CONTOS DO PASSADO - 2

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MAY
Á 187 luas atrás......

Eu estava acostumada com a solidão. Eu aprendi a gostar dela. Então caçar sozinha era algo fácil.
Apenas mirei no cervo e puxei a flecha. Ele caíu de primeira. Caminhei calmamente até o animal que seria meu jantar enquanto colocava o arco nas costas. Eu retirei a flecha e o segurei em meus braços.
Teria que carregar o animal por um caminho longo. Sempre caçava no lado que pertence as fadas, tem animais mais fáceis de matar, e com carnes suculentas. Á parte que pertence aos elfos não tinha á mesma sorte, os animais eram mais rápidos, a maioria sagrados, incluindo os mais poderosos. Era muito mais difícil!
Apenas o carreguei até a caverna onde estava ficando. Um lugar minúsculo, mas era o suficiente por agora. Era distante de olhares curiosos, e depois da morte de meus pais me distanciar foi a melhor escolha que fiz, mesmo que tenha sido uma escolha forçada.
Eu poderia assar o animal inteiro no forno que tinha, então o fiz. Deixei o cervo cozinhar e me deitei na cama improvisada. Era tudo o que tinha. Encontrei uma caverna e isso já era esplêndido devido ao que estamos passando. A briga constante entre ar e água. Graças á isso minha antiga casa ( á de meus pais ) foi abalada, pouco tempo depois deles partirem. Apenas algumas telhas faltando, mas o suficiente para me fazer sair. Fica no alto, os impactos seriam mais fortes, e eu preciso de um tempo.
Essa briga.... Os deuses estão furiosos, mas não sei o motivo, no momento não quero saber! É possível sentir o peso da magia sobre todo o Nosso Mundo. As águas agitadas e a ventania descontrolada. Ninguém arriscava ficar fora de casa por muito tempo. Ainda estava de dia, mas não sairia até precisar buscar algo. O que demoraria um pouco já que tenho água em abundância e frutas frescas. Hoje foi um dia inteiro de busca por suprimentos.
Odeio quando deuses testam forças e declaram guerra um contra o outro. Geralmente duram poucos dias, mas era mais frequente do que deveriam ser. De qualquer forma são deuses, e não me interessa suas brigas ou quem vencerá suas batalhas. Estou preocupada é com as espécies que vivem aqui. Eu sei que deuses não matam aqueles que não os desafiam ou se opõem á eles ( na maioria das vezes ), mas nem todos pensam assim. As fadas ficam loucas, as fêmeas agitadas percorrem os céus o tempo todo e os machos só faltam trepar com as árvores. As sereias dão tudo o que tem para feiticeiros as tirarem das águas com medo da morte. Os centauros ficam relinchando o dia todo. Os elfos são os únicos sensatos, parece que apenas á minha espécie tem neurônios!
Lembro da primeira guerra de deuses que presenciei. Eu devia ter umas vinte luas, minha mãe permanecia em casa o dia todo, eu fugia para bisbilhotar por aí. Meu pai não se importava muito também, mas eu estava adorando o show de apresentações. Me lembro bem do sol impetuoso, do calor insuportável. A única vez em que o mundo todo estava iluminado, estava quente como o inferno, a vegetação seca em todo lugar e não apenas na nossa parte da floresta. Eu odiei isso, afinal, eu gostava da mistura de cores que o Nosso Mundo possuí.
Lembro também do vento incansável que perdurou por muito tempo, porém não era suficiente para acabar com o calor, na verdade, só dava dor de cabeça. Eu não sei como não fui arrastada por sua força em meio de uma das minhas fugas.
Lembro de tudo que passei com eles.
Eu gosto de lembrar desse tempo, do que aconteceu quando minha mãe me encontrou com um macho pela primeira vez depois de ter dado meu primeiro beijo, ou de meu pai dançando quando ficou bêbado por que não era acostumado com o álcool. Da primeira vez que eu fui á um bar e consumi álcool, voltei bêbada e minha mãe só não me matou por que meu pai não deixou - literalmente.
Um dia esse momentos não passarão de lembranças, até lá eu decido o que elas são. E não precisam de um nome por enquanto.
Até por que quando meus pais morreram eu perdi á vontade de procurar a felicidade, como costumava fazer, e apenas permiti á mim mesma, mergulhar na desgraça. E essas lembranças eram a única esperança, o resto de felicidade, a felicidade que eu já tive, ou que eu sonhei em ter.
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Nosso Mundo - A História Escrita Por Uma NinguémOnde histórias criam vida. Descubra agora