4 dias ilhados

O segundo dia (A briga)

Naquele ponto a comida já tava escassa, saímos de um hambúrguer pra apenas o pão do hambúrguer, não tinha o suficiente pra todos, então fazíamos o possível dividindo por quatro o que antes comíamos inteiro, ter só uma refeição por dia era horrível, mas era o menor dos problemas levando em conta toda a questão de ficar preso naquele hospital por tanto tempo, a gente já tinha perdido toda a noção de tempo, parece que aquele furacão nunca acabava ou a gente só tava sendo enganado esse tempo todo? Essa era uma das paranoias que não saia da minha cabeça, mas eu tinha que manter a postura já que quase tudo que acontecia ali eu tinha que lidar, era controlar a Selena pra não tentar matar a Cecília enquanto ela dormia por ter visto a Cecilia falando com o Dylan, era lidar com o surto das meninas por coisas insignificante.

- Nossa to a ponto de surtar com todo mundo, explodir esse hospital em pedacinhos - Desabafei com o Teddy, a gente tava no segundo andar do hospital, sentados perto de uma janela, que era quase impossível de enxergar algo lá fora, a gente observava aquela escuridão enquanto bebia uma coisa parecida com um café, mais ralo e sem gosto que tudo, mas com todos os acontecimentos aquilo nem importava.

- Calma amor, daqui a pouco a gente vai ta saindo daqui e vai ficar tudo bem, deita aqui mo - Falou o Teddy antes de me puxar pra perto dele me fazendo deitar a cabeça sobre seu colo, não era como se um cafuné fosse tirar a gente dali, tirar todo aquele estresse e caos, mas ainda sim era a melhor coisa no meu dia.

Enquanto estávamos ali curtindo um pouco de paz, fomos logo interrompidos por um alarme, era o novo sistema que o Lozo tinha criado pra informar que era a hora da nossa refeição, há alguns dias atrás a hora da refeição era algo que me animava muito, mas lembrar que agora era só um misero pedaço de pão que quase sumia na minha mão, me desanimava. Depois do Teddy insistir que eu tinha que me alimentar pra conseguir me manter ali, eu resolvi ir, a fila era separada entre homens e mulheres, mas o Teddy ficou ao meu lado na fila, ele disse que não ia pegar o seu pedaço agora. Assim que peguei o meu pedaço nós fomos até onde as meninas e os meninos estavam, quando eu terminei de comer o Teddy se levantou e disse que já voltaria, fiquei esperando por cerca de 5 minutos, eu sentia minha barriga roncar de fome, aquele pedacinho de pão não ia me manter.

Quando o Teddy voltou pra sala que estávamos eu vi que ele tinha um pedaço de pão nas mãos, ele se sentou ao meu lado e me ofereceu aquele pão.

- Que isso? - Falei enquanto salivava pra comer aquilo.

- Pega amor, eu consegui mais um pedaço pra você, sei que você ta faminta - Ele me entregou aquele pão com um sorriso no rosto, fiquei muito feliz em saber que teria algo a mais pra comer, mas logo aquela atitude virou uma briga sobre como o Teddy tinha ganhado outro pedaço sendo que eles tinham que dividir aquele minúsculo pão, briga que foi interrompida pelos berros da Selena.

Todos se levantaram e foram em direção aos gritos pra entender o que tava acontecendo, aproveitei pra ir comendo meu pão, não ia desperdiçar aquele pouco de alimento que ainda tinha, chegamos até a parte das macas e vimos a Selena aos berros com a Cecília, pelo que eu tinha entendido a Cecília tava conversando com o Dylan e a Selena viu tudo e surtou.

- Selena, parou, vai pra lá, ninguém vai brigar aqui não, ta maluca? - Falei enquanto pedia pra algum dos meninos tirar a Selena dali, eu não ia deixar ninguém brigar ali no hospital e no meio de um quase fim do mundo.

- Mas Cristal, essa aí tava dando em cima do Dylan!!! - Selena falava tentando voltar pra frente da Cecília.

- Selena, eu já avisei, se você desobedecer minha ordem você vai arcar com as consequências - Falei enquanto mandava alguém dispersar aquela briga.

- E Dylan, amanhã a gente vai conversar - Depois disso sai daquela sala pra não me estressar mais com tudo aquilo.

Era 7 da noite, graças a Deus a gente ainda tinha um relógio pra não se perder tanto no tempo, o que não mudava tanto nossa situação. Em outras circunstâncias eu jamais iria dormir às 7 da noite, mas dado tudo que tinha acontecido eu já tava morta de cansaço, parece que ficar presa à uma situação que foge do nosso controle deixa tudo mais pesado, fui até as meninas e dei boa noite, então Teddy e eu fomos até nosso cantinho, aquela parte do segundo andar que eu tinha encontrado o Teddy no primeiro dia, era o melhor lugar do hospital, silêncio, paz e carinho do Teddy, depois de desabafar um pouco com ele nós finalmente nos ajeitamos pra dormir, depois de um dia cheio como foi hoje, nada melhor do que descansar.

Quando eu tava quase pegando no sono eu ouvi a barriga do Teddy roncar, então puxei na memória e lembrei que o dia todo em que eu estava com ele, eu ouvi a barriga dele roncar e então eu entendi tudo, ele não tinha conseguido um outro pedaço de pão pra mim, mas sim tinha me dado o seu pedaço de pão, ficando sem, até ia reclamar com ele sobre isso, afinal todos nos deveríamos comer o pouco que tínhamos, mas ele já tava dormindo e resolvi deixar isso baixo.

Continua.....