Prelúdio - O brilho inextinguível dos sonhos de um homem

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Naquela tarde, dois irmãos conversavam sob uma ponte pouco movimentada. Com os braços apoiados na barra de proteção da ponte, conversavam sobre seus sonhos e o rumo de suas vidas.

Aquele era um lugar que com frequência visitavam. Era o ponto de encontro dos dois desde que começaram a morar em casas diferentes. Seus olhares estavam voltados para o céu enquanto o mais velho dizia ao mais novo palavras acalentadoras e reconfortantes. O caçula se chamava Charlles, que atentamente ouvia cada palavra à medida que tentava mudar a sua percepção de si mesmo. Mas mudar aquilo era como querer mudar aquele sol de 24 horas de brilho infinito que acobertava a existência de todas as estrelas. Seu irmão mais velho era um vencedor, que por tamanhas façanhas tornou-se um sol ofuscante para a estrela que ele era.

Mesmo com aquele rastro de inveja que fazia Charlles se sentir ainda mais inferior, ele amava seu irmão de todo seu coração e admirava sua carreira brilhante. Admirava a incrível jornada de um homem que venceu todas as dificuldades para realizar o sonho da criança que outrora foste.

 - Eu vou ser que nem você um dia.

Ao ouvir aquelas palavras, o irmão mais velho voltou sua feição para Charlles e o observou por uns instantes. Ele notou aqueles olhos que brilhavam como se fossem reflexos de estrelas, mesmo em um céu sem tais corpos celestes. Ele percebeu o quão importante aquilo era para seu irmãozinho. Percebeu o quão sério ele estava falando. Então ele fechou seus punhos e deu o soco de sempre, batendo com a contra palma, no ombro de Charlles.

 - Não seja idiota Charlles. Um dia, você vai ser tão incrível quanto eu, e vai conseguir isso sendo você mesmo. - Espetou o dedo indicador no peito do caçula. - Você sempre me supera sendo exatamente quem você é.

Tais palavras ainda mantinham seu irmão cabisbaixo. Era como se o garoto não acreditasse mais em palavras gentis. Detalhes não passavam despercebidos nos olhos do incrível irmão mais velho, que ao notar que suas palavras não chegaram ao coração do irmão, tomou uma nova atitude: pegou-o pelos ombros e o sacudiu violentamente.

- ACORDA CARA, ACORDA! - Disse em alto tom de voz. - Eu sou três anos mais velhos que você. Tô a três anos na sua frente. Três anos atrás eu estava na lama e olha pra mim agora. E não foram só três anos, foi uma vida toda. Mesmo que você não consiga atingir seus objetivos nos próximos três anos, você ainda vai ter todo o resto da sua vida pra chegar lá.

- Mas eu não sou forte como voc---

- Não Charlles, você não tá me ouvindo. Você não tem que ser forte como eu, você tem que ser forte como você mesmo, mano. Nós dois viemos da mesma mãe e pai, nós dois fomos criados e educados juntos. Passamos por muitas situações iguais porque estávamos juntos. Podemos até mesmo ter um sonho em comum, mas isso não quer dizer de jeito algum que somos parecidos Charlles. Isso também não quer dizer que tudo vai acontecer da mesma forma para você. A sua força sempre vai ser diferente da minha, assim como o seu modo de agir e pensar. É como eu costumo te dizer: a gente só existe uma vez. - Lançou um gentil sorriso. - E não existe razão alguma para você querer ser exatamente como eu sou, porque dessa forma você vai estar perdendo sua identidade e, consequentemente, o seu brilho nunca vai ser notado.

Naquele dia, ouvir aquelas palavras mudariam Charlles. Seus pensamentos se alinharam e ele pode perceber uma luz de esperança surgindo a sua frente.

- E mais uma coisa Charlles: Fico feliz em ser admirado por alguém que tanto me importo, mas conquiste as suas coisas do seu jeito e você vai chegar lá.

