› final pill

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A primeira coisa que ele notou foi o cheiro, o maldito cheiro. Incrivelmente doce e terrivelmente familiar. Quer dizer, não é como se Harry realmente pudesse esquecer dele, não quando as marcas ainda pareciam completamente frescas sob sua pele. Não, muito pelo contrário, o ômega ainda se lembrava perfeitamente de cada detalhe. Às vezes, nos dias mais ruins, ele até mesmo se lembrava das sensações. Da forma como seu corpo parecia em chamas a partir da sua bunda e de como seus olhos choravam por algum alívio. Ele era um garoto enfrentando um desconhecido durante um almoço qualquer, um garoto que não estava preparado para aquele montante de coisas acontecendo em seu corpo apesar de todas as explicações teóricas que havia sido socadas em sua cabeça. Não. Ele não estava pronto e jamais estaria porque seu corpo era basicamente uma bomba regulada para explodir de mês em mês. Naquele dia apenas explodiu no lugar errado.

Portanto, enquanto via Zayn se afastar pelo longo corredor esterelizado do hospital, Harry sentiu-se incapacitado de fazer qualquer outra coisa além de tentar respirar pela boca apenas para não sufocar com a sensação fria na base de seu estômago. Um nó bem amarrado em sua garganta conforme pontos pretos acumulavam-se ao redor dos seus olhos porque, porra, o ar todo naquela merda de lugar cheirava a bolinhos de canela. E não, não era o cheiro de uma leva recém saída do forno em alguma cozinha próxima dali. Não. Definitivamente não. Era o cheiro dele. Era a porra do cheiro dele.

Harry sentiu seus joelhos perderem a força conforme tentava desesperadamente não entrar em colapso. Era começo de noite, troca de turno e pessoas iam e vinham pelo corredor com os pés apressados passando pelo ômega sem lhe dar nem mesmo dois segundos de atenção porque, bem, se o fizesse veria o terror estampado em seu rosto, em cada mísero vinco enquanto o garoto de olhos verdes brilhantes se tornava, mais uma vez, um menino perdido aos catorze. Ele se viu apertando as mãos em punhos conforme lutava entre sair correndo até seus pulmões arderem o suficiente para obrigá-lo a parar e apenas deitar em posição fetal ali mesmo no corredor branco e deixar o medo gelado sob sua pele o consumir um centímetro por vez. Era um duelo de gigantes o que estava acontecendo dentro de si e Harry não sabia para qual lado ceder, não sabia o que fazer além de sentir seus olhos queimarem em lágrimas precariamente presas e tentar não pensar que ele estava em algum lugar atrás daquelas paredes, seguindo com sua maldita vida como se não tivesse colocado um filhote na porra da barriga de um garotinho de catorze anos que mal tinha condições de discernir o motivo que levou seu corpo a abrir as pernas para a porcaria de um alfa qualquer. Harry queria apenas vomitar as tripas para fora e depois fazê-lo engolir cada mísera gota apenas porque ele podia, sim, agora ele era grande e forte o suficiente para não deixar ser tocado. Ele podia enfrentar o maldito homem que arruinou sua vida. Ele podia.

Mas não ia.

E não ia porque tudo o que conseguia fazer era sentir-se de volta ao seu jardim anos antes, tudo o que conseguia era rever tudo vez após outra por trás de suas retinas. Tudo o que conseguia era sentir o cheiro do filho da puta em cada parte do seu corpo enquanto o sentia inchar dentro de si, quente como um alívio necessário do qual ele apenas se daria conta algum tempo depois quando, em uma crise de desespero, rasparia cada centímetro da própria pele com o caralho de uma esponja de aço até vê-la escorrer pelo ralo e o sangue cobrir seu corpo enquanto lágrimas quentes escapavam de seus olhos opacos e um feto crescia dentro de sua barriga fazendo-o vomitar sobre si próprio sem nem ao menos se importar que a sujeira havia se misturado com o sangue e a pele arrancada à força porque estava ocupado demais tentando tirar o cheiro dele de si próprio. E isso era tudo o que Styles conseguia fazer no momento, se recordar de todas as merdas da sua vida e de como aqueles míseros minutos foram mais do que suficientes para levá-lo ao fundo do poço aonde ninguém jamais poderia alcançá-lo, um lugar frio e escuro com paredes escorregadias e pegajosas demais para que ele pudesse escalar sozinho até a borda porque Harry sabia não der forte o bastante, não importava quantas vezes afirmava e reafirmava a si mesmo que sim, ele era capaz de se curar sozinho, tudo ainda não passaria de uma mentira bem contada porque, naquele maldito momento, tudo o que ele queria era alguém para aliviar a dor no fundo de seus olhos e dizer que o velho desgraçado não iria voltar à ferir sua sanidade uma outra vez. Mas, bem, Harry estava sozinho naquele corredor cheio de pessoas correndo em seu maldito cotidiano apressado demais para gastar um par de segundos no ômega desmoronando bem diante de seus olhos.

ALPHA DELIVERY // larry stylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora