Pain

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Notas Iniciais: Música do Capítulo: Freak On A Leash - Korn

Notas Iniciais: Música do Capítulo: Freak On A Leash - Korn

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"Can't I take away all this pain
(You wanna see the light?)
I try to every night all in vain, in vain"

   


 


   

     A garoa fria e insistente caia devagar, começando a encharcar meu cabelo enquanto eu caminhava para fora da escola, e por incrível que pareça dessa vez eu até a achava convidativa. Acendi um cigarro, tragando com força e sentindo a nicotina me deixar levemente tonto. 
    
    Quanto tempo será que levaria para eu ter um câncer?
    
    Durante todo o restante dos períodos o que Yugyeom havia dito continuou rodando de novo e de novo pela minha cabeça, eu havia cogitado em pedir mais detalhes, e eu até achava que seria muito fácil arrancar informações do garoto... Porém, por outro lado, não era exatamente de Yugyeom que eu queria ouvir sobre aquela história.
    
    Pensar em Kim Exemplar como um suposto assassino não parecia se encaixar, e mesmo com tudo de estranho que parecia cercar Taehyung, matar alguém não parecia estar no meio dessa lista.
    
    Ou talvez eu só estivesse errado. Isso acontecia com muita frequência...
    
    Continuei caminhando pela grama molhada, até que como magicamente meu olhar se cruzou ao alvo dos meus pensamentos, encostado casualmente em uma árvore logo em frente.
    
    — Então vai mesmo cumprir o acordo? — Perguntei sarcástico assim que me vi perto o suficiente do Kim.
    
    — Claro. — Retrucou indiferente, já ajeitando o capuz sobre os cabelos negros e começando a caminhar. — Anda logo.
    
    Segui o garoto, disfarçando muito bem a minha atual surpresa, eu nunca havia sequer cogitado que Kim iria acatar o pedido da sua mamãezinha.
    
    No estacionamento, ele andava rápido entre os carros, como se tudo o que mais quisesse fosse dar o fora daquele lugar, e eu até podia entender o sentimento, mas de alguma forma, Taehyung parecia inquieto além do normal.
    
    — Ei Kim?! — Ouvi uma voz masculina, Kim estacou na minha frente, mas em seguida voltou a andar com o dobro de velocidade. — Espera aí Viadinho!
    
    — Entra. — A ordem me fez estremecer e parar a tarefa involuntária de procurar quem estava aparentemente procurando o Kim. Meu cérebro deu uma pane momentânea e tudo o que fiz foi olhar para a porta do passageiro aberta. — Merda, entra logo. — Os dedos dele se fecharam no meu cotovelo e Kim praticamente me jogou no banco do passageiro, antes de dar a volta e entrar do lado esquerdo.
    
    De relance vi um vulto de cabelos alaranjados e estremeci, mas foi apenas um segundo antes do carro estar arrancando do estacionamento, passando em frente a outros carros e fazendo um som estridente de buzinas nos seguir.
   
     — O que foi aquilo? — Perguntei depois de cinco minutos de total silêncio e o painel onde marcava a velocidade apenas continuar subindo. — Que porra Kim, diminuí!
    
    — Não é da sua conta. — Ele rebateu como se estivéssemos falando sobre o tempo.
    
    — Desacelera essa droga! — Dei um soco no painel, mas aquele filho da puta continuou, apertando o volante até que os nós dos seus dedos se tornassem brancos.
    
    Contive um grunhido exasperado, e quando o carro continuou correndo, meu cérebro agiu antes de mim e antes que eu pensasse em me refrear as palavras já haviam saído, pairando no ar como facas afiadas.
   
     — Você matou alguém?
    
    O carro deu uma freada brusca. Fui jogado para a frente com o tranco e tremendo por inteiro. Soltei o ar de alívio ao notar que eu estava usando o cinto de segurança que nem lembrava de ter colocado. Virei o rosto encarando o Kim, ele olhava para frente, silencioso e imóvel.
    
    — Como... Merda... — Respirando fundo ele apertou ainda mais o volante. O ver ter reações diferentes me deixava ansioso e assustado... Eu não sabia o que esperar. — Onde ouviu isso? 
    
    — E isso importa? — Dei uma risada seca entrecortada, Kim ainda não havia me olhado, e isso de alguma forma fez meu pulso já acelerado pelo susto anterior subir. Senti como se minha cabeça estivesse rodando. — É verdade?
    
    Ele não respondeu. Taehyung simplesmente abriu a porta e saiu do carro, fiz o mesmo logo em seguida. Minha mente trabalhava rápido e desordenada, tentando encontrar um sentido e juntar pedaços desconexos de coisas que eu sequer sabia.
    
    — É por isso que todos estão sempre olhando para você daquele jeito, como uma espécie de bicho prestes a atacar?! — Kim deu um esgar. — Fala logo, o que dizem é verdade, você matou alguém? — Seus olhos se voltaram para mim, raiva pura parecia vazar pelas íris sem fundo.
  
    — Você acha que sabe de alguma coisa, Jeon? — Sibilou. — Não sabe de droga nenhuma.
    
    — Aparentemente, até agora a única coisa que eu sei é que você é um assassino. — Devolvi friamente e no segundo seguinte senti minhas costas batendo contra a lateral do carro. Taehyung me segurava pela blusa, a mão apertada em punho comprimindo o meu peito, seus olhos brilhando, grandes e escuros, revoltos como o oceano em meio a uma tempestade. Uma sensação de déjà vu me fez querer pedir desculpas de imediato ao me ver preso daquele jeito.
    
    Esperando um tapa que, com certeza, viria a seguir...
    
    Mas aqueles não eram os olhos cinzentos que eu já conhecia. Eu não tinha mais motivo para sentir medo... Mas de alguma forma doentia e distorcida era como se eu quisesse, como se alguma parte podre em mim esperasse ansiosa pela dor familiar que o dono do olhar cinza me trazia... 
    
    Sem ar e com minha cabeça rodando empurrei Kim para longe, dessa vez ele não ofereceu nenhuma resistência. Mordi a parte de dentro da minha bochecha sentindo vontade de vomitar.
    
    Taehyung fechou os olhos e deu mais um passo para trás, por um momento ele só parecia tão atordoado quanto eu, não acreditando que aquela situação estava acontecendo. Mas no seguinte a expressão dura voltou e ele entrou de volta no carro.
    
    Aspirei algumas golfadas de ar gelado, antes de também entrar. Taehyung deu a partida e voltou a dirigir com calma, mas tudo sem me olhar. E dessa vez não me importei, eu também achava que era melhor que nós dois mantivéssemos o máximo de distância possível.
    
    Eu queria ficar sozinho, e deixar que todas as lembranças correndo pela minha cabeça pudessem finalmente me comer por dentro.
    
    — Eu não matei ninguém. — Ouvi a voz dele sair, tão fraca e baixa que quase tive certeza que Taehyung estava dizendo isso para si próprio ao invés de para mim.
    
    E eu não sabia se acreditava. Como ele mesmo disse, eu não sabia de nada. E aquela era a mais absoluta verdade.
   
    O restante do caminho foi feito em silêncio. E quando vi a minha atual residência se aproximando, já destravei meu cinto querendo sair daquele carro o mais rápido possível.
    
    Mas Kim me bateu na velocidade, desligando o carro rápido e abrindo a porta com violência. Arqueei uma sobrancelha assistindo pelo vidro ele caminhar com passos rápidos e pesados em direção a dois caras parados ao lado de uma caminhonete vermelha, estacionada quase em frente a casa de Eunwoo.

Make Me BreathlessOnde histórias criam vida. Descubra agora