- Você... acha mesmo que eu consigo?

- Você já esqueceu o que eu falei? Eu tenho certeza que você consegue.

Eles observaram mais uma vez aquele céu, que nunca mudou desde que eram crianças. O olhar de cada um era profundo para aquela visão. Ver o sol no céu todos os dias alimentava o sentimento de fuga. Para o mais novo, haviam motivos para que aquilo contribuísse com para a desistência de seu sonho, enquanto para o mais velho, se ver preso a mesma paisagem era o que os impulsionava a ir além.

- Embora o sol encubra as estrelas, várias pessoas apagariam o brilho dele apenas para ver o céu estrelado. Nós todos somos estrelas, Charlles, desvalorizados pelo tempo e apreciados por quem nos perde de vista.

Há muitos anos atrás, o dia e a noite deixaram oficialmente de existir. O mundo não parava por 24 horas. O tempo era individualmente dividido. O breu da noite já não era visto há centenas de anos, com exceções dos apagões que aconteciam no início do sistema. As estrelas podiam ser vistas em livros de história e planetários. O mundo se acostumou aquela realidade, porém, certas pessoas nascem com ambições de alcançar objetivos inalcançáveis, embora simples, como conhecer a escuridão da natureza e todas as suas maravilhas.

- Eu gostaria de ver a noite natural um dia. - Expirou. - Queria ver a luz da lua. - Apoiou o queixo em sua mão, que apertava as bochechas contra seus dedos, como se fosse uma criança inocente.

- Isso é o que dizemos um pro outro desde sempre. Lembra da primeira vez que juramos ver os céus quando éramos crianças, naquela floresta?

- Nunca vou esquecer...

- Hm, são 8 da "noite". Devíamos estar sobre a luz das estrelas agora.

Àquela hora já não se podia ver o sol, mas sua luz não desaparecia.

- Devíamos estar apreciando a luz do luar.

- Ah, e como ela é linda. - Se empolgou. - Ela é tão mais incrível quando se vê pessoalmente do que ver em qualquer vídeo ou simulador que exista. Nada se compara, nada é mais belo do que a noite natural.

- Você tá indo ver ela pessoalmente mais uma vez amanhã.

- É. Sim. Tô animado. Diria que é algo impossível enjoar. Ir pro espaço... não tenho palavras que descrevam.

Eles riram. Após uma pausa silenciosa, Charlles criou coragem o suficiente para pedir um favor.

- Você poderia jogar esse colar em Marte por mim?

- Ah, não. - Respondeu de imediato, sem pensar muito. - Jogue você mesmo quando sua vez de ir pra Marte chegar. - E ele mais uma vez sorriu para seu irmão.

Charlles não queria perder aquela oportunidade.

- Por favor, eu imploro. - O jovem estava meio cabisbaixo com a reação negativa do irmão.

- Mas porquê?

- É que... eu quero que algo meu esteja lá para sempre.

Nesse momento, o olhar do irmão mais velho cedeu ao pedido.

- Uh... Tá bom. - Ele encontrou uma maneira de incentivar seu irmão daquela forma. - No entanto, eu vou fazer isso com um intuito diferente do seu: jogarei este colar em Marte, com a condição de que você me prometa ir lá um dia pega-lo de volta.

O brilho dos sonhos daqueles irmãos brilhava fortemente em seus olhos. Um brilho inextinguível que poderia ser confundido com uma estrela, se vistos de cima.

- Eu vou buscar sim... - Apertou a mão do irmão mais velho, aquele que sempre o incentivava e que dele cuidara com mais importância do que cuidou de si mesmo. Era um aperto de mão forte, carregado de significados que firmava a dedicação em prol da realização de um sonho. - Eu prometo que trarei o colar de volta.

Aquela foi a última promessa entre os dois irmãos. Da mesma forma, foi a última vez que se viram. 

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