FOME

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Acordei as 4:34 da manhã com o peito aberto, coloquei a mão por cima, não havia sangue. Dava para ver uma carne rosada e limpa que estava por dentro, uns fiapos dependurados de artéria. Acendi todas as luzes da casa, com medo de que alguém tivesse arrancado algo de dentro de mim, mas ainda estivesse lá, me observando na quietude.

Com a casa clara no meio do bairro que ainda dormia, sentei e observei o buraco aberto, tinha alguém na minha casa. Alguém com unhas grandes de metal me manteve dormindo enquanto dilacerava minha carne. O que fazer agora se meu peito já estava aberto?

De repente senti uma única gota brotando ali, ela escorreu até pingar. Era quase branco, quase transparente e quando tocou o chão pude ouvir o som das unhas de metal se arrastando, chegando cada vez mais perto. Corri para um gigante corredor, até trombar fortemente com a parede e cair no chão. Foi quando desisti, ali fechei os olhos para não ver a criatura, esperando que ela me tirasse a vida de uma vez. Porém, ela se ajoelhou do meu lado, arranhou meu rosto e segurou firme meus braços. Então lambeu o rastro daquela gota, sentiu seu cheiro profundamente e colocou sua boca gelada no ferimento. O líquido começou a se esvair e por vezes ouvia a respiração do bicho, o esforço para sugar e o suspiro ao sentir saciedade.

Alimentei-o por mais de duas horas, até perder a consciência. Quando abri os olhos novamente estava no quarto, logo olhei para meu seio, estava fechado e com quase tudo para dentro. Fui ao corredor e vi meu coração no chão, seco e fedendo. Um bilhete ao lado dizia "obrigada".

 Um bilhete ao lado dizia "obrigada"

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