Parte 3

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5.

      No dia seguinte, eu estava muito animada. Era dia de excursão no curso que estudava. Estávamos todos indo visitar os pontos turísticos mais famosos de Dublin. Fomos em um pequeno ônibus de viagem.

      Sentei ao lado de Karina, uma amiga da Carol e do Pedro. Ela não parava de tagarelar sobre como ia tirar muitas fotos e postar no instagram. Fiquei animada também. Ainda não tinha tido tempo de conhecer nada, então estava louca para tirar boas fotos.

      Primeiro fomos ao Temple Bar. O famoso pub vermelhinho de Dublin. Eu e Karina tiramos algumas fotos uma da outra. No entanto, ela queria uma com as duas.

— Excuse me. (Licença) — Ela disse para primeira pessoa que viu passando, que era Félix. — Can you take a picture? (Você pode tirar uma foto?)

— Ele fala português. — Acrescentei.

— Ah, tá.

      Félix tirou várias fotos para nós e acabou virando o fotógrafo oficial, já que sempre queríamos tirar em grupo e ele mandava muito bem.

— Você não vai tirar nenhuma sua? — Perguntei.

— Eu não gosto muito de tirar fotos minhas. Gosto de tirar dos lugares.

— Ah, entendi.

      O próximo destino foi a Trinity College. Era muito incrível lá dentro. Félix e eu ficamos fascinados com a biblioteca. Que lindo! O cheiro de livros antigos sempre me maravilhou. Ficamos pesquisando o que tinha e mostrando títulos um para o outro. Tirei uma selfie nossa enquanto ele segurava uma edição de capa dura do Moby Dick.

— Um gato como você não deveria evitar tirar fotos.

— O que é gato?

— Nada.

      Logo após fomos ao Phoenix Park. Lá você consegue ver cervos. É muito lindo. Eu e meus amigos brasileiros ficamos fascinados com os bichinhos. Tiramos várias fotos. Sentamos na grama para comer um lanche. Apesar de estar ensolarado, estava muito frio.

— Aquele menino, o Félix, ele é seu colega de quarto? — Perguntou Karina.

— Sim.

— Muito gatinho.

— É. Ele é.

— Mas o Pedro acha que ele é gay. — Carol adicionou.

— Por quê? — Perguntei, olhando para Pedro.

— Não sei. Nunca vi ele com nenhuma menina.

— Ah, mas alemão deve ser diferente de brasileiro. Não sai pegando geral. — Eu disse.

      Fiquei pensando no que Pedro disse. Não que importasse. Mas eu sentia que ele tinha flertando comigo todo esse tempo. Talvez eu estivesse errada.

      Na volta Karina estava sentada com outra menina brasileira no ônibus, então tive que procurar outro lugar. Félix estava sozinho. Sentei ao seu lado. Ele olhou para mim e sorriu.

— Sabe... Você também é uma gata. — Corei, rindo suavemente, pensando em como Pedro estava errado.


6.

      Alguns dias depois, descobri um restaurante alemão que precisava de garçonete. Eles pagavam bem mais do que o meu outro emprego. Após uma entrevista com o gerente, fui contratada. No entanto, ele me pediu que eu aprendesse um pouco da língua. Pelo menos o básico, já que tinham muitos clientes alemães.

      Tentei aprender com um aplicativo chamado Duolingo. Estava fazendo uma aula, repetindo as palavras, quando Félix entrou no quarto.

— Isso é alemão?

— Sim, tenho que aprender para o meu novo emprego.

— Posso te ensinar.

— Obrigada, mas não precisa. Esse aplicativo é bom.

— Não tem problema. Eu sou ótimo professor. — Ele disse sorrindo e não consegui deixar ter pensamentos impuros com essa afirmação.

— Tá, mas sou realmente péssima. Fico com vergonha.

— Não tem problema. Demorei muito para aprender português e inglês. Normal.

      Sentamos juntos na cama e ele pegou um caderno em que escreveu algumas expressões básicas. Félix repetia as palavras devagar e era fofo demais, sua pronúncia perfeita em alemão. Eu tentava, mas com muita dificuldade, porque sempre achei uma língua complicada. Nossas mãos se tocavam às vezes e eu não conseguia parar de tremer, sentindo a proximidade de seu corpo.

— Você é muito boa. Que mentirosa.

— Sou nada. Você está sendo bonzinho comigo.

— Não tô, juro.

— Acho uma língua tão linda. Não sei porque dizem que é feia.

— É que a pronúncia é muito diferente, mas também acho linda. É a língua que eu penso. Geralmente. Então é muito estranho não poder expressar o que quero às vezes. Por não ter uma tradução.

— Sim. Eu também sinto isso com o português. Mas o seu português é perfeito.

— Melhorou muito mesmo. Só ainda esqueço algumas palavras.

— Tem alguma palavra ou gíria que você goste em alemão?

— Schöne.

— O que significa?

— Nada. — Ele disse parecendo sem graça.

      Na hora entendi que significava a palavra nada. Contudo, depois que inferi que ele não quis me dizer e fui pesquisar online. Após certa dificuldade, já que eu não tinha ideia de como escrevia a palavra, descobri. Fiquei sorrindo, boba, encarando a tela do celular que dizia: bela.


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