de amanhã comprar lavandas para o meu quarto. Desviei de algumas pessoas que andavam apressadas para casa após um longo turno de trabalho ou o que quer que seja o motivo. Segui o exemplo deles e apressei meus passos para entrar no mercantil pegando os ingredientes que faltavam para fazer um jantar especial para o aniversário do Luca que já era na sexta-feira. Quando eu consegui notas suficientes para entrar na faculdade em Florença, obviamente a primeira pessoa  para quem dei a notícia foi Luca. A primeira coisa que ele fez foi me dar parabéns e a segunda foi me convidar para morar com ele. Eu não era tão orgulhosa ao ponto de não aceitar, mas eu aceitei com a condição de ajudá-lo com as despesas assim que eu me estabilizasse. 

𝚄𝚖𝚊 𝙽𝚘𝚟𝚊 𝚅𝚒𝚍𝚊Onde histórias criam vida. Descubra agora