Marco & Ace.
Algo me chamava.
Todas as vezes que eu olhava para aquele denso, extenso e perigoso mar, sentia que algo me chamava como se me instigasse a ir até aquele oceano azul e descobrisse o que há nele. Quando criança, sentava naquele morro com pequenas gramas verdes e olhava até onde os meus olhos alcançavam e toda vez que chegava naquela linha do horizonte, me pegava perguntando o que tinha depois daquilo.
Fiz a mesma coisa tantas vezes, olhei para o horizonte tantas vezes que agora não conseguia passar um dia sequer sem olha-lo, me sentiria vazio se não o fizesse, como se algo estivesse faltando em mim. Esse hábito dura até hoje, por isso que nesse momento estou sentado perto de uma das cofa do Moby Dick olhando para aquela linha no horizonte, mesmo que esteja na mais escura noite e que não dê para ver o mar direito, sei que aquela linha está ali porque a vi tantas vezes que não preciso ver, de fato, para saber que está lá. A noite está tão escura que sinto como se pudesse ser engolido a qualquer momento.
Talvez gostasse mais quando a noite estava mais escura que o normal, porque de algum jeito parecia refletir o que tinha dentro de mim. Algo escuro e ruim. Aquele lugar dentro de mim é a minha prisão, onde tem as vozes falando que o filho daquele homem não tinha a permissão de viver, onde se concentrava toda a fúria que tinha em mim, também é onde fica as minhas dúvidas.
-Que irônico- murmurei baixinho para que ninguém que estivesse no convés escutasse.
O homem que controla as chamas tem algo mais escuro que o céu noturno dentro de si, isso deveria ser alguma piada. Possivelmente, por ser o seu aniversário de morte o meu autocontrole não estava funcionando, porque quando isso acontecia ele sempre tinha algo para falar e me reconfortar, mas Sabo não estava mais aqui fazia anos e meu autocontrole para não me perder naquela escuridão estava ficando cada vez pior.
Queria muito que você estivesse aqui.
As chamas que correm em mim estavam mais fortes naquele dia ao ponto de fazer parecer que o meu corpo iria entrar em combustão, sentia ela se revirando em mim como se quisesse sair e queimar tudo. Provavelmente era isso o que elas queriam, porque minhas mãos pareciam queimar e o cheiro de madeira queimada abaixo delas estava começando a se fazer presente, as levanto até a altura dos meus olhos e vejo minha palma brilhando em um tom avermelhado.
Se acalme. Não entre nesse lugar. Se controle.
As palmas das minhas mãos brilhavam pelo fogo não liberto, e ficaram mais visíveis quando o brilho da lua, finalmente, apareceu sobre o céu, mas não perdi meu tempo observando aquilo e corri meus olhos até o mar e a visão daquele longo oceano azul faziam com que a escuridão dentro de mim morresse um pouco mais. Pode ser por causa do sangue impuro que corre em minhas veias, mas uma vida fora do mar e sem a liberdade de um pirata com certeza não seria uma vida para mim.
-Me pergunto- sussurro mais baixo ainda, só para que aquele mar escute- Se ele ficava te olhando também.
Descer daquele lugar onde estava sentado era a pior parte, porque a altura era grande e se o fogo pegasse demais na madeira do convés seria iniciado um pequeno incêndio até que fosse apagado por completo. Mas quando eu me jogava dali de cima, de costas para o convés e com os olhos no céu a descida parecia valer a pena. Uso o poder de fogo para me impulsionar antes que eu bata no chão de madeira e pouso em um baque surdo, olho em volta para ver se não iniciei nenhum incêndio e parto para o refeitório quando vejo que está tudo certo.
O refeitório do Moby Dick não era nenhum pouco pequeno por causa da quantidade de pessoas que fazia parte daquela família, mas também não era espaçoso o suficiente para que andássemos sem esbarrar em alguém, pelo menos, umas três vezes. No início tinha sido difícil me adaptar a aquelas pessoas, tanto por eles sempre perguntarem sobre a vida pessoal dos outros, tanto por falarem sobre coisas indecentes para alguém que acabou de entrar na fase adulta, mas depois de um tempo ficou mais fácil.
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Um novo fogo
FanfictionTinha dado o passo e esperava ser retribuído já que os sinais que recebia daquela fênix de chamas azuis eram mais do que óbvios. Mas tinha alguma coisas errada, tinha que ter já que Marco se recusava a aceitar o que tinham e ir em frente com isso. S...