6: too much

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Scorpius sabia que Rose não estava numa fase favorável para qualquer outro tipo de emoção além de tristeza. Havia perdido o pai, o trabalho não ia bem, Hugo precisava dela, ainda mais por estarem longe. De acordo com o enredo problemático de sua própria vida, tinha consciência de que algumas feridas demandam tempo. Muito tempo. E ele não tinha pressa para que ela se sentisse inteira outra vez, porque talvez esse tempo nunca chegasse; para ele, não chegou.

Uma das explicações que achou para todo aquele turbilhão era a mais básica de todas: procurava uma versão conhecida nas ruas do acaso para que fosse surpreendido por uma história revista diversas vezes. Talvez fizesse sentido, mas ainda assim não resolvia nada. O amor era insolúvel, por fim.

— Como foi o encontro com a Ivy? — Albus perguntou quando o viu atravessar a porta do apartamento com pressa. Seguindo-o pelo corredor estreito, teve sua resposta ao vê-lo ajoelhado ao vaso sanitário, vomitando das tripas ao coração.

— Eu preciso de um tempo — disse apoiado nas beiradas, tentando respirar fundo. — Sem ninguém.

Apesar de Albus achar que seria apenas uma forma de se esquivar de qualquer estímulo aversivo, deu o apoio moral que o amigo precisava. Deixar as memórias do seu relacionamento com Penelope esfriar era um passo tão importante quanto deixar suas idealizações sobre Rose pausadas em algum lugar de sua mente.

Surpreendentemente, Scorpius conseguiu. Por poucos dias, mas conseguiu. Focou nos problemas da empresa de seu pai, voltou a frequentar os jogos de vôlei no sábado e assistiu alguns episódios de uma série russa de ficção científica. Tudo ia bem, numa calmaria que há tempos não sentia, mesmo com o coração surrado deixando escapar murmúrios agonizantes de vez em quando. Sentia saudade de Rose, sentia a tristeza de uma história que não pôde desenrolar. Mais triste do que estar longe dela, era pensar que não seriam mais do que uma história curta, de um capítulo, que teve um final aberto definido. Tudo poderia acontecer, exceto o que ele desejava.

E antes que ele pudesse se martirizar pensando que queria demais, a realidade chegava como um baque diante dos olhos aparentemente focados na televisão. Ele não falou demais, não agiu demais, não fez nada demais; Rose simplesmente passou pela sua vida, como uma chuva de verão, e ele não fez nada para mantê-la porque achava que seria demais. Sentado no sofá, numa noite de sábado, só queria ter a oportunidade de falar pelo menos metade do que nunca seria demais. 

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