Preciso de um cigarro

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— O que você acha que significa "você terá desejo de estar com o seu marido, e ele a dominará"?

— Eu não sei. O que você acha que significa?

— Não sei, mas talvez seja por isso que as vezes depois do sexo me sinto usada mesmo sentindo tesão.

— Isso é frequente?

— Não é. Com o Adam poucas vezes, mas antes dele era muito frequente.

— Mesmo com a mulher que você me falou?

— Não. É aí onde eu queria chegar, como será que era feito o sexo antes da Eva comer a fruta? E hoje em dia é muito possível sentir todo prazer do sexo sem que necessariamente seja um homem dando, será que houve falha no castigo ou os prazeres do mundo são tão libertinos que o superaram?

— Eu não sei te dizer Anne, mas fico feliz que esteja pensando nisso como algo possível de superar. Vejo que seu humor hoje está muito melhor.

— Obrigada por notar Dr. Philip. — agradeceu Anne sorrindo

— A que se deve?

— Lembra da mulher que te falei?

— Claro que sim, como a chamaremos hoje?

— Vamos tentar Elisa... Elisabeth.

— É um nome bonito. — falou o psicólogo anotando mais um nome no seu caderno — Prossiga.

— Enviei um presente para ela, na verdade faço isso todos os anos e neste fiz mais cedo.

— Certo, o que continha a caixa?

— Meu perfume, um lenço de Hermes, um cd e um bilhete. Mas como sabe que é uma caixa?

— Apenas cogitei por ser comum ver entregadores com caixas. — Philip precisou se concentrar para não confundir as palavras das suas pacientes

— Isso é verdade. — Anne convenceu-se concedendo um suspiro de alívio ao psicólogo

— O que estava escrito no bilhete?

— "Para a mulher mais linda que eu já conheci", eu sei o quão clichê isso é mas saiba que é difícil dizer algo a aquela mulher que ela já não tenha escutado.

— Pelo que me diz, este não foi assinado, como ela saberá que é seu?

— Confia em mim Dr. Philip, ela sabe. Já passam três anos e ela nunca me impediu.

— Qual é o seu objetivo com os presentes?

— Uma promessa que fiz e só estou cumprindo. Eu a vi a três anos quando ela gravava com uma amiga e ela estava rindo e cantando, foi como a primeira vez que a vi, não pude evitar e tive essa ideia de enviar caixas com um pouco de mim no dia do seu aniversário. E outra coisa eu não quero que ela me esqueça.

Anne era mais uma paciente satisfeita com os serviços do Dr. Philip, esta recebia o seu atendimento no consultório e suas sessões eram sempre quando era possível ceder a sua agenda de trabalho e já passava mais de um ano.

— E como tem lidado com isso? Sente alguma ansiedade ou vontade de beber?

— Enviei a duas semanas e desde então ainda não bebi nada de álcool. Vinhos para temperar comida não contam nem?

— Na dose certa eles não contam. Agora, podemos continuar de onde paramos, sobre seu marido.

— Confesso que em algumas coisas ela tinha razão, lembro dela dizer que pessoas como nós costumam ter parceiros maravilhosos que dariam tudo por nós, por um tempo achei pouco provável, quando senti que morreria por alguém que não morreria por mim isso é tão exaustivo e eu como qualquer pessoa, não queria morrer sozinha mesmo sabendo que esse sentimento que tenho por ela não ia simplesmente desaparecer eu olhei para o Adam e informei que ele iria casar comigo, eu estava bêbada mas deu certo.

— O que quis dizer com "pessoas como nós"?

— Eu não tenho certeza, talvez estivesse falando de pessoas covardes ou bissexuais ou atrizes... é um mar de possibilidades.

— O que você faria se ela pedisse perdão, quisesse ficar contigo e dissesse tudo o que sempre quis ouvir? — os olhos da Anne foram abertos com entusiasmo

— Não sei. Eu não sou completamente inocente nisso, e talvez eu a entenda melhor agora, tenho dois filhos, um marido maravilhoso uma carreira em alta, porquê estragar isso? — seu olhar perdido demonstrava quão triste estava ao dizer tais palavras

— Então porquê não quer que ela te esqueça Anne?

— Porque eu não a esqueci. Eu penso nela como meu limite. Imagino que quando eu estiver na beira do abismo a única pessoa que poderá me fazer dar um passo atrás será ela. Sou tola pois ainda acredito que ela estará lá para me salvar. — lágrimas brotaram dos seus olhos e tentou em vão impedi-los de cair — Eu sempre volto para falar dela nem, da próxima me mande calar.

— Só para terminar, você acredita que você e ela teriam dado certo?

— Só sei que preciso de um cigarro! — respondeu minutos depois de refletir

— Mas você não fuma Anne. — Anne não viu um sorriso do psicólogo enquanto respondia a já ensaiada frase

— Exactamente por isso. — disse hesitante depois de lembrar que as vezes fumava escondido

Entre Meryl e Miranda (Mirandy)Onde histórias criam vida. Descubra agora