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Dylan estava dormindo em sua cabine quando a nave foi atingida e acordou no exato momento em que ela estava em queda. Era um sonho ou não? A resposta veio quando a nave se chocou contra o solo marciano, arremessando Dylan de um lado para o outro. Assim ele volta a dormir. Um tranquilo sono em uma nave quase totalmente soterrada em solo de outro planeta. Tudo lá está quieto. Nem mesmo o som da poeira ventando é escutado.

- AAARRRRRR.

O silêncio é rompido quando Dylan recobra sua consciência e tenta pegar ar, algo que ali não existe. Com instintos naturais humanos, ele rapidamente consegue perceber que a nave havia caído de lado, enterrando sua parte esquerda por inteiro no chão. Ele percebe isso da pior forma que se poderia: Ao olhar para cima, vê a porta de saída de seu quarto. Sentindo dores no corpo todo e coberto por feridas, literalmente suportando o insuportável, Dylan levanta com dificuldade e digita o código de sua porta. Para sua sorte, o sistema ainda estava funcionando, caso contrário teria morrido ali mesmo, tentando abri-la. Mas para seu azar, algo que já era de seu conhecimento entra em seu caminho: O caminho. Para Dylan sair de sua cabine era fácil, pois haviam alguns lugares em que seria possível se apoiar e ultrapassar a porta. Mas havia o corredor que ligava a sala ao quarto, e para sair daquele corredor era necessário um salto maior do que ele poderia dar e suportar, já que estava completamente sem fôlego, algo que nunca teve de passar em seus treinos.

Entre ter acordado e abrir a porta foram gastos 17 segundos, mais do que tempo suficiente para entrar em pânico. Quando criança, Dylan escalava lugares estreitos usando suas pernas, forçando-as contra as paredes. Era uma subida devagar, mas ele alcançava o lugar que queria, que normalmente era o telhado da casa de seus pais. Dessa vez ele também queria escalar e chegar lá em cima. Ele tinha que tentar. Não havia outra opção. Então Dylan, apoiado sob uma estante embutida na parede, põe o máximo de força que consegue e logo de primeira falha pateticamente, despencando de lá. No chão, ele já não consegue mais levantar. Seu limite havia passado do limite. Sua fuga havia se tornado inviável devido as suas atuais condições. Deitado e assustado, Dylan só consegue abrir a boca, com esperança de que existisse oxigênio ali. Ele começa a se mexer de um lado para o outro, fechando a mão e recolhendo seu corpo. À medida que milésimos passam, mais agitado ficam seus movimentos. E assim é pelos próximos 5,4 segundos, onde ele começa a se mover lentamente. Com os olhos arregalados olhando aquela passagem, pensava: "Que maldita passagem! Por que a nave não caiu para o outro lado? Por que? Eu estaria bem agora. Porra.". Os pensamentos ilustravam-no uma saída daquele lugar, mas seus olhos, mesmo abertos, mostravam aquela passagem se apagando, fechando-se pouco-a-pouco, ainda que ela estivesse aberta. Enquanto isso, todos que estavam na sala começaram a acordar desesperadamente.

Ao acordar sem fôlego, a primeira coisa a passar na cabeça de Bryan é que seu irmão precisa dele. Como a nave era pequena, era impossível não achar as máscaras conversoras de gás. O trabalho de Bryan foi mais simplificado porque as máscaras se encontravam espalhadas pelo piso. Com o impacto com o solo todas elas saíram de seus compartimentos que ficavam ali mesmo na sala. Ele pegou uma delas e torceu para que fosse a certa. A máscara nomeada de P.Ê.M.(Projeto Êxodo para Marte) por Carlson Jeorg, desenvolvida pela sua aclamada equipe de cientistas no ano 2238, era capaz de converter o dióxido de carbono em gás oxigênio, e tornava possível respirar por todo o tempo em que estivessem em Marte sem se preocupar com o ar. A máscara também era chamada ou apelidada por outros nomes conforme as novas versões chegavam. A usada nessa viagem era a mais aprimorada, feita com material mais difícil de quebrar, era desenvolvida conforme o rosto do usuário e conseguia ser visualmente agradável, que nem sempre foi um dos seus pontos positivos: a P17. Além da conversão, ela era um belo capacete e exalava um gás quente quando a conversão se iniciava pela primeira vez. O lado negativo da máscara era seu alto preço, o que limitava as viagens a ter somente uma máscara para cada tripulante, com o objetivo de cortar custos. Bryan então foi até a porta que conectava ao quarto do seu irmão. Ao olhar, viu Dylan deitado ao chão com seus olhos revirando-se para cima. Bryan desesperou-se e logo pulou com uma P17 em mãos. Rapidamente a máscara foi inserida no rosto do seu irmão mais novo. Ela encaixou perfeitamente. Para ela ser ativada bastava que Dylan respirasse, e isso aconteceu de imediato. A máscara soltou o gás quente e uma vez mais, Dylan puxou ar com toda sua força.

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