5 - Futuro Incerto

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Brittany POV

- Você tem certeza Brittany? - Pergunta o homem de meia idade a minha frente, me fazendo respirar fundo e olhar para janela atrás de seu corpo, observando a paisagem que se resume a flocos de neve caindo.

- Sim. - Respondo simples, o homem apenas acena com a cabeça e então diz que providenciará todos os preparativos para minha viagem de volta à Londres, saio de sua sala sentindo meu coração pesado, ao pensar que acabei de selar um destino que me separará de Santana por tempo indeterminado, talvez para sempre.

É provável que você está me chamando de louca ao fazer isso. Como alguém pode encontrar um amor como o que eu encontrei nessa terra e simplesmente decidir andar para longe disso?

O problema é, o amor não foi a única coisa que eu encontrei nos EUA. Eu também descobri uma Brittany completamente diferente, tive uma experiência em que passei a conhecer a mim mesma como nunca havia sido capaz em longos 19 anos. E o melhor de tudo, eu passei a amar a pessoa que eu conheci.

Sabe aqueles dias em que você se olha no espelho e pode se sentir um pouco orgulhosa da pessoa que te olha de volta? Foi isso que eu ganhei aqui. Se antes eu vivia me escondendo pelas sombras, sem poder aceitar quem realmente era, hoje eu posso olhar o meu reflexo e sorrir para mim mesma.

Posso me encarar e dizer: Brittany, você é lésbica. Sem me sentir imunda, sem me sentir errada. Apenas me sentindo eu pela primeira vez. Eu nunca poderei explicar o quanto essa é uma experiência poderosa.

E demorou para chegar até aqui, demorou para que a ideia ultrapassasse as teias da minha mente antiquada e se instalasse no meu coração, criando raízes mais profundas do que qualquer outra coisa. Foi um caminho tortuoso, noites passadas em claro, mas tudo valeu a pena. Porque além de aceitar a mim mesma, eu dei a oportunidade de viver um amor sem igual.

É por ter me encontrado é que não posso continuar aqui, não posso prosseguir vivendo na pele de uma pessoa que já não mais me representa, vivendo uma vida que não é minha, me sentindo sufocada o tempo todo. E é isso que esse seminário representa.

Ficar nos EUA nesse momento significaria que todo o progresso que eu fiz em todos esses meses foi em vão, jogados no lixo. Significaria que mesmo que eu sentisse orgulho da pessoa que me encara de volta no espelho, ela não sentiria orgulho de mim.

Essa não é uma decisão fácil de se tomar. Por ela, e unicamente por ela. Apenas de pensar que perderei Santana dali há uma semana, que não terei seus olhares escondidos, seus sorrisos tímidos, sua pose provocante, um pouco mais dos raros beijos que trocamos, seu perfume preenchendo meus pulmões ... me faz morrer um pouco.

Porém, se eu ficasse eu não estaria sendo honesta com ela, nós viveríamos por tempo indeterminado na clandestinidade, pois vivemos em um círculo de pessoas que não está preparado para nos aceitar como nós fizemos. Viveríamos com medo de ser descobertas, Santana passaria noites em claro temendo que eu fosse levada a força dela, sei que nesse momento ir embora parece o mesmo que isso, mas tenho certeza que ela sabe que não é.

E é exatamente isso que ela me disse quando conversamos pelo telefone naquela noite, enquanto eu sinto pela última vez o vento cortante do horário congelando minha pele enquanto conversamos. Pelo seu tom eu sei que ela está triste, por saber o que isso significa, mas nós adiamos falar sobre coisas ruins, e ela se esforça mais do que tudo para manter-se feliz, orgulhosa de minha decisão.

Principalmente quando eu digo que assim que pisar em Londres a vida dentro da igreja estará no passado. Não me leve a mal, eu não tenho nada contra isso, inclusive minha saída não significa que eu deixarei acreditar em Deus. Não.

The Seminarian BrittanaOnde histórias criam vida. Descubra agora